Domingo, 23 de agosto de 2015 - 08h39
Guido Bilharinho
O visual, conquanto geralmente denominado poema visual, perfaz gênero autônomo, destacado e independente daquele, não obstante tenha raízes e prática inicial nos quadros da literatura, desde quando, na Grécia clássica, Simias de Rodes (no ano 300 a.C. aproximadamente) elaborou o texto “O Ovo” em palavras articuladas dispostas de conformidade com o título, que teve replicação no século XX na produção de Apollinaire com, por exemplo, “La Mandoline, L’Oeillet et le Bambou” e “La Colombe Poignardée et le Jet D’Eau”, dos Calligrammes, de 1918.
Não obstante essa origem, o desenvolvimento posterior não lhe demarcou parâmetros nem confinou sua matéria à literatura.
O visual dela se destaca, fundamentado em natureza e elementos peculiares, extrapolando seus limites, absorvendo e assimilando recursos de outras artes para se constituir e definir também uma arte, que se não confunde com a literatura (de onde tira a palavra, articulada ou não), com o desenho (do qual utiliza formas e contornos) e com as artes plásticas: pintura, arquitetura e escultura (vincando e multifacetando sua estrutura e formatações).

À semelhança do cinema em relação às demais artes, o visual sintetiza tais componentes simultaneamente com a construção de seu corpus particular, constituindo obra específica, por força da agregação de forma, conteúdo, técnica e método exclusivos, prefigurando algo singular, inconfundível.
Uma arte em si, criando e transmitindo beleza composicional dirigida à inteligência e à sensibilidade, de onde, por sinal, provém.
Não existe, pois, poema visual, mas, simplesmente o visual, que não substitui nem confronta o poema, mas, ao contrário, com ele convive, ampliando as áreas de atuação da criatividade humana.
Não se lhe arrogue, nem à imagem em geral, por despropositado, nenhuma ameaça à palavra, como equivocadamente fez o romancista mexicano Carlos Fuentes, porque ambas, imagem e palavra, são prerrogativas humanas. Não se excluem. Somam-se.
O livro Fragmentos (Uberaba, Instituto Triangulino de Cultura, 2005), de autoria de Nícolas Morais Pessoa, nascido e residente em Uberaba, onde cursa o primeiro grau, cuja tenra idade (14 anos), indutória à descoberta do mundo, do raro e do inédito que nele existem, é notável como exemplar da nova arte, que, no Brasil, desenvolveu-se e multidirecionou-se a partir das experiências concretistas, de desestruturação vocabular, de abolição da sintaxe e incorporação e ocupação do espaço no suporte em que se materializa.
Conquanto quase integralmente composto de visuais, o livro contém também poemas, a exemplo de “coisas”, «separado ou tudo junto?» e “tempo”, baseados exclusivamente em palavras organizadas linearmente (“são coisas da vida”, “não diz pára”) ou livres no espaço, vinculado este, porém, ao núcleo semental dos poemas (“tudo nada/relações/rastos”, “não pára”), processando-o como um de seus componentes.
Já os visuais “espelho”, “ex-posição”, “in-completo”, “não”, “por quê?” e “fenda” estilhaçam os vocábulos, dispondo ordenada e racionalmente seus fragmentos.
Em “chuva”, como também em “espelho”, “fenda” e outros, a decomposição dos termos pressupõe a tradução gráfico-visual dos respectivos fenômenos, atingindo o máximo de possibilidade desse procedimento em “fragmentos”, de belíssimo efeito.
O eixo elaborativo dos visuais de Fragmentos forma-se pela constituição intelecto-perceptiva de múltiplos elementos: sentido (concreto-sintético), espaço (essencializado), palavra (isolada, fragmentada) e liberada composição visual (inventiva, complexa), perfazendo uma das mais instigantes criações da arte nova, a arte visual.
(in Fragmentos, 2005, prefácio,
inserido no livro Literatura e Estudos
Históricos em Uberaba, no prelo)
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Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional.
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