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Vinício Carrilho

Diário Oficial da Caverna - 30 dias de isolamento


Diário Oficial da Caverna - 30 dias de isolamento  - Gente de Opinião

Uma só certeza: amar a Nina como um “autista social”. 

Sobre a pandemia de 2020, um milhão de prognósticos foram feitos, alguns com maior embasamento científico e lógico, por exemplo, retraimento da economia, decréscimo do PIB e coincidente aumento sistêmico do desemprego e da miséria humana. Alguns apostam que a crise/pandemia trouxe significados humanistas, como demonstração de maior empatia, altruísmo e fraternidade. Muitos grupos sociais teriam se engajado a partir das redes sociais e virtuais de assistência e recolhimento de pessoas em dificuldades existências e materiais. Em contrapartida aos otimistas, muitos alegam o crescimento exponencial de disfunções morais, psíquicas e políticas, a exemplo da explosão da intolerância, das mentiras vendidas como verdade, a crença na salvação por milagres ou os ataques mais absurdos possíveis contra a ciência, o isolamento, em desfazimento das instituições públicas que procuram refrear o desprezo do capital pela vida humana. Nesta linha comparativa, ainda podemos acrescentar um dilema que talvez seja próximo da existência da Humanidade: sairemos dessa crise mais humanos, sociáveis, menos egoístas ou, ao contrário, ainda que não propriamente egoístas, sairemos mais céticos, menos receptivos, mais egocêntricos e centrados em nossas críticas e vidas próprias? Particularmente, acredito sofrer desde sempre de um tipo voluntário de isolamento, realmente como demonstração de cansaço e de indisposição social, sobretudo, diante de alguns tipos sociais: os mais egoístas, os cínicos nem pensar, os aduladores, os portadores de extrema vaidade e orgulho ferino (logo, facilmente ferido) ou “afetados” de outros tipos. Não sei se tem código no catálogo da saúde pública que classifique esse “déficit social” (CID), mas denominei de “autismo social”. Não se trata do autismo conhecido de modo razoavelmente satisfatório, porque esse tem CID. No meu caso, e acredito que aflija muitos dos leitores, trata-se de um “autismo social, em que se evita a prática social conscientemente, voluntariamente. É um caso explícito, indisfarçável, de desgostar de um ambiente ou convívio em que alguém fala demais, eleva o tom da voz desnecessariamente ou que se vale de sarcasmos programados para – como diz a gíria nova – causar, aparecer, prevalecer sobre os outros, especialmente sobre os mais frágeis. Também não suporto que distorçam, deturpem minhas palavras, menos ainda as tergiversações, as meias verdades, como se aquele(a) egoísta pudesse desvirtuar, iludir a inteligência deste egocêntrico que aqui escreve. Então, de minha parte, posso dizer que procuro praticar a fraternidade, sempre que é possível, assim como a tolerância – menos com os intolerantes e egoístas, – mas, desconfio que sairei do isolamento ainda mais convicto do meu “autismo social”. Para muitos é só chatice, porém, penso que é algo mais complexo, exatamente por ser planejado e relativamente controlado – a não ser pela expressão facial, que logo diz que estou injuriado com algo ou alguém. O lado bom é que me descredencia a ser cínico ou sociopata. Afinal, a principal regra do mafioso é “ocultar seus sentimentos e pensamentos”. E disto estou livre, sou livre a ponto de escolher ficar só quando e onde quero, além de escrever na testa que as malas me enchem muito rapidamente. Amar gatos é outro sinal, um bom indicador dos portadores de “autismo social” e, como os felinos, não sofro como a maioria os efeitos do isolamento social em razão da pandemia da COVID-19. E também me alimenta ainda mais a certeza no Direito, o Direito do Outro, seja ele(a) como for, assim como amar a Nina.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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