Segunda-feira, 8 de maio de 2017 - 12h59
Qual é a sensação da guerra? Da guerra convencional, não sei. A sensação da Guerra Civil que enfrentamos é compartilhada por dois terços da população brasileira: a sensação de extrema insegurança e vulnerabilidade da vida civil. Mas, o mais grave é que um de cada três brasileiros conhecia a vítima de homicídio ou de latrocínio: roubo seguido de morte[1].
Há muito tempo se diz que morrem, violentamente, mais nacionais por ano do que os soldados estadunidenses em toda a Guerra do Vietnã. É fato, os EUA perderam cerca de 47 mil soldados ao longo de sete anos, nós mandamos para o barqueiro mais ou menos 60 mil pessoas em um único ano.
Nossa Guerra Civil, que é imemoriável, tem algumas conotações similares e outras diversas de uma guerra como a da Síria, por exemplo. Salvo as Forças Especiais já instaladas na Amazônia, não temos invasão de outro exército. Porém, temos em comum o fato de que matamos por dinheiro. Além das mortes do machismo, nos crimes passionais contra as mulheres.
O crime organizado nos mata muito, enquanto povo. Mas, a grande batalha é desorganizada: alguns matam pelo crack, muitos só para ver o sofrimento de quem vai. O que se chama de “banalização da violência” – um eufemismo para justificar algum tipo de morte atroz – esconde o fato gravoso de que a nossa Guerra Civil opõe “marginalizados” (expulsos do mercado de trabalho e da vida civil) e proprietários.
Diz-se que as mortes de latrocínio estão cada vez mais violentas. É verdade. Porém, isso não é banalização. É o cerne da questão. O ser agora abjeto, mas que poderia ter sido objeto na roldana capitalista, vive em condição de ódio. As vítimas, antes de serem vítimas, já lhe desejavam todo o ódio do mundo. Os que ainda não foram vitimados não desejam sentimento melhor do que o ódio “por sua mísera existência”.
A crescente violência dos crimes de latrocínio, então, revela um forte traço de sadismo. Não basta roubar, matar. É preciso impor humilhação terrível e dor aguda. É difícil saber o que há de “racional” nesses atos. Mais correto talvez fosse diagnosticar que os já aniquilados no mercado de trabalho e de consumo – sem encaixe algum no sistema produtivo – passem a sentir o mesmo desprezo que sempre lhes é dirigido. Ainda há nisso tudo o recorte racista: pobres e negros sequer são entrevistados, porque não são aceitos[2]. É óbvio que a recusa do emprego fomenta o ódio e a violência.
Uma das escolas explicativas do surgimento do Estado, o Contratualismo, identifica o “medo à morte violenta” – na Guerra Civil – para justificar determinadas instituições e mecanismos de segurança que contenham o “ódio sem fim”. Pois bem, o Estado brasileiro é incapaz de ofertar segurança e estabilidade, inclusive porque seu real objetivo é garantir a posse e a propriedade daqueles que temem pelo pior.
Penso que o melhor seria abandonar o eufemismo militarista (“guerras assimétricas”) para se dar nome aos bois, com base no realismo político e assim promover mudanças sociais que interrompessem a produção da violência alimentada em ódio de classe social. Contudo, como isto não virá, continuamos a consumir nomenclaturas de especialistas que nada resolvem.
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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