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Gente de Opinião

Vinício Carrilho

O Poder como Prudência


No popular, diz-se que “recebemos duas orelhas e uma boca, para ouvir mais do que falar. Em todo caso, o Poder como Prudência é um dos temas mais antigos que gravitam as relações políticas e de organização social. A Prudência é uma virtude cardeal, principal, clássica; é uma sabedoria prática, porque seu emprego deve produzir resultados práticos, satisfatórios – a Prudência não é uma qualidade estritamente intelectual, metafísica, filosófica, especulativa.

A Prudência é um juízo sadio que afeta todas as atividades humanas; devendo ser a virtude uma noção política inerente, própria do governante. Assim, é a virtude daquele moralmente judicioso, sadio; de quem é moralmente defensável. Não é, portanto, mera arte; mas sim um estado do ser (capacidade), um hábito verdadeiro e bom, razoável (provindo da razão), que torna apto e mobiliza para agir pelo Bem. Na Prudência, delibera-se sobre o que é bom, apropriado para todos. Por isso, é um conhecimento de ordem prática. Também se converte na primeira das virtudes, distinguindo-se em sentido prático (princípio pedagógico), em que figuram outros elementos de definição e de distinção:

  •    Memória (experiência)
  •    Intelecção do singular (visão clara da situação)
  •    Metodologia (adequação de meios a fins)
  •    Docilidade (bom conselho)
  •    Solertia(prontidão para agir)
  •    Razão (juízo sadio e razoabilidade)
  •    Providentia (previsão, provisão)
  •    Circunspecção (consideração das circunstâncias)
  •    Caução (precaução ou cautela)

 

A Prudência surge como sabedoria da vida, como prudência na mundanidade:

  •    “conhecer as coisas em seu ponto”
  •    “Nunca se descompor”
  •    “saber usar o deslize”
  •    “não ser intratável”
  •    “saber usar dos inimigos”
  •    “não cansar”
  •    “não mostrar satisfação de si”
  •    “fazer e não parecer”

 

    Como ainda se pode ver na aliança entre cautela, inteligência e razão prática:

  •    É necessário que estejamos atentos a nós mesmos, e essa vigilância transforma-se   insensivelmente em hábito de virtude.
  •    A inveja de nossos inimigos é um contrapeso à nossa negligência.
  •    Nós nos vingamos utilmente de um inimigo, afligindo-o com o nosso próprio aperfeiçoamento moral.
  •    Não  se devem desprezar as censuras.
  •    Essa paciência é um meio muito eficaz de aprender a dominar sua língua.
  •    Prestar homenagem ao mérito de seus inimigos é habituar-se a não ver com inveja a superioridade dos outros.
  •    Os vícios dos inimigos tornam nossas virtudes mais caras.

 

Certamente será uma razão prática de implicações jurídicas ao Poder Político:

  •    Há limites de competência do Estado porque infringem princípios morais universalmente reconhecidos.
  •    Desta razão prática podem-se deduzir os limites da decisão do Estado

 

A Prudência também equivale ao uso de meios adequados, razoáveis para se alcançar o bem-estar. Há uma sagacidade para saber alcançar os propósitos da vida feliz – este é que será o sentido aceito moralmente. A habilidade ou astúcia, em si, pode ser imprudente. O prudencialismo acentua que se deve agir de acordo com a ética da situação. No entanto, a Prudência não pode ser limitada a um situacionalismo, porque é uma atividade intelectual, racionalizável. Juridicamente, é a reabilitação da razão prática, prudentia, diante da ciência pura ou da ação simplesmente voltada à obtenção de resultados imediatos. Aliás, a Prudência deve evitar que o sujeito da ação saia abalado por danos ao propugnar pelos resultados imediatos.

 

Bibliografia

AQUINO, Santo Tomás de. Escritos Políticos. Petrópolis-RJ : Vozes, 1995.

CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão? Campinas, São Paulo : Papirus, 1991.

FLEINER-GERSTER, Thomas. Teoria geral do Estado. São Paulo : Martins Fontes, 2006.

GRACIÁN, Baltasar. A Arte da Prudência. São Paulo : Martins Fontes, 1996.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília-DF : Editora da Universidade de Brasília, 1979.

____ A arte da guerra: a vida de Castruccio Castracani: Belfagor, o arquidiabo. Brasília-DF : Editora da Universidade de Brasília, 1994.

MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. Tomos I e IV. São Paulo : Loyola, 2001.

PLUTARCO. Como tirar proveito de seus inimigos. São Paulo : Martins Fontes, 1997.

WEBER, MAX. Ciência e Política: duas vocações. 9ª ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

 

 

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