Quinta-feira, 12 de julho de 2018 - 19h16
Antigamente, pessoas denominavam outras, com as quais viviam, de parceiras ou parceiros. Era uma forma carinhosa, respeitosa de se dirigirem a quem dividiam seu tempo, seus gastos, energias, momentos bons ou ruins. Alguns desses parceiros ou parceiras eram maridos e esposas, outras apenas dividiam o teto, a cama, a convivência. Por exemplo, os(as) parceiros(as) dividiam as praças. Hoje nem praças há.
Chegada a modernidade do século XXI, e que não é um primor de Ética e de Interação Social – em que abundam os psicopatas de todo gênero, especialmente os que “vivem pelo dinheiro” –, no lugar da afetividade dos(as) parceiros(as) surgiram os tais “parças”. Quem são?
Particularmente, penso naqueles 51 milhões de reais encontrados num apartamento, depois atribuídos a um dos grandes apoiadores do presidente. O povo diz que é seu “parça”, a justiça diz que não, porque não há “provas”. O Congresso Nacional também disse que não, ao barrar dois processos de investigação.
Pois bem, pelo sim, pelo não, continuarei neste fabuloso conceito (“parças”) que, possivelmente, como nenhum outro, é capaz de explicar a terra brasilis: em primeiro lugar, diria que os “parças” tanto expressam “parceiros(as) de negócios” (lícitos ou não) quanto expelem o sentido de “comparsas”. Em nossa política profissional os “comparsas” constituem exemplo notório.
Mas, há muitos outros casos, como: banqueiros sem vigilância; agronegócio sem controle; ruralistas lutando pelo direito de matar; bispos que conseguem privilégios de seus governantes, em detrimento do povo e do Estado Laico; empresários que sonegam e praticam evasão fiscal com estímulo do Estado; fascistas que pregam o racismo e a tomada militar do poder, sem sofrer nenhuma ameaça do Ministério Público; todos que vendem os votos e as consciências; todos que compram produtos furtados ou roubados; todos que violam direitos de outros.
Na modernidade, também chamada de pós-modernidade, os “parças” ainda produzem e lucram muito com a indústria da mentira: Fake News. É tão grave sua incidência que geraram nova categorização social: a “pós-verdade”. Ou seja, ninguém mais se importa se o fato é real ou mentiroso. Acredita-se na primeira postagem das redes sociais. A mídia oficial, distorcida pelos interesses dos seus “parças”, é claro, contribui como ninguém para esse efeito.
É certo que não escrevo aqui para criar “nova” tipologia sociológica ou política. Porém, é verdade que se trata de fenômeno cultural que tomou conta do país. O jogador Neymar (e seus alardeados “parças”) jogando poker depois da eliminação do Brasil, na Copa, ilustra o sentido geral aqui adotado.
Nesses tempos, fico feliz em não ter “parças”. Outros que também não quero atendem por “compas”. Fica pra outro dia, no entanto, adianto que “compas” tanto repercutem “companheiros” quanto “comparsas”. Prefiro o que sempre foi simples, barato e fácil de entender: amigos e amigas.
Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Educação e Ciência Política)
Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS
Departamento de Educação/Ded
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