Segunda-feira, 1 de julho de 2013 - 15h04
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As elites políticas brasileiras estão com enorme dificuldade para avaliar e entender em profundidade o que abala a República em 2013. Dentro e fora dos partidos oficiais, em Brasília no Palácio do Planalto e também na oposição (seja a moderada, seja a raivosa, de sempre), a Multidão – como fenômeno global – ameaça todas as estruturas, todas as regras políticas envelhecidas pela institucionalização e pelo tempo. É óbvio que a maioria que participa dos protestos não sabe do que trato neste artigo. Mas, é certo que esquerda e direita estão bem perdidas. A Multidão, como todos já sabemos – pelo que temos visto – não tem cor, nem partido, nem filiação. Pode ser que lá encontremos comunistas e anarquistas, mas também veremos fascistas e até bandidos comuns que se aproveitam da aparente confusão. A Multidão é eletrizante, duvido é que seja revolucionária. Mas é um tipo de complexo social, político, cultural que ultrapassa as limitações dos partidos políticos, das associações, dos movimentos sociais tradicionais e sindicatos ou centrais sindicais. Isto também é meio chocante para muitos que não acompanham a dinâmica social internacional, uma vez que a realidade da Multidão já se manifestava nos anos 90 no México, em Chiapas, e depois em Seatle nos EUA. Com razões e motivações semelhantes, ainda que articuladas de modo diverso. A Multidão é socializante, e ainda que não seja de todo socialista.
É um movimento global formado de outros grupos e movimentos, é politizado, mas não partidarizado – no Brasil, ganhou ares de ser contrário a qualquer manifestação política: “O PSTU e a Juventude do PT, além da Conlutas - Central Sindical e Popular (CSP), foram rechaçados pela multidão que começou a caminhar pelas ruas centrais do Recife ... Alguns manifestantes do PSTU gritaram ‘Censura é ditadura"[1].
No Brasil lembra outros episódios da formação de nossa República – desde a Proclamação da República e a chacota popular denominada de “bestializados” pelas elites políticas e depois na Revolta da Vacina. Nos dois casos, em comum, há a enorme desconfiança com as instituições públicas. O povo ironizava radicalmente, sem nenhuma cerimônia, os desfiles oficiais com suas pompas e galões. O povo, hoje na forma de bilontras, muito mais esperto e escolado de mentiras e enganos criminosos, associa partidos e sindicatos e demais formas instrumentalizadas pelo Poder Político com os problemas estruturais do país. De certo modo, a Multidão se volta contra o formalismo e a normatização da política. Desse modo, pode-se entender o desabafo do sindicalista: "Não vamos aceitar o fascismo. Sem partido é fascismo. Quem agrediu nosso pessoal é uma milícia travestida de ato político", disse Jadir Batista de Araújo, coordenador do setor naval da CUT. A rua é de todos" .
O perigo, certamente, está em perder-se a miríade e a proposta de se ter uma política de melhor qualidade. O limite entre sem-partido-hoje e sem-partido-sempre não é muito claro. Daí o perigo real do fascismo. E, talvez ainda mais grave seja não entender que esta enorme manifestação por todo o país é altamente politizada, ainda que a maioria dos manifestantes não se veja fazendo política, ou seja, sem saber o real significado da política a “maioria” pode achar possível abolir esta mesma política. Por confundir a política do “animal político” com a política do Congresso Nacional, o bebê está indo embora com a água suja do banho. É lógico que não há como abolir a política – nem o sonho fascista suporia isso. E também é óbvio que, atualmente, não há como prescindirmos da política institucional representativa. Qual país no mundo poderia sobreviver sem o Poder Legislativo ou em funcionamento integral com base na democracia direta das ruas? Pressupor que seria viável, ainda que se alimente um sonho comunista ou anarquista, hodiernamente, isto sim é preocupante. A Multidão brasileira não parece chegar a tanto. Não se luta, pelo menos não ainda, contra o status quo, não se quer a reversão, inversão, flexão, revolução do estado de coisas, a não ser pelo grito de basta à corrupção.Em todo caso, é bom ficar atento, vigilante, contra todos os que propuserem o fim da política. O Brasil não suporta mais fascismos.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia - UFRO
Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ
Pós-Doutor em Educação e Ciências Sociais
Doutor pela Universidade de São Paulo
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