Domingo, 18 de agosto de 2019 - 09h05

Como tudo, na vida social, a
inteligência e a consciência começam conjugando, articulando “com”. O mais
célebre articulado humano é a confiança, porque está em todos os pactos e
contratos, individuais, interpares, ou coletivos.
COM FIANÇA. Fiel Depositário,
aquele que guarda a posse da confiança.É tão sério que é crime: infiel
depositário. Apropriação indébita. CONFIANÇA é foda, é a base da legitimidade,
da amizade, de amorozidade. Sua quebra, obviamente, é o estopim da animosidade.
Quando se refere à soberania, trata-se da guerra. Quando se refere à soberania
popular tratamos do descrédito, da desesperança. Quando é pessoal chamam de
desilusão (a perda da ilusão, da crença ou admiração). Quando é emocional
podemos entender como decepção. A diferença é que, individualmentee, ocorre
como indignação e, coletivamente, como sublevação. Alguém já deve ter escrito
isso: sem confiança, vigora o “homem, lobo do homem”. Enfim, ambos são maus
comportamentos que resultam em algo de mau cheiro, quer dizer, pura M... O que Shakespeare
traçou para a Dinamarca, em Hamlet, está saindo pelas nossas bocas.
Nos
relacionamentos, especialmente amorosos, no início, ninguém dimensiona
adequandamente os erros e os acertos. Certamente, preferimos acertar, a errar.
Com o tempo, os defeitos, que sempre existiram – mas, não eram “vistos” ou
jogados embaixo do tapete – começam a falar por si. No fim, e muitos de nós já
passou por isso, só vemos o que é defeituoso, torto, desequilibrado naquele(a)
que antes só tinha beldades e acertos. E aí acaba – e um modo de se livrar dos
defeitos do(a) outro(a) é contabilizar tudo na conta dele(a). Ou seja, só
lembramos dessa pessoa quando destacamos uma coleção de defeitos graves – o que
tinha de bom ficou no passado. É uma ótima forma de esquecer, jamais se
solidarizar com os defeitos do(a) outro(a). Obviamente, para que o feitiço dê
certo, camuflamos nossas maiores mazelas.
Outra
questão interessante nessa análise é que na Política (Polis) não funciona
assim, uma vez que se pode ver claramente um traste no comando político reunir
as piores pestilências do capeta e, mesmo assim, continuar no apoio firme e
forte. Enfim, vale dizer que a consciência é coletiva; pois, a análise que
fazemos em casa, idividualmente, não comporta os mesmos códigos que aplicamos
na rua, na amplitude das relações humanas coletivas. De certo modo,
parafraseando Paulo Freire, acredito que posso chamar de “consciência
intransitiva”, a primeira, doméstica, do âmbito privado, e de “consciência
transitiva”, a segunda, a do espaço público, da Polis, que é por onde
transitamos “em meio aos outros”, “fazendo-se na/pela política”, socializando-nos,
nos erros e acertos de todo “animal político” que se torna ser social
(seguindo-se a tradição de Hobbes). Também emprestaria o título de “consciência
de classe”, quandos nos benzemos na ação política propositiva, não só reativa,
e defenestramos o capeta-mor.
O maior problema, nesse caso, me parece estar na impossibilidade de se “ensinar a Liberdade” a quem não se vê como escravo da ausência da própria vontade. O que La Boetie chamou, apropriadamente, de “servidão voluntária” e que, no senso comum, resume-se numa frase disonante de inteligência: “vamos deixar como está, pra ver como fica”. Por isso, e por outras, a política se (des)faz em casa também, mas a consciência vem das ruas.
Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência
Política e em Direito)
Professor
Associado II da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Departamento
de Educação- Ded/CECH
Programa de
Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade/PPGCTS
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