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"As Ribeirinhas": um Manifesto de Arte e Identidade Amazônica celebra 31 Anos da Casa de Cultura Ivan Marrocos


Acervo Homero Rodrigues - Gente de Opinião
Acervo Homero Rodrigues

A Casa de Cultura Ivan Marrocos, um dos pilares artísticos e culturais de Rondônia, veste-se de festa para celebrar seus 31 anos de existência com a abertura da monumental exposição "As Ribeirinhas". A mostra, que se consolidou como um verdadeiro manifesto cultural, reverencia a profunda riqueza simbólica, a estética singular e a identidade potente da Amazônia, unindo a força da escultura tradicional à sensibilidade da arte visual contemporânea.

Inaugurada no dia 4 de novembro, às 9h30, a exposição permanece aberta ao público até o dia 30 de novembro, com entrada gratuita, proporcionando a rondonienses e visitantes um mergulho gratuito e acessível no universo da arte regional.

A Ancestralidade Viva na Madeira de Homero Rodrigues dos Santos 

O escultor Homero Rodrigues dos Santos, natural de Costa Marques e com um histórico de exposições importantes, incluindo "Destemidos Pioneiros"(Projeto Arte SESC) e outras na própria Casa de Cultura, apresenta uma série de esculturas em madeira que transcendem a simples forma. Suas peças impressionam pela complexidade técnica e pela profundidade simbólica, revelando um diálogo íntimo entre o humano, o natural e o espiritual.

  • Evocação Narrativa: As obras de Homero não são meros objetos; são narrativas esculpidas. Elas trazem à tona figuras humanas intrinsecamente ligadas a elementos da natureza e do imaginário espiritual, evocando lendas e a vivência cotidiana das culturas indígenas e ribeirinhas. 
  • Madeira Viva: O artista demonstra um profundo respeito pela matéria-prima, transformando a madeira em uma matéria viva, orgânica e moldada com precisão. O detalhamento dos traços e a fluidez das formas consagram suas esculturas como verdadeiros monumentos à identidade e à tradição amazônica.

 Flávio Dutka: O Imaginário Ribeirinho em Cores e Texturas

O Astrolábio – Acervo Flávio Dutka - Gente de Opinião
O Astrolábio – Acervo Flávio Dutka

Complementando a robustez da madeira, o artista visual Flávio Dutka — professor, historiador de formação e morador/educador da região ribeirinha, incluindo a Reserva Extrativista do Lago do Cuniã — oferece uma janela para o imaginário amazônico com uma abordagem contemporânea e altamente poética. Conhecido por seu trabalho prolífico e por ter exposto em cidades como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e até Finlândia, Dutka traz uma nova leitura para a paisagem e a mitologia local.

A mostra apresenta séries que demonstram a versatilidade e o foco do artista:

  • Séries em Destaque: Roc-OcoMetamorfoseMata AdentroUm Lago chamado Cuniã e Noturno. 
  • Obras Chave: 

·       "O Astrolábio": Propõe uma instigante reflexão sobre orientação e pertencimento na vastidão da Amazônia. No centro, o círculo azul cruzado, como um selo ou interdição, alude à intermitência da existência e à inevitável transitoriedade do ser. As geometrias e repetições cromáticas remetem à estética pop, mas aqui o brilho sintético cede lugar a uma energia orgânica e simbólica, que mistura ciência, espiritualidade e natureza tropical. Nessas Efemeridades Elétricas, a vida e a morte não se opõem: vibram em simetria. O olhar do artista converte o medo da finitude em celebração da impermanência — uma sinfonia visual em que o efêmero se torna eterno através da arte. 

·       "Natura Naturans": Inspirada na expressão filosófica que denota a natureza em constante processo de criação, a obra traduz visualmente o dinamismo, a força e a exuberância criadora da floresta, muitas vezes misteriosa e clamando por cuidado, além de trazer um título profundamente filosófico que remete ao conceito de natureza como força ativa e criadora — uma ideia central na obra do filósofo holandês Baruch Spinoza.

A arte de Dutka estabelece um diálogo com o invisível, utilizando traços e cores para explorar as nuances da vida à beira do rio, como em seus trabalhos produzidos nas comunidades/distritos do Baixo Madeira.

 Um Convite à Reflexão e à Resistência Cultural

A Exposição "As Ribeirinhas" conseguiu estabelecer um poderoso diálogo entre a ancestralidade do escultor Homero e a contemporaneidade lírica do visual de Dutka. A união dos trabalhos cria uma narrativa que não se limita ao espaço da galeria, mas se estende como um convite ao público para uma reflexão profunda.

As obras não se restringe a ser uma homenagem às mulheres das margens dos rios (as ribeirinhas), mas se posiciona como um manifesto sobre temas cruciais:

  • Preservação: O papel vital da arte na preservação da memória, da natureza e das culturas originárias.
  • Diálogo: O encontro entre o tangível e a tradição (a madeira) e o etéreo e a contemporaneidade (as imagens visuais).
  • Pertencimento: O reafirmar das raízes e da identidade rondoniense e amazônica.

Em um contexto de intensos desafios ambientais e culturais, "As Ribeirinhas" se firma como um necessário espaço de resistência, beleza e celebração, reforçando o papel essencial da Casa de Cultura Ivan Marrocos como guardiã da produção artística de Rondônia.

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