Quinta-feira, 16 de outubro de 2025 - 14h59
Entre os
dias 23 e 28 de outubro, o artista visual Jorge Feitosa apresentará em
Paris a exposição inédita Viagem: Matéria, Rito e Memória Ancestral
no espaço pop-up da Bianca Boeckel Galeria instalado, pelo segundo ano
consecutivo, no 38 Rue des Gravilliers, no Marais, bairro que concentra
galerias, museus e a efervescência da cena artística parisiense. Primeira
individual do artista rondoniense na capital francesa, a mostra reúne 22
trabalhos produzidos entre 2012 e 2025, incluindo uma série inédita de
pinturas, fotoperformances, esculturas e um objeto.
A
exposição, que também inclui projeções de performances registradas em vídeo por
Feitosa entre 2012 e 2013, propõe um gesto de inversão histórica: se no século
XIX artistas e naturalistas europeus cruzavam o Atlântico em busca da imagem
exótica de um “Novo Mundo”, o artista faz o caminho oposto e apresenta ao
público reflexões sobre identidade amazônica, memória ancestral e
sustentabilidade. Em suas pinturas, por exemplo, Feitosa substitui a tinta
industrial por substratos de argila retirados do Rio Madeira, em Porto Velho
(RO), sua terra natal. Escolha que, para além do propósito formal e pictórico,
envolve decisões políticas, espirituais e afetivas.
“A cor
terrosa que domina a maior parte de minhas obras carrega o peso literal e
simbólico da terra. Um gesto de pertencimento e denúncia que reafirma a
inseparabilidade entre corpo, território e memória”, explica Feitosa.
Nas
fotoperformances produzidas em 2017 a territorialidade também se manifesta por
meio de seu corpo. Coberto de argila e adornado com penas, espinhas e escamas,
o artista realiza uma fusão literal entre o humano e o natural. Um gesto
performático que adquire a dimensão de rito, instaurando experiências de
simbiose e transmutação.
As
contradições entre natureza e civilização, riqueza e descarte também estão
evidentes em suas esculturas. Em uma das obras em destaque na mostra parisiense
que integra a série Kintsugi (2024), fragmentos de ossos de peixes
amazônicos são recobertos por folhas de ouro, tensionando o valor simbólico e
econômico da matéria a partir da inspiração na técnica japonesa de restauro de
cerâmicas quebradas com o uso de metais preciosos, processo que valoriza as cicatrizes
como parte das história dos objetos, fazendo com que restos e fragmentos se
transformem em permanência e encontrem novas formas e sentidos.
“As
esculturas da série Kintsugi dialogam com a memória do garimpo no Rio
Madeira na década de 1980, quando o ouro brilhava em dentes e vitrines,
enquanto a extração devastava o ambiente e ameaçava populações ribeirinhas que
dependiam do peixe para sobreviver. Entre memória, perda e reinvenção, as obras
refletem sobre o que se rompe, o que permanece e o que pode renascer”, explica
Feitosa.
Em outro
trabalho – único objeto que compõe a mostra – o artista enquadra uma antiga
cédula de mil cruzeiros com a imagem do explorador Cândido Rondon ladeada com a
representação idealizada de um casal indígena Karajá. O contraste entre as
figuras, um “herói nacional” e seus semelhantes folclorizados, expõe distorções
da narrativa histórica oficial. O dinheiro, propõe Feitosa, torna-se um espelho
incômodo das hierarquias de memória e esquecimento.
Eixo
fundamental de concepção da mostra, o artista pretende que Viagem: Matéria,
Rito e Memória Ancestral seja um convite ao público para uma jornada de
introspecção e reflexões sobre confrontos éticos globais que, superados,
possibilitem novas formas de se relacionar com a natureza, fazendo com que o
legado controverso de antigos viajantes possa se transformar em um apelo
contemporâneo por um olhar mais consciente e respeitoso sobre o Brasil e seus
povos originários.
“Creio que a unidade do conjunto de obras dessa exposição, que reúne mais de uma década de criações, se estabelece por conexões temáticas, por meio de assuntos que norteiam minha trajetória, sobretudo a questão da imagem, da ancestralidade e de uma materialidade muito ligada à Amazônia e minha relação com o Rio Madeira, a fauna e a flora de Rondônia. Independentemente do suporte, essas temáticas estão sempre presentes no meu trabalho”, conclui Feitosa.
SOBRE JORGE FEITOSA
Jorge Feitosa nasceu em 1969 na cidade de Porto Velho, capital de Rondônia. Filho de pai marceneiro e mãe costureira, aos 17 anos veio para São Paulo morar com sua irmã mais velha. Em 2009 obteve formação livre em fotografia pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), onde atuou junto a um coletivo de fotógrafos no livro Luz Marginal Procura Corpo Vago, e em 2013 se graduou em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Utiliza como linguagens a performance, a fotografia e o vídeo. Sua pesquisa trata de questões ligadas à identidade, deslocamento, enraizamento e morte, além de possuir forte ligação com a floresta Amazônica. Seu trabalho procura discutir uma concepção ampliada entre as forças que interferem na constituição das subjetividades do indivíduo contemporâneo e sua relação com a natureza e com a cultura. Em 2016, realizou sua primeira individual NAVEGAR ES PRECISO no Centro Provincial de Artes Plástica y Diseño de La Habana, Cuba. Com seu trabalho de performance, participou das seguintes mostras: Verbo 2022 - Mostra de Performance Arte (16ª edição), na Galeria Vermelho; Presença Permeável, no Paço das Artes; #MOVIMENTA2, na Galeria Mezanino; Festival La Plataformance - Resistência em Rede e Documento Vivo, na Oficina Cultural Oswald de Andrade; e Performa-Projetos Curados, na SP-Arte. Participou, ainda, das coletivas Foto-Performance, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, e Mappa Dell'arte Nuova – Imago, na Fondazione Giorgio Cini, na Itália. Seu trabalho também integra os acervos do MUna - Museu Universitário de Artes do Instituto de Artes da Universidade Federal de Uberlândia (IARTE/UFU) e do MAR - Museu de arte do Rio (Rio de Janeiro/RJ).
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