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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

Saudade, palavra genuinamente da Língua Portuguesa


Paulo Cordeiro Saldanha*

Saudade, palavra genuinamente concebida à imagem e semelhança da Língua portuguesa. Sentimento, todavia, universal! Inerente ao ser humano, virtuoso ou não!

Poetas em grande número quiseram traduzir o seu significado e acabaram concebendo lindas figuras literárias, que, pela metade, nos comoveram. É um sentimento que não se resume a uma frase ou até a um parágrafo. Exigirá sempre muito mais...

Reconheço-me temerário por buscar interpretar, como se fora um palpiteiro, a percepção do ser humano no ato e/ou no impulso do sentir, que é sempre tão personalíssimo e espontâneo, como se fora uma centelha a brotar. Pelas minhas limitações, é certo que não ultrapassarei os 2% percentuais, daquela metade acima referida.

Essa saudade surge de um nada, como inspiração no tudo que nos cerca: dos acordes de uma música, do amanhecer observado, do pôr-do-sol em declínio, da chuva que cai, da foto ao lado, do perfume que nos inebria e nos alcança, da voz que se interpreta como parecida, de alguém tão querido, mas ausente pela distância ou pela definitiva partida.

Aparece a partir de uma frase lançada ao léu ou de um cenário novo semelhante àquele gravado na nossa caixa craniana, ou se apresenta sem premeditação, quando do retorno a um lugar determinado onde, de passagem, as lembranças voltaram a povoar os pensamentos.

Manifesta-se de forma intensa, quando, no quarto de dormir se recolhe uma roupa, ainda que desbotada pelo tempo, mas que representa um presente precioso ofertado numa data importante.

Comparece no nosso cérebro enquanto pela vidraça se vê cair a chuva fina, antecedendo a friagem que não tardará a chegar.

Exibe-se de maneira suave, mas atual, vívida naquele instante, quando se ouve uma canção nova ou antiga, cujos versos ou acordes nos remetem para um tempo bom que não desgruda do nosso ouvido.

Movimenta-se no nosso imaginário quando, por detrás da serra, surge radiosa, impávida, altiva e dourada aquela lua cheia, às vezes, vaidosa e orgulhosa, tripudiando dos demais satélites planejados e adrede colocados no cosmo pelo Grande Ser da Criação, ante a beleza que se sabe detentora, daí a imagem plena de sedução que ostenta, enquanto desfila na imensidão do céu.

Chega devagar, “devagarinho” quando um perfume nos encaminha para um determinado momento que, timidamente, ficou ali arquivado no cantinho das lembranças, pronto para acontecer novamente, ainda que no flash que durou um pedaço da eternidade, se fizesse presente de forma intensa e irremovível...

Atinge-nos, beneficiando-nos com as recordações da fase do Primário, Secundário e até da faculdade, doces reminiscências dos diversos períodos estudantis.

Embora invisível, porque é bem guardada nas nossas recordações, a saudade pode se traduzir em tristeza, tipo assim, como nos transmitiu o Vicente Celestino, autor e intérprete da época de meus pais: “saudade palavra doce, que traduz tanto amargor, é como se fosse espinho cheirando a flor”...

 Afinal, lembranças também doem quando se referem ao amor não retribuído; a paixão irrefreável interrompida, aos sentimentos mal interpretados que se tornaram página virada, num romance de amor pessimamente desenhado, logo, mal resolvido...

Mesmo porque a paixão irrefreável, ante a sua negação se transforma em amargura. Pura ou carnal, observando-se os limites da civilidade, respeito e delicadeza, não se deve deixar abortar esse sentimento, porquanto não cabe impor nenhuma restrição, nenhuma barreira, nem preconceitos! É injusto! É irracional! Mas, será sempre contraditório! “Todavia, irracional e contraditória é a paixão irrefreável!”

 E, na estrada longa da vida, quando bate a saudade, se as recordações mais vivas são traduzidas pela perda do primeiro amor, ai, sim, vai-se “chorando a nossa dor, igual uma borboleta, vagando triste por sobre a flor”.

Saudade, palavra doce, substantivo feminino, –tinha que ser feminino– decifrada pelo Aurélio como “Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia”.

Ah! Saudade que todos nós sentimos! A palavra é “bem pequena mas diz tanto de uma vez, por ela valeu a pena, inventar-se o português”.
 

 Gente de Opinião

Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha /
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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