Terça-feira, 6 de agosto de 2019 - 16h37
Antípoda da
eticidade humana
Antítese dos
Direitos Humanos
Educar em Direitos
Humanos, de forma aguda, também é educar para a sua negação. Se a afirmação
histórica, ético-social, política, dos direitos humanos implica efetivamente na
conquista do Direito que advém da luta política, isto implica, igualmente, no desalojamento
e desconforto de estruturas e instâncias de poder que, anteriormente, eram
assentadas e afirmativas do controle e do domínio. Então, se toda ação na Luta
pelo Direito, afirmativa de “novos” Direitos Humanos, provoca a reação dos que
antes só estabeleciam deveres, ação e reação caminham em paralelo com afirmação
e negação de direitos e de deveres. Pode-se dizer, neste prisma, que a mais
atentadora forma de combate aos direitos humanos deriva do fascismo, porque é
um surto negativo de direitos construído silenciosamente, vagarosamente, até
que se torne a fonte do poder opressor. Por isso, o fascismo tende a ser uma
forma regulamentar (“normalizando-se” em violência) e regulamentadora,
especialmente porque se ocupa do Poder Político para “normatizar” outras regras
de direito e administração da vida social e política.
O fascismo, em forma
populista e perversa, tende a colonizar a “mente” dos seguidores, notamente
pela “exaltação da ignorância”, tem como suas principais vítimas iniciais, não
por acaso, a educação, a ciência, a cultura, as artes, a comunicação, as formas
de interatividade social desbloqueadas do medo, do controle antiético, agora
por ação/inculcação do atavismo, do moralismo, pelas religiosidades
controladoras, enfim, pelo poder central manipulador, regressivo e repressivo.
Desde sua apresentação clássica, a partir da Itália de Mussolini, a ideia de
caos, desordem, conturbação, tem sido a bomba operatriz da manipulação popular.
Neste caldo fascista, do
passado e do presente (quer seja como proto-fascismo), o ativismo democrático,
participativo, instaurador da Política (Polis) e da civilidade – pelo
engajamento social e popular nas causas dos múltiplos Direitos Humanos –,
subverte-se em atavismo, um tipo de eterno retorno da inconsciência, do
misticismo, das crendices.
· Se
o ativismo exige reconhecimento político da causa, o atavismo trabalha duro
para que a Política seja desfeita;
· Se
o ativismo eleva a desmagificação (como “desencantamento do mundo”) e a
necessária racionalidade processual (a exemplo do próprio Direito), o atavismo
é complacente com a subsunção dos anteriormente declarados, democraticamente,
imaculados direitos humanos fundamentais, individuais e sociais;
· Se
o ativismo faz da ação propositiva e não só reativa um elo fundante da
consciência social e política, porque a práxis revê e revigora a concepção
política original (teoria e tese), como parte sólida do mundo concreto em que
se vive e atua, e a ser ele próprio repensado (antítese), o atavismo refuta
qualquer perspectiva desse “mundo concreto-pensado”, porque não se pode, não se
quer “pensar” para despossuir o domínio abusador;
· Se
o ativismo traz a Ideia de Síntese (inclusiva de Direitos Humanos), o atavismo
é a antítese, o antípoda, dos mesmos Direitos Humanos que deveriam ser a
síntese social;
· Se
o ativismo é projetivo, fertilizador do futuro (teleologia), a descortinar-se
não-opressivo, o atavismo é arcaico, retrógrado, regressivo e repressivo.
Hoje, porém, o fascismo
pode-se dar em formatos mais ou menos acentuados pelas características técnicas
do século XXI, como é o caso da assim chamada “pós-verdade”, a partir do
sobrepeso da mídias oficiais (tornadas reféns como Diário Oficial
televisionado), das Fake News bijetoras das redes sociais de interação, das
vontades e (in)determinações resultantes da consciência imagética – em que,
efetivamente, uma imagem (manipulada ou não) vale muito mais do que mil
reflexões –, do aceleramento das postagens do indivíduo/individualizado (que
desconhece o Outro e a Outra) e do viral de si mesmo a ser compartilhado e
dirigido pela inteligência artificial. Nesse caso, não deixa de ser profunda
ironia a constatação de que a inteligência artificial, como quintessência da
inteligência humana, seja utilizada exatamente para obnubilar qualquer criação
inteligente e criativa.
A isto ainda podemos acrescer o fenômeno da Ditadura Civil e/ou militar – ou ditadura civil militarizada, em que os tanques de guerra não mais precisam ocupar a Avenida Paulista –, bem como a adesão carreirista do mundo jurídico, alguns porque veem somente a atividade economicista (advocacia) e outros (Magistratura e Ministério Público) porque se ocupam do poder para fazer carreira na administração pública abusadora da democracia, do Direito, da eticidade constitucional. Mas, é justamente desse lodo de distopia e negação da vida, do caos, que ressurge a luta e a transformação libertadora que impõe politicamente a inclusão dos Direitos Humanos, tanto na pauta do poder central quanto na vida comum do homem médio.
Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência
Política e em Direito)
Professor
Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Departamento
de Educação- Ded/CECH
Programa de
Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS
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