Quarta-feira, 25 de julho de 2012 - 12h05
Os assassinatos no cinema estadunidense, no lançamento do filme do Batman, têm gerado muitas explicações. Intelectuais têm dito que a violência dos filmes é realista demais e que sua estética encanta o homem médio desesperado do começo desse século. Pode até ser que esta forma de violência encante algum louco, à espera de um sinal para pirar. No entanto, não creio que se explique o mundo por aí. Aliás, vi em um desses canais pagos que até filmes como Crepúsculo incentivam esquisitices, como um estudante morder colegas como se fosse vampiro. Sério, será que o problema é do filme?
Neste caso, a violência política, institucional, também poderia ser explicada pela razão das imagens. A truculência, os golpes políticos seriam embalados pelo filme (ou livro) “Eu, Robô”, de Isaac Asimov. Escrito em 1950, é um clássico contemporâneo da ficção que aos poucos se vê plasmado como realidade.
Ao contrário dessa análise simplista, podemos facilmente ler o romance como se fosse um clássico do Século XX; podemos destacar elementos mais pontuais, quer sejam políticos quer sejam sociais, como por exemplo:
Por que, ao contrário, a arte não estimula o humanismo? Por que os filmes seriam destinados a alimentar o Mal? Não há matemática que obrigue a isso. Podemos ler os romances de ficção pelo lado bom, uma espécie de ânsia pela virtus, a “potência” que permite nos percebermos como“humano-menos-imperfeito”.
Essa reação humanista é evidente em filmes como “Blade Runner” e também é a marca patente de outro romance de Isaac Asimov, “O homem bicentenário”. O filme não está à altura do livro, como filme ingênuo, sem tessitura, tensão; publicado em 1976, considera-se o melhor romance de ficção do autor. Enfim, com Asimov, o robô passa sua vida lutando (inclusive judicialmente) para se tornar humano. É fantástico ler o direito como luta política pelo humanismo, mas é cada dia mais raro.
O robô do Homem Bicentenário quer tornar-se “humano-humanista”, não apenas um homem que come e respira, mas um humano que ama a humanidade. Em sua perspectiva, queria se tornar menos vulnerável, mais completo e mesmo sabendo que a humanidade lhe traria finitude e morte. De nossa parte, especialmente se desterrados ou sitiados, experimentamos a interface da vida (apenas como caminho da morte), sem experimentar a liberdade. Aliás, o robô sabia bem qual era o preço da liberdade e isto fica claro nesta passagem:
A arte sempre nos ensinou o caminho da liberdade. Por que agora temos de arrumar tantas justificativas para nossas tolices e estupidez?
Vinício Carrilho Martinez - Professor Adjunto II (Dr.)
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
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