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Busão das Artes chega a Porto Velho com exposição Lixúria, uma experiência imersiva sobre meio ambiente e futuro

Idealizado pela Das Lima Produções e Carioca DNA, projeto gratuito leva arte e educação ambiental para praças e parques do estado


Busão das Artes chega a Porto Velho com exposição Lixúria, uma experiência imersiva sobre meio ambiente e futuro - Gente de Opinião

Um museu sobre rodas que espelha a sociedade e se camufla no espaço urbano. Assim será a nova temporada do Busão das Artes, um caminhão-baú de 15 metros que se transforma em espaço expositivo e viaja o Brasil. Com curadoria e direção artística de Marcello Dantas, o projeto apresenta sua mais nova experiência, a exposição “Lixúria” — uma jornada sensorial que une arte e educação ambiental. A mostra fica em Porto Velho entre os dias 18 e 27 de agosto, no Complexo Madeira-Mamoré, com entrada gratuita, e visa a atender ao público circulante, bem como um amplo programa para escolas públicas e privadas do Estado. 

Com patrocínio do Grupo Energisa e apoio cultural do Instituto Energisa, por meio da Lei Rouanet, a exposição conta com obras dos artistas visuais Vik Muniz, Sueli Isaka, Guto Lacaz, Sandra Lapage, Pirilampos do Planeta, Tomazicabral, Jessica Mein, Karola Braga, Coopa Roca, Janaina Mello Landini, Adrianna Eu e Alexandre Farto aka Vhils. 

Propondo uma reflexão sobre o lixo e o papel de cada indivíduo na construção de um futuro mais sustentável, a imersão começa com o próprio caminhão, que foi revestido com película espelhada que reflete o entorno, quase desaparecendo no espaço e tornando-se um espelho crítico da sociedade. Além disso, o espaço se divide em ambientes interno e externo, concebidos para provocar e surpreender o público, especialmente crianças e adolescentes, com experiências lúdicas e sensoriais. 

Marcello Dantas. - Gente de Opinião
Marcello Dantas.

“O lixo é um espelho do nosso comportamento. Quando olhamos para o que descartamos, enxergamos quem somos como sociedade. A ideia da exposição “Lixúria” é justamente tornar esse espelho visível e provocar reflexão sobre nossos hábitos de consumo e descarte. Cada pessoa gera, em média, até 28 toneladas de lixo ao longo da vida. É um dado brutal, mas que precisa ser encarado. Se até um bebê, nas primeiras semanas de vida, já produz uma quantidade considerável de resíduos, precisamos repensar coletivamente o destino de tudo o que descartamos. O lixo não desaparece. Ele se acumula, se transforma e, também, pode ser ferramenta de educação e cidadania. Queremos tirar o lixo “debaixo do tapete” e oloca-lo no centro do debate, da arte e da curiosidade. O que parece rejeito, na verdade, carrega histórias, potencial criativo e até beleza”, explica o curador Marcello Dantas. 

Ao adentrar o Busão, o visitante se depara com a cenografia marcante de um patchwork de embalagens revestindo as paredes e o teto, construído a partir de lixo limpo como tampinhas, embalagens tetrapak, pacotes e plásticos diversos. Também, a obra Marat (Sebastião), da série Pictures of Garbage, de Vik Muniz, produzida a partir de seu projeto com os catadores do aterro sanitário Jardim Gramacho, da cidade do Rio de Janeiro, estará exposta.  

Busão das Artes chega a Porto Velho com exposição Lixúria, uma experiência imersiva sobre meio ambiente e futuro - Gente de Opinião

Nesse espaço, o filme Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado, é exibido em looping, convidando o público a repensar desigualdade, consumo e destino do lixo. O visitante também encontra duas estações interativas: uma balança que calcula, em quilos, a quantidade de lixo que cada pessoa produzirá ao longo da vida (uma experiência que busca dar o peso concreto do impacto individual), e um mapa digital, via Google Earth, com informações sobre os lixões, aterros sanitários e pontos de coleta das cidades visitadas. 

