Domingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

Tempos difíceis - Por Vinício Carrilho


 

            Tempos difíceis sim, mas não por motivos econômicos ou financeiros como diz a presidência do STF – Ministra Carmem Lúcia. Deficitários em razão da ética e da anti-democracia. Difíceis porque vivemos em Estado de Exceção. Prova disso é que, sob acusações semelhantes, Eduardo Cunha foi afastado da presidência da Câmara, preso, e Renan Calheiros – réu no STF – foi mantido na presidência do Senado Federal.

O Supremo Tribunal Federal (STF) manteve Renan como presidente do Senado e achou uma brecha para que não entrasse na linha sucessória da Presidência da República. Juridicamente, desde o impeachment – sem objeto e autoria – e que, por fim, não aplicou a pena toda (art. 52 da CF/88), e agora com Renan impedido da linha sucessória, colocou-se o país sem bússola de bom senso.

Na prática, inaugurou-se o Sem Nexo Jurídico; em substituição ao Pragmatismo Jurídico. Na mesma linha sucessória, a Ditadura Inconstitucional trouxe-nos outro capítulo: o Fisiologismo Jurídico.

            Os tais tempos difíceis implicam no desmonte da Constituição e do Estado Laico, na votação da PEC 55 – 20 anos sem investimento em saúde, educação e ciência –, na aniquilação da Previdência Social (49 anos de contribuição).

E o que mais vier: fusão da Caixa Econômica com Banco do Brasil, privatização das universidades federais e da Petrobrás, ampliação da jornada de trabalho para 10 horas (CIESP), no fim dos direitos trabalhistas (art. 7º da CF/88).

Sem contar que a proposta da Previdência traz exceções dentro da exceção: trabalho escravo deve ser exceção, mas excluir militares da reforma é algo abjeto – ou será medo de manu militari?

O presidente atual aposentou-se aos 55 anos, com vencimentos integrais. Dada a expectativa de vida prolongada no poder e as súplicas para que o povo “aperte os cintos” – e para provar que não são tempos sem ética –, por que não abre mão do benefício? Diria mais, se é isso que quer para o trabalhador, por que não devolve os 20 anos recebidos, e atualizados? Não seria ético, honesto?

 Ou seja, por isso Renan foi mantido na presidência do Senado, para dar cumprimento a esta pauta. Uma pauta, diga-se de passagem, que é do PSDB – a partir de Serra e de FHC.

            Essa forma de Decisionismo – decidir para assentar o meta-poder –, por sua vez, demonstra novamente como os três poderes estão alinhados na condução dos meios de exceção. Projetos de desintegração do art. 170 da CF/88 (Justiça Social), enviados pelo Executivo, são recepcionados e aprovados em menos de 24 horas pelo Legislativo[1].

Ao que, após, são referendados pelo Judiciário, em decisão de “meia sola constitucional que concede desobediência premiada”[2]. No campo do retrocesso cultural, devemos chamar de Cesarismo de Estado. Quando César é o conjunto dos mandatários das instituições que outrora sustentaram o Estado Democrático de Direito.

Por tudo, são, sim, tempos trágicos[3]. Com retoques de instituições podres[4] no caminho do fascismo anti-iluminista.
 

Vinício Carrilho Martinez

Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH          

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Necropolítica e luta de classes no Rio de Janeiro - O fim do Estado

Necropolítica e luta de classes no Rio de Janeiro - O fim do Estado

A chacina ou o massacre – como se queira chamar – levados a cabo pelas forças policiais do Rio de Janeiro, a mando do Governador do Estado, no dia 28

Educação e Sociedade: Sociologia Política da Educação

Educação e Sociedade: Sociologia Política da Educação

O leitor terá a seguir apresentação do mais recente livro de Vinício Carrilho Martinez, professor titular da Universidade Federal de São Carlos. Ace

Ela pensa? - a inteligência desumana

Ela pensa? - a inteligência desumana

Tanto fizemos e desfizemos que, afinal de contas, e ainda estamos no início do século XXI, conseguimos produzir uma inteligência desumana, absolutam

Pensamento Escravista no Brasil atual

Pensamento Escravista no Brasil atual

          Esse texto foi pensado como contribuição pessoal ao Fórum Rondoniense de Direitos Humanos – FORO DH, na fala dirigida por mim na mesa Enfr

Gente de Opinião Domingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)