Terça-feira, 13 de janeiro de 2015 - 05h17
É inevitável o esquecimento.
Começo com desculpas, mas é verdade. Vou cometer a falta grave de esquecer alguém. Não porque queira, é evidente. Aliás, gostaria de ter o dobro da memória que tenho, para nunca esquecer nada, lembrar de tudo e de todos(as).
Na história que vou contar, é bom que diga que meu tempo em Rondônia, para meus sentimentos, foi uma segunda vida. Deixei uma roupa aqui e vesti oura aí. A cultura é uma segunda pele. Troquei de roupa e de pele. Agora, vesti uma terceira.
É como se tivesse começado do zero. Hoje, sou mais um por isso.
Há duas cidades que fizeram minha história: Marília-SP, onde nasci e para onde voltei, e Porto Velho/RO. São Paulo – capital – nunca foi uma cidade para mim, e ainda que a visitasse desde os cinco anos de idade.
A Universidade de São Paulo, sim, foi o lugar em que me formei como cidadão.
Cheguei em RO em 2009.
Estive mais de cinco anos em Rondônia, como professor da Universidade Federal. Nem tenho como resumir o tempo que se passou, nem puxar as lembranças que mais marcaram. Foram muitas histórias e muita gente. Contudo, alguns personagens estão na mente: Rivoiro, Jovanir, Lana, Cidinha, Xavier, Isabela, Jacques Abílio, Neri e Delson. São alguns nomes que me vem agora. Lúcio e Januário criaram as condições para que permanecesse em Porto Velho.
A prof.a Waldemarina e o Morel, praticamente, deram-me uma casa quando cheguei – sem eira, nem beira. A professora Waldemarina foi minha segunda mãe. Ainda é ... sempre será. No mesmo lado do coração. O Rivoiro foi o caminho de chegada, desde uma conversa por e-mail e fone, quando me avisou do concurso. Foi quem me apresentou a cidade e a cultura diferente. O Jovanir foi vizinho e companheiro de chope – e, depois, sem chope mesmo. Com suco de laranja.
Salve Coronel Torres! Falo nele e me lembro de todos os alunos (e amigos) brilhantes que conheci na UNIR. Muitos estariam na USP, UFSCAR ou UFRGS sem grande esforço para conseguir.
O Antenor, companheiro de publicações; o Vinícius Miguel – quase xará – que agora vem somar nessa seara.
O grande Zé, da recepção ou protocolo! O Léo Ladeia, da Record, o João Paulo, o caro Chico Lemos, do Gente de Opinião. Dr. Dimis e o Diego, advogado, obrigado.
Essas listas sempre são injustas, não há como nominar as pessoas que fizeram parte da sua vida, sem deixar alguém de fora. A Leide, que cuidou de casa, e o Dionísio do taxi teriam de ser lembrados.
“Quem escolhe, deixa”. É essa a dura realidade do ditado popular. Deixei o mundo de vocês porque tinha e tenho responsabilidades com o mundo da minha família, deste lado do Brasil.
Agradeço todos os dias pelo trabalho digno que o concurso público me proporcionou. Pelas pessoas maravilhosas que conheci e com as quais convivi. Aprendi ou tentaram me ensinar como “diminuir o orgulho”. É um pecado capital, reconheço. Daqueles que Dante, bem no Pórtico no Inferno, diz para você deixar de lado (Deixai toda esperança, ó vós que entrais – p. 37). Enfim, minha imperfeição não se recomporia em tão pouco tempo. Mas, trouxe esperança na volta.
O tempo de todos é escasso e este é o porquê de não ter aqui uma lista do Maguila. Porém, é preciso lembrar (mesmo com falhas graves) para não cair na penúria da ingratidão.
Deixei o artigo pronto e fui dormir, esperando que o sono reparasse o apagão da memória curta. É claro que há falhas, mas lembrei de outros. Já estão no corpo do texto.
Não há crime maior do que a ingratidão. É uma traição programada, antes do próprio início das situações que possam ocorrer.
Aliás, duas expressões sempre me chamaram muito a atenção: alagação e situação. Aqui, em São Paulo, interior, fala-se em alagamento e temos bem menos “situações”. Muitas ocorrências, é verdade.
A carta de agradecimento, a todos aqui mencionados (e outros tantos que o lapso levou), poderia ter um quilômetro e não retrataria cinco anos de sua vida. Nem da minha. Essa é a minha desculpa, plausível, para também não me alongar muito.
Ainda quero dizer que aprendi muitas coisas; talvez a principal tenha sido o “exercício da paciência”. Um hábito difícil para paulistas que querem tudo para ontem. Nascemos assim – se bem que nasci meio atrasado –, trabalhamos e vivemos na pronta-entrega, no estresse: “como se não houvesse o amanhã”. Claro que há hoje e amanhã, todavia, de nada adianta dizer.
Será que o paulista é um mineiro acelerado?
Bom, esse texto deveria ter esperado minha “situação” se resolver por aqui. Não agüentei, é claro, e publiquei agora mesmo.
Lembro-me de que havia um CD – no tempo que tinha CD – chamado “Tempo”; com o mestre Tom Jobim. Desculpe-me se alguém tem o tempo diferente do meu. Meu recado é esse: Obrigado!
Impossível esquecer.
Vinício Carrilho Martinez
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