Do lado de fora, a experiência continua. Espalhadas ao redor do caminhão, latas de lixo galvanizado com tampas guardam surpresas que se revelam ao serem abertas pelos visitantes. Dentro delas, o público encontra obras de arte dos artistas Sueli Isaka, Guto Lacaz, Sandra Lapage, Pirilampos do Planeta (Lula Duffrayer e Flávio Carvalho), Tomazicabral, Nazareno, Jessica Mein, Karola Braga, Coopa Roca, Janaina Mello Landini e Adrianna Eu, compostas por objetos inventivos criados a partir de resíduos e personagens simbólicos como o “Bicho de Lixo”. Algumas das obras também acionam efeitos sonoros, visuais ou mecânicos. 

Busão das Artes chega a Porto Velho com exposição Lixúria, uma experiência imersiva sobre meio ambiente e futuro - Gente de Opinião

No mesmo ambiente, a obra “Marca Temporária, Memória Coletiva”, do artista Alexandre Farto aka Vhils, propõe uma intervenção colaborativa com o público. Em cada parada, uma grande tela negra perfurada é posicionada sobre o chão claro, revelando, por contraste, uma imagem previamente desenhada. Essa superfície urbana servirá como suporte vivo da arte, construída a partir de materiais naturais encontrados no próprio local, como areia, pedras, ou ervas secas, recolhidos em parceria com a comunidade local. Esses materiais são aplicados sobre a tela para formar a imagem. O processo ativa o entorno, valoriza os recursos do lugar e estimula o engajamento coletivo na criação artística. Ao final, a tela é retirada, deixando no chão a marca efêmera da obra, que desaparece com o tempo, mas permanece na memória de quem participou.  

“Esta exposição convida o público a reconfigurar seu olhar sobre o lixo. Temos de reaprender a ver no que é descartado uma potência criativa, simbólica e transformadora. Reutilização criativa, circularidade, responsabilidade social e imaginação são caminhos para uma relação mais saudável com a matéria que mais geramos em vida. Abrir cada lata de lixo como quem abre uma possibilidade de mundo, é isso que queremos passar aos visitantes”, frisa o curador.  

A experiência traz práticas educativas coordenadas pela Percebe, uma consultoria especializada em educativos de museus e exposições, que promovem encontros significativos entre os públicos e as obras, por meio de visitas mediadas, oficinas e propostas interativas. O atendimento será voltado tanto para grupos escolares agendados quanto para o público espontâneo, com abordagens adaptadas a diferentes faixas etárias e perfis de interesse.  

Com o objetivo de estender a experiência para além do espaço expositivo, a mostra também conta com materiais de apoio educacional destinados a professores, que estarão disponíveis para download no site e poderão ser enviados às escolas. Também, os estudantes que visitarem a exposição receberão um material impresso com propostas de atividades que estimulam a reflexão e a criação. Esses conteúdos possibilitam que a vivência se prolongue na escola e em casa, fortalecendo a construção de significados e os vínculos entre arte, educação e ambiente no cotidiano. 

Busão das Artes chega a Porto Velho com exposição Lixúria, uma experiência imersiva sobre meio ambiente e futuro - Gente de Opinião

A exposição Lixúria dá continuidade a uma trajetória já consolidada de exposições itinerantes promovidas pelo Busão das Artes, sucedendo os projetos “A Casa que Anda – que mistérios tem Clarice?”, que levou ao público uma experiência sensorial inspirada na obra infantojuvenil da escritora Clarice Lispector, e “O mundo invisível”, concebido no contexto pós-pandêmico, que abordava de forma lúdica e educativa o universo dos fungos, vírus e bactérias. Trata-se de um projeto de educação gratuito, inclusivo e democrático, idealizado por Renata Lima, da Das Lima Produções, em parceria com a dupla Lilian Pieroni e Luciana Levacov, da Carioca DNA.  

