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Paulo Saldanha

Wilson Fernandes, um homem chamado Trabalho



Paulo Cordeiro Saldanha
 

Mas bem que ele poderia chamar-se também Wilson lealdade, Wilson devoção, Wilson generosidade! Wilson competência!Gente de Opinião

Conversar com ele, que comemorou seus 92 anos, em 27 de setembro pretérito. é receber uma aula de história, é recolher a bênção do passado virtuoso, é, enfim, ser alcançado por lembranças, algumas que estavam tão escondidas no cérebro, que me fizeram um bem danado vê-las “explodir” na nossa conversação.

Nosso papo começou, após a acolhida de um quase tio para com o seu quase sobrinho. Ele foi pupilo e assessor do meu Tio-Avô, o Coronel Saldanha, ainda na Empresa de Navegação do Guaporé, trabalho que o aproximou de toda a minha família.

Cresci ouvindo sempre meus pais falando da amizade que dispensavam ao Wilson e ao Dico Careca, seu irmão mais novo, com quem joguei futebol, na juventude. Ele, um pouco mais velho que eu.

Nascido num Seringal do Rio Cautário, considera-se Matogrossense e quando veio com os Pais morou próximo da casa do Pai do Delny Cavalcante, seringalista Severino Gabriel Cavalcante, ali na Quintino Bocaiúva.

No começo profissional, o Wilson Fernandes recorda, com gratidão, o primeiro emprego com os Melhem (os irmãos Abdon e Toufic), com apenas 14 anos, como balconista, quando vendia do tecido, a perfumes, mercadorias em geral, até calçado.

A Loja já se situava na Avenida Independência, hoje Presidente Dutra.

Trabalhar cedo, lhe valeu como uma dádiva, pois aprendeu a valorizar o labor, a ter disciplina, valer-se da hierarquia para educar seu gênio, sem que tenha perdido a saudável vida de jovem, que até agora enaltece, pois jamais se privou da liberdade para fazer o que mais gostava: estudar, praticar esportes e pescar.

O primeiro Mestre, o Professor Basílio Magno Ursolino, bem como o Carlos Costa e Thales de Paula Souza lhe deram a direção, o rumo ao seu progresso pessoal. Através do Colégio “Escolas Reunidas”, pôde merecer o aprendizado e os ensinamentos para vencer na vida.

Já em 1940 o Exército passa a fazer parte da sua vida. Aprende os serviços e se torna topógrafo. Viaja até Belém e recebe instruções para lutar como Expedicionário na Guerra inventada muito longe daqui. Seu grupo de Pracinhas não chega a viajar para a Europa e retorna para Porto Velho. Faz o Curso de Cabo, porém não conclui o treinamento preparatório de Sargento das Armas, quando dá baixa em 1944 e é contratado pela Empresa de Navegação do Guaporé.

Como se vê, o trabalho era o seu Norte, a sua inspiração, o seu objetivo. Nessa empresa, ainda muito novo chega a comandar embarcações, inclusive a Felix de Lima, movida a roda de ferro.

Recorda que havia 22 postos para recolher a lenha destinada a essas lanchas, com seus maquinistas (cuidava das caldeiras) e Foguista (responsável pelo suprimento de lenha na caldeira).

A fartura observada no trajeto Guajará-Mirim/Vila Bela da Santíssima Trindade era tanta que, comumente, as hélices batiam em cascos de quelônios ou atingiam um animal movimentando-se em direção aos barrancos. As capivaras, tartarugas, porcos selvagens, tracajás, ciganas, macacos eram vistos nas margens ou nas galhadas.

Suas recordações o levam a citar, de forma recorrente, as ações e o civismo de um Cel. Saldanha, Boucinhas de Menezes, Dom Rey, Victor Arantes, Almerindo Ribeiro dos Santos, Emilio Santiago, Mário Nonato da Costa, etc. e, encontra tempo para referir-se sobre a presença progressista no rio Guaporé de Américo Casara, Chico Ruivo e Miguel Mateiro, Julião Gomes, Durgo, Paes de Azevedo.

Lá pelas tantas é convidado para novo emprego e passa a atuar como Topógrafo da Prefeitura Municipal. Abre avenidas e estradas e, entre 1974 e 1975 começa a estruturar a urbanização da hoje cidade de Nova Mamoré. Na Prefeitura de lá, há uma planta por ele elaborada situando as artérias da futura cidade (abrindo picadas e dando o rumo) do que depois seria a sede do novo município.

No dia 31 de agosto de 1958 casou-se com a Senhora Maria Inês Ocampo Fernandes, com quem tem 7 filhos: Antônio, Sérgio, Wilson Filho, Fernando, Cândido, Neila, Nilva e Nélia, todos formados em diversas áreas do terceiro grau. Família linda, que sente verdadeiro orgulho do seu Pai e líder. O casal já tem 12 netos e 2 bisnetos.

Seus olhos não escondem algumas frustrações: as avenidas interditadas, interrompendo o tráfego e a movimentação de pessoas, em face de prédios que foram autorizados ao longo dos anos a se implantar; a sujeira das avenidas pelo descuido do poder público, mas também de alguns moradores.

Há mais de 53 anos possui a residência erguida na Avenida XV de Novembro. Foi, com sua família, o primeiro morador daquele perímetro. Com uma muda, presente do seu amigo Ismael Silva, mecânico dos bons e Pai do também mecânico Izaul, plantou e vai recolhendo os frutos de uma frondosa mangueira na metade do florido quintal da sua casa.

A trajetória do cidadão Wilson Fernandes não teve o reconhecimento das cidades de Guajará-Mirim, nem de Nova Mamoré, onde atuou com desvelo e devoção de alma, profissionalismo e denodado amor ao trabalho e à terra. Ativo homem, gerenciou o Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Regional) e a Ceron, mas jamais se empolgou com a política, nem com os políticos.

Discorda de certos historiadores que se valem da ausência de humildade e vão escrevendo verdadeiras excrescências referentemente a história do hoje Estado.

Nostálgico, mostra a miniatura de um barco, em que expressa as saudades de seus amigos do peito, Luciano Cavalcante, Jeremias Gusmão e Paulo Saldanha Sobrinho, suas lembranças mais vivas do período da pesca no rio Pacaas Novos, quando se transformava em exímio “zagaiador”.

Em 1975 aposentou-se, após 40 anos de vitoriosa carreira e vive, aos 92 anos, caminhando numa bicicleta, abençoando a cidade que ajudou a estruturar e a progredir.

Um homem da dimensão alcançada pelo cidadão e Chefe de família, do quilate de Wilson Fernandes fica imortalizado como referência e como paradigma, por isso eu beijo as mãos desse Venerando Senhor, que é marido, Pai, Avô e Bisavô, mas que é uma criatura de Deus, abençoado por Êle para ser instrumento da Paz, do progresso e do desenvolvimento de uma Terra, que mereceu o presente de tê-lo, nesta geração, como artífice e como inspirador.


 

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Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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