Segunda-feira, 25 de agosto de 2025 - 19h27
Vou me
valer do candomblé, que nos lembra uma
verdade profunda: a morte não é um fim abrupto, mas uma transição.
"Continuidade, não fim" é a essência que guia a compreensão de Orum,
o espaço onde a pessoa se transforma em ancestral. Nesta visão, a morte é parte
de um ciclo vivo, em que o indivíduo não desaparece, mas ingressa em uma nova
função dentro de um todo que permanece. O guardião Iku, nesta tradição, emerge
como a força que conduz os espíritos. Não é visto como inimigo nem como algo
externo ao equilíbrio natural; é parte do vasto ecossistema espiritual que
sustenta a ordem do cosmos. Esta percepção aproxima a morte da própria vida, em
uma dança contínua que mantém a harmonia entre o que foi e o que será.
Por isto
o uso do branco no luto, associado a Oxalá, simboliza paz, pureza e proteção. É
a cor que acolhe a passagem, marcando o momento de transição com uma energia de
serenidade. Os cantos, rezas, oferendas e a presença coletiva atuam como
bússolas emocionais e espirituais, oferecendo consolo, sentido à perda e
acolhimento aos enlutados. Nessas práticas, o laço entre os vivos e os
falecidos não se rompe; ele se transforma e se expande pela ancestralidade que
nos conecta. A ideia de que laços são
eternos pode soar paradoxal frente ao impulso humano por explicações racionais.
É verdade que, quando nos faltam explicações, criamos lendas, crenças e mitos.
Mesmo assim, muitos de nós, que tentamos ser mais céticos, reconhecemos uma
transformação fundamental na maneira de entender o mundo: Lavoisier nos lembra
que “nada se perde tudo se transforma”. Assim, a memória, a presença dos
ancestrais e a prática espiritual continuam vivas dentro de nós, moldando
escolhas, valores e identidades. Neste sentido, a crença na continuidade não é
apenas consolo; é uma forma de preservação do que nos torna humanos.
Esta
visão não nega a ciência; pelo contrário, a coloca em diálogo com ela. A
percepção de que a consciência pode permanecer de alguma forma, seja na memória
coletiva, na herança de ensinamentos ou na continuidade de rituais, resiste à
dissolução absoluta. Mesmo quando sentimos o peso da ausência, a lembrança, os
ensinamentos e o legado daqueles que partiram permanecem. E é neste sentido que
a ideia de eternidade se aproxima da nossa experiência cotidiana: não como
imutável imortalidade física, mas como uma presença contínua que se reencontra
na prática, no afeto e no compromisso com o bem comum. Em última análise, a
experiência humana de luto e memória se entrelaça com a sabedoria ancestral que
preserva a paz, a dignidade e o sentido da vida. O Candomblé oferece, assim,
não apenas um ritual de despedida, mas um mapa para entender a continuidade: a
morte como passagem, a ancestralidade como presença, e a prática coletiva como
abrigo que nos impede de nos perdermos
no vazio, que a ciência diz que é o nosso fim, ser o que fomos: matéria sem
consciência.
Numa forma
simples de dizer: penso que sim, a
continuidade da vida, em sentido amplo, nos torna eternos. A partir desta
percepção, a “ausência”, com a morte não estarei aqui, não é o fim do ser, mas a passagem para uma
forma de presença que molda quem somos. No entanto, reconheço o peso da mudança-a
percepção de que vou sentir muita falta da consciência que temos do mundo, do
nosso senso de eu e do nosso tempo partilhado com os outros. Isto é a vida e
também a morte. Afinal vivemos morrendo
e acumulando, enquanto possível, memórias.
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