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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

TRIBUTO AO JORNALISTA EMILIO RODRIGUES SANTIAGO


 
O Jornalista Emilio Santiago sempre esteve adiante do seu tempo, mesmo quando, aos dezessete anos, aportou em 1934 por estas plagas. Na sua bagagem, um mundo de juventude, um esplendoroso futuro e muita vontade de vencer e de participar. 

Nascido em Manaus no dia 14 de setembro de 1916, seus pais espanhóis José Rodrigues Vinhas e Consuelo Santiago Vinhas, deram-lhe excelente formação. Seu caráter firme deu a dimensão da sua história de vida. 

Aqui teve uma ação muito intensa no campo político-administrativo e social Antes, em 03 de novembro de 1933 torna-se guarda fiscal, adido na Delegacia Fiscal do Norte de Mato Grosso, com base em Manaus-AM. Em 10 de junho de 1934, num domingo, chegou, na companhia de seu chefe Cel. Antônio Antero Paes de Barros, e, na estação ferroviária, foram recebidos pelo então Prefeito Municipal Manoel Boucinhas de Menezes. Note-se que, naquele tempo, Guajará fazia parte do Estado de Mato Grosso. No dia seguinte assumia os seus novos encargos. 

Nesta terra, além de Guarda Fiscal, exerceu funções como a de Delegado Especial, Inspetor de Coletorias, Superintendente do Serviço de Navegação do Guaporé, Cônsul Boliviano, advogado “ad Hoc”, Promotor “ad Hoc”, mercê do notável saber que ostentava, como auto ditada que era. 

No dia 10 de fevereiro de 1951 funda o primeiro jornal da cidade com o nome de “O Imparcial” e, ainda, estrutura a Tipografia Vinhas, cujo nome homenageia o seu genitor. 

O Jornal aumenta o seu prestígio político e passa a ser a grande promessa de afirmação política do município, no eixo Guaporé-Mamoré e até desta faixa de fronteira. 

O Emílio Santiago, com aquele entusiasmo dos homens que tem o seu foco sempre em direção ao progresso e ao desenvolvimento, passa a apoiar todas as iniciativas que conduzam ao itinerário do crescimento e do melhoramento regional; a Criação, por exemplo, do Aero Clube de Guajará-Mirim (pasmem! Até Aero Clube já tivemos aqui), Lions Clube, Escola Técnica de Comércio, Ginásio “Paulo Saldanha”, Cruzeiro Atlético Clube, América Futebol Clube, Vasco da Gama e Flamengo, além do Guajará Esporte Clube, todos aqui da cidade; além do mais, envolveu-se até no plantio das mudas de fícus de Benjamin (ali na Praça Mário Correa e nas Avenidas da cidade). 

De vez em quando, por força de suas convicções e de suas posições tão firmes, conseguia um adversário e arranjava umas perseguições. Numa delas, por conta do manifesto exigindo a criação do Território Federal do Guaporé, do qual fora um de seus líderes, enfrentou uma confusão dos infernos contra o então Delegado Especial do Mato Grosso, Joaquim Cesário da Silva, quando a sua cabeça foi colocada a prêmio, por fim, debelada aquela ação tão deletéria, objeto de um egoísmo que queria impedir o nosso progresso, o inicio da nossa redenção política. 

A sua mulher, Dayse Ewerton Santiago, com ele formava um dos casais mais adoráveis da pequena cidade, haja vista o grau de afinidade, de harmonia que os atraía e os transformava nas pessoas tão generosas, quando essa virtude os levava a fazer o bem, seja confortando uma família pela perda de um ente muito querido, seja levando orientação, apoio material, para outra em dificuldade. 

Passeavam pela cidade, sempre de braços dados, parando aqui e acolá para um papo com um amigo, com um compadre, com uma comadre e, depois, paravam num bar para “saudar” uma cervejinha bem gelada, com que ambos iam nutrindo o papo com tantos assuntos que só os dois sabiam enaltecer. 

As atividades multifacetadas do Emilio Santiago eram tantas que não cabem no espaço de que disponho. O certo é que ele se tornou num baluarte e num dos pilares de sustentação deste Município. Foi representante do Jornal do Comércio de Manaus e da Folha de São Paulo. Aliás, quando um Órgão poderoso publicava matérias de seu interesse em “O Imparcial”, o preço cobrado era comparado aos praticados pelos jornais do sul. Muitos riam dessa diferenciação na cobrança dos espaços comprados no seu jornal. Porém, o irmão menos afortunado era dispensado das cobranças que seriam justificadas. 

Um dia lá na sua casa eu o ouvi repetir uma das frases de Voltaire ”O trabalho espanta três males o vício, a pobreza e o tédio”. Apesar de jovem ainda, dei-lhe razão. 

Walter Williams, que, em 1908 criou a primeira Faculdade de Jornalismo, a Escola de Jornalismo do Missouri-Colúmbia, nos EEUU, em seu Credo dos Jornalistas, onde estava, deve ter manifestado orgulho quando o seu pupilo daqui valendo-se do seu pensamento de que “ninguém deve escrever como jornalista, o que não pode manter como cavalheiro”, deu um recado mercadológico e filosófico ao seu público, ao redator-chefe e colaboradores, mensagem essa que foi transferida, como uma questão de honra e herança sentimental para “O Mamoré”, o nosso hebdomadário, que vai reinando soberano nos céus e limites guajaramirenses, e fora deles, pós-período em que, triunfalmente, brilhou “O Imparcial”, do jornalista e benemérito Emílio Rodrigues Santiago. 

Paulo Cordeiro Saldanha

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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