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Sandra Castiel

Em Minha Vida, A Mãe de Jesus


Em Minha Vida, A Mãe de Jesus - Gente de Opinião

Quando eu era menina, aprendi com as colegas da vizinhança uma musiquinha que me deixou encantada: “Mãezinha do Céu/ Eu não sei rezar/ Eu só sei dizer/ Que eu quero te amar / Azul é teu manto/Branco é teu véu/ Mãezinha, eu quero/ Te ver lá no Céu.”

Cresci, tornei-me uma jovem leitora, voraz, percorri grossos volumes, pois a literatura virou uma paixão em minha vida. Porém, se algo não ia bem, e a solução fugia ao meu controle, punha-me a cantar a musiquinha sacra da infância. Ainda hoje é assim.

A religiosidade é forte em meu ser, assim como faz parte de mim a devoção à natureza, à vegetação, às árvores, aos rios e mares, enfim, a tudo que o homem é incapaz de criar; creio que esta impotência humana leva pessoas a destruir a maior criação de Deus: a Vida.

Aprisionam as aves, poluem rios e mares, capturam animais de pequenos e grandes portes, como se estes fossem seres inferiores e não tivessem direito a passar a existência em seu próprio habitat. Tomei conhecimento de que algumas aves estão migrando da Amazônia à região do Pantanal mato-grossense.     

Tenho acompanhado o sofrimento dos animais da floresta, as mortes banalizadas como se fizessem parte do ritual das queimadas. Que maldito ritual é este? Combustão devido ao calor? Não creio. Neste incêndio infernal, há a mão humana; tanto a maligna que propicia o incêndio por motivos torpes, como a mão abençoada que tenta contê-lo.

Ponho-me a imaginar o desesperos dos animais, de todos, pequenos, médios e grandes: para onde correr, em que galho de árvore proteger-se, se tudo está em chamas, quilômetros à frente, quilômetros atrás? Não há mais árvores, não há mais tocas, não há mais a possibilidade de chegar aos rios, pois estes estão cercados pelas labaredas e pela fumaça infernal.

No interior de minha casa, onde vivo nutrindo a paz possível, vem-me a imagem da onça pintada, socorrida com graves queimaduras nas patas; quanto desespero deve ter sentido aquele pobre animal, correndo sobre brasas, numa tentativa de evitar a morte... Estou no controle para evitar esta barbárie? Não.  Além de cumprir meus deveres de cidadã, só me cabe contestar as malditas queimadas e clamar pela divindade que me aquieta o coração:

Mãezinha do Céu, /

Mãe que acalma tantas almas aflitas, /

Volve teu olhar piedoso à terra em chamas. /

Ouve o grito silencioso das árvores /

Que tombam vencidas pelo fogo assassino. /

Ouve o farfalhar das asas dos passarinhos e das aves maiores/

 Em sua busca desesperada por um galho verde para pousar…/

 Sanhaçus, beija-flores, curiós, bem-te-vis, peitos-roxos, pipiras, curicas, araras, tucanos, patativas, arapongas, azulões, periquitos, papagaios, corujas, aracuãs, tuiuiús, /

E milhares de outras espécies que fazem parte das ricas florestas brasileiras com seu canto ao alvorecer e ao anoitecer. /

Mãe Santíssima cheia de graça, /

Estende teu véu sagrado sobre as matas e sob o céu estrelado, /

Derrama sobre as chamas tuas lágrimas de luz, /

 Realiza um milagre para deter o fogo na floresta, /

 A fim de que vivam os macaquinhos, as preguiças, /

 Os tatus, as pacas, as onças, as formigas, as cigarras, as cobras e todos os animais./  

Mãezinha do Céu, eu não sei rezar/

Eu só sei dizer que quero te amar/

Azul é teu manto/ Branco é teu véu/

Mãezinha, eu quero te ver lá no Céu.../

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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