Domingo, 19 de novembro de 2017 - 14h29
O dicionário comum diz que desrazão é “aquilo sem razão”. Porém, veremos que no nosso caso é algo dissonante, pior e muito mais grave. Não é fácil explicar de forma direta o que é desrazão, uma vez que não é o contrário de razão e nem é sinônimo de ideologia, ficção ou ilusão. Por analogia, diria que é um tipo de crença absoluta no ridículo. Mas, também a crença não resume a questão, porque ridículos podem ser criados pelo marketing, por alguma ideologia, crendice ou até religiosidades e uma cientificidade: chamada de “pós-verdade”. Alguns dirão que “o Deus Poderoso criou a ameba e esta edificou o homem”. Em todo caso, pode-se dizer que somos governados (dominados) por formas e forças ridículas em Si. Está em maiúsculo (Si) porque alguns desses seres que nos “governam” acreditam em Si-mesmos.
Por sua vez, é preciso ver desde já que não se trata de um governo ridículo – até porque isto não seria privilégio e nem notoriedade dessa época: tampouco seria um governo ridicularizável ou ridicularizado. Está mais para um “governo do ridículo”. Portanto, é uma esfera pior de poder – ainda que não se confunda com desmando. Pois, sabe-se perfeitamente o que “se faz” ou desfaz: a exemplo dos direitos fundamentais.
Vejamos um exemplo irrefutável: você recebe alguém em sua casa, de madrugada, é grampeado por essa pessoa confessando atos abomináveis (tipo: pedofilia ou estupro de idosos ou deficientes imobilizados), esses fatos são levados à polícia – e, no fim das contas, você acredita que quem cometeu crimes bárbaros foram seu “amigo”, que lhe gravou na monstruosidade, e a polícia que cercou sua casa. Tudo bem que a legalidade das questões tem um prisma próprio; contudo, o que discuto é o fato de você crer – piamente – que os outros estão errados e nos erros que tenham cometido esteja comprovada sua inocência. Em ato contínuo à auto absolvição dos pecados abomináveis, que fazem todo ser humano ter vergonha de ser o que é, você ainda instala bloqueadores de gravação em sua casa e sobe um muro de plantas ornamentais para que ninguém veja quem entra e sai de seu abatedor de consciência.
O próximo exemplo decorre deste porque milhões de outros seres adeptos da desrazão começaram a se esbaldar com o exemplo primordial. No segundo caso, igualmente real, um jovem publicou numa revista “científica” – intitulada de “liberal”, produtora de mentes brilhantes para os governos do futuro – que a física quântica é uma poderosa arma ideológica do Comunismo, fruto dos infernos, porque é muito difícil de entender. O fato de que este jovem e os editores da tal revista liberal nada saibam de ciência é um fato, o outro fator (a desrazão em Si-mesma) é acreditar que tudo que o ser desconhece é produto comunista ou do Diabo. O dado grave, neste caso, nem é tanto encontrar algum ser que acredite nisso, mas sim vermos ilustres alfabetizados – e seus movimentos por um Brasil livre – desescolarizem o conhecimento do ensino médio a serviço de partidos que gerem a biomassa do “governo do ridículo”.
O irônico diria que demos um “jeitinho” na razão. No entanto, penso que apenas construímos um sentido nada razoável para o ridículo. Se a ciência social clássica se bateu por séculos a fim de formular algumas bases racionais para a dominação política, nosso legado para a Humanidade é sua desrazão. Afinal, ao tirar a razão do ser humano, sobra pouco que o diferencie de uma ameba. Do jeito que vamos, não é difícil imaginar quem acredite na superioridade natural (primeva) das amebas.
Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência Política)
Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Departamento de Educação- Ded/CECH
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