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Sandra Castiel

Continhos marginais II - O terremoto e as flores


Continhos marginais II - O terremoto e as flores  - Gente de Opinião

Empresária e rica, sua casa era uma alegria só: vivia entre filhos jovens, entre amigos e amores (estes, um de cada vez, enquanto durasse a paixão). Até que um terremoto chamado Câncer tirou-lhe o chão sob os pés.

Atônita, recolheu-se a uma clínica afastada, onde optou por permanecer sem visitas, enquanto durasse o tratamento, até a cura. Foi alojada em um quarto confortável, onde duas janelas grandes abriam-se para os raios de sol. Cansada, debruçava-se em uma das janelas e tentava se distrair, dando nomes às flores do jardim: Dolores, Maria das Dores, Amores, Alvores e assim por diante.

O tempo, moleque travesso que tudo sabia, passava correndo, em frente à janela de seu quarto, deixando um rastro de flores pequeninas, conhecidas como sonhos. Encantada com a beleza dos sonhos, ela passou a mantê-las em sua cabeceira, refrescadas em um delicado e miúdo vaso de cristal; mesmo assim, as belas florezinhas murchavam rapidamente, pois eram filhas do tempo, estavam ali para roubar as horas. Tão empenhada em sua cura, não se dera conta de que o movimento da vida não espera por ninguém. Passara tanto tempo...

Até que um dia, curada, voltou.

Tudo estava diferente! ...

Seu reduto de alegria, sua casa, estava abandonada.

- Os filhos, as amigas...

Sumiram todos?

Um dia ouviu o eco da própria voz dentro da casa vazia. Entrou em depressão.

Passou a chorar noite e dia. Suas lágrimas eram de sangue.

Morreu de anemia profunda, rapidamente.

 

Sandra Castiel

Professora, escritora, membro da Academia de Letras de Rondônia,

Cadeira n. 36 

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