Domingo, 3 de abril de 2016 - 10h29
- o caso do lumpem que locupleta os grupos de poder hegemônico
No campo dos nacionalismos, via de regra fascistas, pode-se dizer que vigora a cultura da torpeza que se alimenta do homem médio em sua vida comum, tanto quanto do homem da política e dos que não são homens médios: os aplicadores da lei.
Como uma espécie de Raio X da convivência popular-elitista, em que se destaca o tipo sociológico do liberal-reacionário, o fascismo tem crescido em todos os segmentos sociais.
Ou seguindo a expressão de Norberto Bobbio, filósofo italiano, jurista e profundamente liberal:
“O fascista fala o tempo todo em corrupção.
Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964.
Ele acusa, insulta, agride como se fosse puro e...honesto.
Mas o fascista é apenas um criminoso, um sociopata que persegue carreira política.
No poder, não hesita em torturar, estuprar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos.
Mais que corrupção, o fascista pratica a maldade.”
É um fenômeno global. Porém, aqui, sobretudo nos últimos dez anos, o liberal, antes progressista, é agora reacionário: os aparelhos de repressão do Estado e o capital predominante antagonizam e mitigam os direitos fundamentais. Portanto, entre nós, o tipo específico é de um fascismo liberal-reacionário.
O que dizer do Judiciário que expede mandado coletivo para que a polícia faça buscas em todas as residências de um bairro pobre e habitado majoriatariamente por negros? Não é fato incomum no Rio de Janeiro[1].
Temos, então, exemplo maior de um total Estado de Exceção construído com apoio do judiciário, mas voltado somente contra pobres e negros. Basta-nos imaginar o mesmo efeito em Ipanema ou no Morumbi, caçando traficantes de elite.
Pode-se repetir o pensamento: “vigora a cultura da torpeza que se alimenta do homem médio em sua vida comum, tanto quanto do homem da política e dos que não são homens médios: os aplicadores da lei”.
É um aporte fascista com recorte no cesarismo reacionário – como diria o pensador e dirigente do Partido Comunista italiano, Antonio Gramsci, até ser preso e morto pelo fascismo.
É um cesarismo jurídico pré-capitalista e involutivo em relação ao próprio Estado de Direito burguês. Pois, não há isonomia jurídica, equidade social. Os hipossuficientes são os mais perseguidos, humilhados, cassados e caçados.
Faz-se desse modo porque o lumpemproletariado – neste país, os pobres e os negros – é quem locupleta os grupos de poder hegemônico. Assim, para os detentores do poder é dirigida toda a engrenagem “salutar” do Poder Político.
Medidas judiciais como esta, seletivas, antipopulares, antidemocráticas, usurpadoras do Estado de Direito revelam tão-somente num claro e evidente recorte de classe social em defesa da propriedade dos usurários do poder.
Para o lumpem, na versão deformada do fascismo e do cesarismo (com uso de recursos próprios a Júlio César) é endereçado um Estado Penal que se avista de longe, sob a mira do giroflex e ao alcance do calibre .40.
Enfim, trata-se do mesmo e antiquíssimo Estado de Exceção seletivo, impiedoso; tem efeitos de uma ferida aberta, provocadora de tortura viva e imposta à moral republicana. O capitão do mato, algoz da senzala, não faria melhor.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
Domingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)
Necropolítica e luta de classes no Rio de Janeiro - O fim do Estado
A chacina ou o massacre – como se queira chamar – levados a cabo pelas forças policiais do Rio de Janeiro, a mando do Governador do Estado, no dia 28

Educação e Sociedade: Sociologia Política da Educação
O leitor terá a seguir apresentação do mais recente livro de Vinício Carrilho Martinez, professor titular da Universidade Federal de São Carlos. Ace

Ela pensa? - a inteligência desumana
Tanto fizemos e desfizemos que, afinal de contas, e ainda estamos no início do século XXI, conseguimos produzir uma inteligência desumana, absolutam

Pensamento Escravista no Brasil atual
Esse texto foi pensado como contribuição pessoal ao Fórum Rondoniense de Direitos Humanos – FORO DH, na fala dirigida por mim na mesa Enfr
Domingo, 9 de novembro de 2025 | Porto Velho (RO)