Sexta-feira, 17 de dezembro de 2010 - 11h26
Silvio Persivo (*)
Quando se fala em endividamento e inadimplência no Brasil havia, até pouco tempo atrás, uma certa racionalidade, uma sazonalidade no comportamento do consumidor que se caracterizava por, via de regra, alcançar seus níveis mais altos de endividamentos, e até mesmo incapacidade de pagar as contas, por volta do final do primeiro semestre. Havia nisto também uma lógica que nos parecia familiar que é a de que, com os gastos extras de fim de ano e as férias, se acabava por, lá por fim de março, começo de abril, se voltar a consumir e até mesmo comprar bens duráveis. O resultado era que, em junho, no máximo, julho as contas desandavam. E muitos devedores se moviam para regularizar a situação (limpar o nome) e procurar chegar em dezembro com crédito e capacidade de compras. Até meados desta década o comportamento era este.
Com o aumento do crédito, que dobrou no período Lula da Silva, e alguma melhoria da renda das classes mais baixas, que a propaganda política procura classificar como “a nova classe média”, a ordem e a sazonalidade desandaram de vez tanto que, para meu espanto, em termos nacionais, a inadimplência voltou a subir em novembro, segundo a Serasa Experian, sendo este o sétimo mês consecutivo em que isto acontece. Em parte porque, de fato, existem os novos consumidores, pessoas que não tinham condições de comprar muita coisa que, no momento, o crédito abundante favorece. As pessoas de classe mais pobre têm o que nós, economistas, denominamos de “propensão marginal a consumir”, ou seja, o dinheiro que entra é utilizado em consumo. E também raciocinam em termos absolutos. Explicando: não levam em consideração as taxas de juros ou o custo final. Sua lógica é a de se “cabe no orçamento”. Em suma, um televisor LCD se tem uma prestação de R$ 176,00, e ela pode ser paga, o custo final, muitas vezes, 2,3 vezes o valor do bem, não é levado em consideração. Decorre, daí, a euforia do consumo e o aparente contrasenso econômico que vivemos de existir crédito abundante com taxas de juros elevadas. Falta o que se denomina de planejamento financeiro. Falta o que se denomina de consumo consciente. O consumo é bom para a economia tanto que se prevê que a economia brasileira vai crescer 7,5%, mas, não pode ser fonte de endividamento permanente.
É fácil conseguir crédito, porém, não é barato. Nos Estados Unidos em crise os juros anuais estão na casa de 10,7% ao ano. Aqui, se paga, sem pensar muito, 4% ao mês que é um juros quase criminoso, mas, se chega a pagar no cheque especial o juros criminoso de 8% ao mês ou o assassino de cartão de crédito de 12% ao mes. Se, na pesquisa nacional do mês de novembro da Confederação Nacional do Comércio (CNC), em termos de Brasil, o número de famílias endividadas cresceu de 58,6% em outubro para 59,8% em novembro, em Porto Velho a inadimplência cresceu de 67% para 69% das famílias com o endividamento local continuando 15% maior que o nacional. Isto, aliado ao fato de que, mesmo com o pacote do Banco Central, o consumo não arrefeceu, mostra que, hoje, o brasileiro foi como muita sede ao pote do consumo e se encontra todo melado. Felizes e endividados. E a política monetária brasileira consegue ignorar que não é lógico, nem saudável, ter uma economia com crédito fácil e taxas de juros absurdas.
(*) È Doutor em Desenvolvimento Sustentável.
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