Ao longo do semestre, o Busão das Artes passará por Rondônia (Porto Velho), Tocantins (Palmas), Ceará (Fortaleza), São Paulo (São Paulo) e Rio de Janeiro (Paraty, Rezende, Cabo Frio, Macaé, Areal, Petrópolis, São Gonçalo, Niterói e Rio de Janeiro). A expectativa é que mais de 130 mil pessoas passem pelo Busão nessa temporada.  

Sobre o curador Marcello Dantas 

Marcello atua na fronteira entre a arte e a tecnologia, produzindo exposições, museus e múltiplos projetos que buscam proporcionar experiências de imersão por meio dos sentidos e da percepção. Nos últimos anos, esteve por trás da concepção de diversos museus, como o Museu da Língua Portuguesa e a Japan House, em São Paulo; Museu da Natureza, na Serra da Capivara, Piauí; Museu da Cidade de Manaus; Museu da Gente Sergipana, em Aracaju; Museu do Caribe e o Museu do Carnaval, em Barranquilla, Colômbia. 

Realizou exposições individuais de alguns dos mais importantes e influentes nomes da arte contemporânea como Ai Weiwei, Anish Kapoor, Bill Viola, Christian Boltanski, Jenny Holzer, Laurie Anderson, Michelangelo Pistoletto, Studio Drift, Rebecca Horn e Tunga. Foi também diretor artístico do Pavilhão do Brasil na Expo Shanghai 2010, do Pavilhão do Brasil na Rio+20, da Estação Pelé, em Berlim, na Copa do Mundo de 2006. Foi curador da Bienal do Mercosul, realizada em 2022, em Porto Alegre, e é atualmente curador do SFER IK Museo em Tulum, no México.  

Por onde o Busão das Artes já passou? 

O Busão das Artes “saiu da garagem” pela primeira vez em 2021. A ideia era criar um projeto itinerante de ciências e meio ambiente, que mostrasse como o mundo microscópico pode ser entendido e vivenciado por meio da arte contemporânea, ampliando a compreensão do público sobre o universo, o corpo humano, as bactérias (tanto as benéficas quanto as perigosas) e a relação dos indivíduos com o meio ambiente. 

A primeira mostra contou com a curadoria de Marcello Dantas, em parceria com o físico Luiz Alberto Rezende de Oliveira, um dos idealizadores e ex-curador do Museu do Amanhã. A iniciativa apresentava duas vertentes: uma ambiental, que tratava das bactérias e seu papel no ecossistema, e outra científica, abordando temas relacionados ao organismo humano. Tudo isso com instalações artísticas e interatividade, mostrando como as manifestações da vida biológica se relacionam com tudo que há no planeta. 

Com obras dos artistas Jaider Esbell, Piero Manzoni, Ricardo Carvão, Ricardo Siri, Suzana Queiroga, Vik Muniz, Vivian Caccuri e Walmor Corrêa, o projeto passou por quatro Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) e recebeu a visita de mais de 112 mil pessoas.  

Em 2024, o projeto foi às ruas como Caminhão das Histórias e apresentou a exposição “A casa que anda – que mistérios tem Clarice”, inspirado na obra infantojuvenil de Clarice Lispector com foco nos livros ‘A vida íntima de Laura’, ‘O mistério do coelho pensante’ e ‘A mulher que matou os peixes’. 

Com curadoria de Eucanaã Ferraz, poeta, consultor de literatura do Instituto Moreira Salles (IMS), e com direção artística e cenografia de Daniela Thomas, cineasta, diretora teatral, dramaturga e cenógrafa, e intervenções artísticas dos artistas plásticos Maria Klabin, Marcela Cantuária, Raul Mourão e Mariana Valente, o projeto passou por oito Estados (São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Maranhão, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro), impactando cerca de 197 mil pessoas. 

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