Domingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Violação de soberania e crime internacional


             O que os EUA fazem ao violar a soberania de todos os Estados e indivíduos que julgam oportuno – especialmente no caso dos grampos telefônicos e e-mails, mundo afora[1] – não é apenas um desrespeito internacional:

Em meio às denúncias de espionagem dos EUA, incluindo da própria sede da ONU em Nova York, o afirmou que todos os Estados-membros da organização devem respeitar a lei internacional. “A inviolabilidade das missões diplomáticas, e particularmente dos chefes de Estado e de governos, é fundamentalmente importante e protegida pela Convenção de Viena” [...] “Assim, espera-se que todos os Estados-membros da ONU respeitem esse tratado internacional”[2].

Ao contrário da declaração do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, não se trata apenas de falta de compromisso, trata-se de crime politicamente organizado. Não precisamos ler toda a Convenção de Viena, para entender o pensamento do líder da ONU, pois o que se requer já consta das considerações gerais:

Recordando a determinação dos povos das Nações Unidas de criar condições necessárias à manutenção da Justiça e do respeito às obrigações decorrentes dos tratados”.

Se fosse outro Estado, especialmente os não-amigos, o que aconteceria? Imaginemos o que seria da Venezuela se fizesse um décimo do que fazem os EUA, ou o Irã: tomariam uma chuva de bombas. É por isso que nunca diminuiu o anti-americanismo.

No caso, nada acontece porque os EUA ainda são a maior economia (em rivalidade com a China) e têm a tecnologia necessária para espionar sem serem espionados. Contudo, nada acontece mesmo porque são a maior capacidade bélica. Com esta força, colocam-se acima da lei, do bem e do mal, desrespeitam qualquer noção ética criada pelos organismos internacionais e/ou matam quando têm vontade.

Na análise do que os EUA fazem no plano internacional, podemos ver realisticamente qual a natureza da relação entre poder e direito. Para que lado pende a verdade. No fundo, o direito se quebra ou se anula frente ao poder. Nunca houve um Estado de Direito Internacional e, provavelmente, nunca haverá. Quem tem força para matar não se curva à lei – estas são as lições que aprendemos do Ancien Régime: o summa potestas cabe a quem determina a ultima ratio.



[1]Estima-se que em um mês foram 60 milhões de grampos.

[2]http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-10-28/estados-devem-respeitar-lei-internacional-diz-chefe-da-onu-sobre-espionagem.html.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Necropolítica e luta de classes no Rio de Janeiro - O fim do Estado

Necropolítica e luta de classes no Rio de Janeiro - O fim do Estado

A chacina ou o massacre – como se queira chamar – levados a cabo pelas forças policiais do Rio de Janeiro, a mando do Governador do Estado, no dia 28

Educação e Sociedade: Sociologia Política da Educação

Educação e Sociedade: Sociologia Política da Educação

O leitor terá a seguir apresentação do mais recente livro de Vinício Carrilho Martinez, professor titular da Universidade Federal de São Carlos. Ace

Ela pensa? - a inteligência desumana

Ela pensa? - a inteligência desumana

Tanto fizemos e desfizemos que, afinal de contas, e ainda estamos no início do século XXI, conseguimos produzir uma inteligência desumana, absolutam

Pensamento Escravista no Brasil atual

Pensamento Escravista no Brasil atual

          Esse texto foi pensado como contribuição pessoal ao Fórum Rondoniense de Direitos Humanos – FORO DH, na fala dirigida por mim na mesa Enfr

Gente de Opinião Domingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)