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Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Vida e Morte


            Se não travamos uma guerra civil, por que razão misteriosa, como ciência oculta da hipocrisia, desenvolvemos uma medicina de guerra?

            Arrumam termos técnicos – como guerras assimétricas de rua – para desdizer o óbvio que nos atormenta no Brasil: a violência urbana, o caos social que alimenta uma guerra civil.

            Então, por que deveríamos reconhecer este óbvio ululante que é a guerra civil?

Pelo simples fato de que daríamos tratamento adequado à situação.

            Porém, preferimos viver como na Terra do Nunca, onde nunca se vê a verdade óbvia.

            Se um médico dos EUA, formado há décadas, vem ao Brasil para fazer residência como se estivesse no palco da guerra, mas sem os riscos dos bombardeios e dos homens e mulheres-bomba, é porque lá fora todos veem a regra simples de que a tática do avestruz não funciona.

O americano Woodrow Twight Frisbee é cirurgião há 30 anos; já cuidou de feridos em condições extremas, até nas guerras do Afeganistão e do Iraque. Mas, veio descobrir aqui, nas emergências dos maiores hospitais públicos do Rio, condições ideais para fazer uma reciclagem profissional. Há duas semanas, Frisbee vem trocando experiências com médicos do Miguel Couto,Lourenço Jorge,Getúlio Vargas eAlbert Schweitzer. E, como nas zonas de guerra, participou de atendimentos a vítimas da violência, acompanhando cirurgias em baleados.  “Quando íamos pensar em ter contato com um médico de guerra”, perguntou a cirurgiã Gabriela Pupo[1].

Quando em guerra, os armamentos e os estragos são diferentes, específicos e requerem habilidades em uma determinada especialidade médica. Mas, acima de tudo, reconhecer o caos, a guerra civil em que nos meteram, exige um esforço do Poder Público que seja honesto, que procure pelas causas (e não pelos epifenômenos) de tanta violência social e urbana.

Por quem e por onde entram tantas armas de guerra e como caem tão facilmente nas mãos do crime organizado? Qual o papel das forças armadas no desvio dessas armas? É possível desarmar as instituições públicas já tornadas trincheiras de grandes criminosos?

Essas são perguntas chatas, mas sem respostas adequadas só nos resta a residência médica da guerra surda.
 

Vinício Carrilho Martinez

Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO

Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ

Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais

Doutor pela Universidade de São Paulo

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