Sábado, 21 de março de 2015 - 12h55
O niilismo totalitário, adorando-se incondicionalmente, não é exclusividade do Estado Islâmico (EI), uma vez que acossa - e muito - os Adoradores do Capital. Mas, o EI é a bola da vez, ao destruir definitivamente uma parte fundadora da história da Humanidade (e do próprio islamismo). A diferença - mesmo que sejamos pecadores do capital - está na tentativa de preservar o padrão civilizatório. Devemos sempre recordar do arquimilionário nipônico que queria ser enterrado com uma pintura única, mas acabou impedido pela Corte Superior japonesa. Depois de muitos protestos pelo mundo afora, o testamento foi negado, alegando-se exatamente o valor monumental da obra. Valor inestimável para a Humanidade, a pintura não poderia ser convertida ou reduzida aos milhões de dólares pagos na sua aquisição.
A diferença, então, é que o quadro foi resgatado do túmulo da vaidade e a proto-história do Oriente está sendo consumida pelo obscurantismo. E mais obscuro ainda é pensar sobre a "humanidade" que gerou/permitiu que o "lado obscuro da força" chegasse a tal ponto. Sem uma mudança radical no status do sistema global - com o capital internacional à frente -, iremos ver muitos outros EIs em igual ou superior ignorância do que é a Humanidade. Sem mudar as condições e bases mal assentadas, a ladainha só vai se repetir: "jogar bombas"; "matar líderes; “cortar a cabeça da medusa"; "invadir, destruir". Esquecemos de ver/dizer é que o EI é uma medusa (com muitas cabeças) que se transforma em centopeia, caminhando agilmente e com força bruta por todo o planeta. O que também não serve de desculpa para nada fazer, para não-combater o EI e sua avalanche de desintegração moral e cultural.
O que une os dois elos da promiscuidade política, entre Ocidente – que financia a instabilidade política para obter vantagens econômicas na região – e Oriente (destruidor de toda memória que não seja a sua), é a busca de financiamento para as “causas”. O Ocidente (a CIA/EUA) treinou Bin Laden e Saddam Hussein para combaterem os que não se dobravam ao Império. Fez o Iraque entrar em guerra com o Irã. Perdeu. Na derrota descartou tanto o saudita quanto o iraquiano, e depois caçou os dois em novas guerras de conquista. O Oriente sem horizonte, do EI, pratica o tráfico arqueológico com o Ocidente. Faz uma fortuna para comprar mais armas ocidentais de destruição da vida e da história, com a própria destruição da história do Oriente e das vidas daqueles que se colocam à sua frente. O Talebã, um dos precursores do EI, alimenta-se da venda de papoula e ópio para o Ocidente. Voraz consumidor de tudo que possa adormecer a consciência parasitária – dos que não agüentam servir ao sistema, sendo tragados por ele –, o Ocidente se comove com o Alzheimer da cultura histórica, mas quer esquecer irreversivelmente que é seu criador. Parace lenda, mas quando a história se afirma como farsa, as criaturas sempre se voltam contra seus criadores. Ou seja, não é lenda, é a sina de uma história mentirosa e contada aos pedaços, tropeçando em interesses mesquinhos de posse e propriedade. Consumidor da vitalidade de qualquer cultura, o passado dos engodos quer nos condenar a não ter futuro.
Vinício Carrilho Martinez
Professor da Universidade Federal de São Carlos
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