Sábado, 21 de abril de 2012 - 08h11
Noutro dia li um texto interessante, voltado à realidade de alunos universitários que são incapazes de ler um enunciado e compreendê-lo em sua plenitude; sua alfabetização não teve continuidade; não foi além de pequenos textos próprios às primeiras séries do ensino fundamental. Esta situação é comum neste país. Este é um tema recorrente entre escritores da área, mas o texto a que me refiro é diferente.
Não se trata de mais um texto sobre educação; é, sim, uma crônica sobre a vida. O autor refere-se a esses alunos com o devido respeito e descreve a realidade da grande maioria deles: gente que não teve oportunidade de frequentar regularmente a escola e, mais tarde, busca recuperar o tempo perdido, fazendo cursos noturnos supletivos. Muitos desses indivíduos chegam ao ensino superior.
O que me chamou atenção foi uma personagem cujo sonho era chegar à universidade e tornar-se realmente uma profissional competente; estava determinada a alcançar este objetivo. Depois de concluir o supletivo, ingressa na faculdade. E ali, a percepção do real bate-lhe fundo, pois se dá conta das próprias limitações. A angústia desta mulher começa a partir de sua conscientização.
A universitária tenta, desesperadamente, desvendar a complexidade do conhecimento contido nos livros, porém os conteúdos dos textos revelam-se herméticos; algo além do que seu limitado universo linguístico e do que seu pequeno repertório de leituras ao longo da vida conseguem reconhecer.
O ponto alto da história acontece no auditório da faculdade. Interessadíssima em uma palestra que está sendo ministrada ali, a mulher, sentada entre os que assistem a tal palestra, mobiliza toda sua concentração na figura do palestrante e em seu discurso, tentando apreendê-lo; esforço vão.
Em determinado momento da palestra, dispersa-se; sua mente é arrastada pelas demandas da própria vida; o autor do texto não as descreve, mas eu as suponho, pois estas, sim, estão ao alcance do entendimento da personagem: o filho que precisa terminar o ensino médio, mas tem dificuldade em Física; a filha noiva que deseja uma festa de casamento com o vizinho, ajudante de pedreiro; o marido desempregado há tanto tempo e sofrendo de diabetes; a conta de energia que está atrasada; ela própria que precisou faltar ao trabalho para assistir a tal palestra na faculdade etc.
Passei alguns dias a pensar nessa história e acabei trazendo-a para meu pequeno contexto de considerações existenciais; quanto mais me esforço para compreender as herméticas leis que regem a existência, a vida, as relações humanas, por exemplo, mais me dou conta de minha pequenez.
Enquanto os anúncios ao derredor proclamam as compensações egoicas do êxito e das relações bem sucedidas - família numerosa e unida, felicidade, plenitude, sucesso e celebrações - sinto-me, eu própria, a universitária perdida em sua insignificância; a presença conquistada a duras penas no auditório da vida, ouvindo do “palestrante” um discurso inacessível, algo muito além de minha secundária capacidade de assimilação. Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe; sou eterna aprendiz na vida, a conviver com este terrível paradoxo.
Fonte: Sandra Castiel
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