Terça-feira, 25 de fevereiro de 2014 - 10h30
Por que há Blck Blocs, rolezinhos e passeatas com milhões de pessoas pelas ruas de todo o Brasil? Porque oBrasil está em polvorosa. Na verdade, vivemos de forma mais clara a contradição que nos acompanha desde que se inventou este país. As elites não têm projeto para incluir o povo brasileiro. Por obrigação do mercado, do capital, sob risco de falência total, o país teve de crescer e de incorporar novos consumidores. A crise nos ameaçava rudemente, como nos ameaça agora, de perdermos o bonde histórico outra vez. Porém, com o ingresso de milhões de brasileiros no mercado, para trabalhar e para consumir, descobrimos o óbvio: os pobres não são bem-vistos em nenhum lugar. Servem, no fundo, para vender força de trabalho, comprar as bugigangas de marca, mas devem retornar para sua insignificância o mais rápido possível. Sempre foi assim, por que agora seria diferente?
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Por que essa chatice que sai dos guetos, das favelas, das palafitas, deve vir atormentar a rica burguesia e sua classe média mediana em inteligência social? Voltem para onde nunca deveriam ter saído! – é o que pensa o empresário e o vendedor do shopping. Sim, porque o vendedor do shopping – muitas vezes – morando na periferia, esquecido pelo Estado em alguma comunidade, mesmo assim, não se considera empobrecido. Afinal, já passou pela peneira do mercado de trabalho e somente uns poucos chegam a este nível de ofício. Para os donos das lojas, os pobres deixam o lugar feio e inseguro por ameaçar a consciência mantida pelo vil metal – até porque, em sua consciência limítrofe, associa-se pobreza a violência e criminalidade.
O que o dono da loja preconceituoso, racista e o vendedor (que trai a sua classe social) – as exceções não são tratadas no texto –, tem em comum, é o desprezo pelos brasileiros que não fazem parte da suposta Nação brasileira. Aliás, se você é um daqueles que acham que somos uma Nação, diga-me qual é o nosso projeto nacional. Proprietário-pequeno burguês e trabalhador aparvalhado pelo mundo do consumo tem em comum um pequeno status sem correspondente papel social. Socialmente, não significam nada ou quase-nada, mas apegam-se ao pequeno status por habitarem o território da máxima ilusão. Vivem de uma síndrome do “pequeno poder econômico”, sem ter dinheiro no fim do mês.
No século XXI não se justifica mais a depredação das lojas e nem a baderna, ou as ameaças a pessoas comuns nos shoppings e nas ruas, como esquerdistas sem eira, nem beira ou neoluditas amargurados; contudo, se as tais “badernas” ocorrem é porque tem uma origem e parte das razões de existir está no que narrei acima. O que temos manifestado em comum com alguns povos, como tailandeses, ucranianos, venezuelanos, chechenos, iraquianos, afegãos e tantos outros, é a recusa em continuar a conviver amargurados pela canga da “jabuticaba jurídica” e sob o domínio da cretinice social. Como ocorreu em tantas fases da história do capitalismo – até antes disso, com a rebelião de Spartacus e dos gladiadores, na Roma antiga – os pobres e miseráveis de todo gênero andam desconfiados da ideologia barata que lhes ensinava a trabalhar, copular e reproduzir, e nunca, jamais reclamar.
Quem não acredita em Fada do Dente, nem é milionário adormecido pelas rendas mensais, está com dor na consciência.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, junto ao Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ. Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais e Doutor pela Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências e em Direito. Jornalista.
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