Sábado, 27 de abril de 2013 - 21h42

Se não estamos em estado de guerra civil, por que é que bandidos em São Paulo guardavam uma metralhadora calibre 50, utilizada para derrubar aeronaves e furar completamente a blindagem de um carro-forte? Será que ainda precisamos de outras evidências (na verdade, de mais provas empíricas) para concluir o óbvio ululante que nos engole em uma guerra de “todos contra todos”?
Na verdade, para ser bem fiel às categorias da Teoria Política clássica, não estamos em guerra civil; realmente é mais grave a coisa, pois já mergulhamos no estado de natureza, em que vale-tudo, na guerra total de “todos contra todos”.
Se você ainda duvida ou se quer tapar o sol com a peneira, especialmente com o papo-furado dos especialistas em segurança que teimam em negar a coisa mais simples do mundo – que é a violência globalizada (estendida pelo capital) e programada para não ter fim em nossa guerrinha particular –, procure ler sobre os estragos que essa arma pode provocar. E quem mesmo é que vendeu para eles?
Na concepção da antiga teoria da guerra total[1], trata-se doravante de rever os equipamentos dos inimigos que nos abatem no ecossistema global (das sociedades capitalistas e complexas, contraditórias); estamos rendidos na “atmosfera da guerra total” em que mergulharam o país, o espaço do adversário. Na guerra, não há território seguro.
Do outro lado da guerra total, da guerra de todos contra todos, está o delinquente, o torturador, o inimigo do gênero humano como argumento que atesta e autoriza nossa concepção de guerra. Ele e nós aplicamos as blitz, mas ele, o inimigo, simplesmente é pior porque está do outro lado da minha, da nossa arma.
Há diferenças irredutíveis no solo hegemônico do capital, mas entre pobres e ricos, todos estão muitos infelizes e ávidos pela morte. Alguns estão do lado de dentro do carro blindado (ou do quarto do pânico) e outros esperam impacientes do lado de fora: os sem-nada, mas há muito os “donos da rua”. Ambos são alimentados diariamente com profundo ódio, sedentos de sangue, como xerifes da vendeta social e prontos para matar. Como respondeu Virilio: “Eu sou filho da guerra total, da guerra-relâmpago, da guerra rápida: o blitzkrieg”.
Atualmente, estamos incapacitados de ver até o mais simples resquício de verdade nas relações humanas. O que se chama de pensamento único ou de “pensamento maquínico” (Guattari, 1991) é uma conversão da autonomia em “mito antidemocrático”, legitimado pela “colonização industrial das consciências”. A autonomia se reduziu à antinomia.
A ironia de tudo isso é tão grande que atualmente as blitz são programadas pelo crime organizado – e de onde vem as tais blitz, com quem foi mesmo que eles aprenderam essas táticas? Diretamente da guerra total do nazismo, ou seja, estamos em guerra contra a Humanidade.
Os combatentes Aliados, na Segunda Grande Guerra, treinaram exaustivamente táticas extremamente profissionalizadas e letais, chamadas de “operações especiais” e as empregaram contra os nazistas. Alguns soldados morreram em treinamento e por isso foram imortalizados em um cemitério simbólico – a mesma representação que vemos em todos os Batalhões Especiais: BOPE.
Quem não aguenta, pede para sair, isto é, tem declarada sua morte simbólica. Todo esse simbolismo deve nos lembrar, em quatro palavras, que: “a vida vem da morte”. Tudo isso tem muita força humana, atávica, mais exatamente porque foram recursos desenvolvidos para “matar a morte” do nazismo. A morte ultra-sofisticada deveria servir ao bem; matar os nazistas com o máximo de eficiência e objetividade para fazer o bem à Humanidade. O Bem, feito do pior mal, deve combater todo o Mal conhecido. Uma leitura bíblica da morte.
Enfim, essas mesmas táticas foram utilizadas na formação dos grupos especiais de policiamento; mas, na ironia em que nos encontramos, em nossa guerra particular contra a Humanidade, chegamos ao ponto em que essas mesmas táticas foram refinadas pelas gangues e facções urbanas brasileiras.
O blitzkrieg dos alemães, a sua guerra-relâmpago, ou nossa guerra civil com as blitz do crime organizado, qual é mesmo a diferença?
Bibliografia
BAUDRILLARD, J. Tela total: mito-ironias da era do virtual e da imagem. Porto Alegre : Sulina, 1997.
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Campinas, São Paulo : Papirus, 1991.
VIRILIO, P. O espaço crítico. Rio de Janeiro : Editora 34, 1993.
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