Domingo, 4 de agosto de 2013 - 10h54
Normalmente, quando nos chega a notícia de que alguém que conhecemos se foi para sempre, ocorre em nós (além da tristeza) uma espécie de inquietação que nos induz à reflexão, a um mergulho nos sentimentos mais recônditos, nos medos, no temor da finitude, no horror da dor causada pela perda das pessoas mais próximas; porém, ao mesmo tempo, ocorre um paradoxo: somos invadidos pela força do instinto que nos empurra à vida, e à emoção de ainda estarmos aqui, contemplando o azul do céu nas manhãs ensolaradas, deleitando a alma com o canto dos pássaros, refrescando o corpo em água cristalina, e outras maravilhas que são verdadeiramente eternas e que constituem a verdadeira riqueza da vida.
Ao mesmo tempo que fazemos parte do todo, que é a humanidade, somos únicos; ao mesmo tempo que acreditamos ter pleno conhecimento de nossas emoções, somos surpreendidos por reações que nos causam estranheza; ao mesmo tempo que nos reconforta o que consideramos permanente em nós, percebemos que até alguns valores cultivados por décadas também são mutantes; enfim, tudo em nós é efêmero e paradoxal, assim como o é a própria vida. E dificilmente chegamos ao fim da existência com o pleno entendimento deste paradoxo; dificilmente conseguimos nos traduzir antes do ato final.
Aos leitores, os versos de Ferreira Goulart, alguém que chegou mais próximo de TRADUZIR-SE:
Uma parte de mim é todo mundo/ outra parte é ninguém/ fundo sem fundo.
Uma parte de mim/é multidão/ outra parte é estranheza/ solidão/.
Uma parte de mim/pesa, pondera/ outra parte/ delira/.
Uma parte de mim é permanente:/outra parte/ se sabe de repente/.
Uma parte de mim é só vertigem/ outra parte, linguagem/.
Traduzir-se uma parte/ na outra parte/ que é uma questão de vida ou morte/
Será arte?
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