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Gente de Opinião

Paulo Saldanha

Luz Viva, Sombra Intensa



Paulo Cordeiro Saldanha*

Que me perdoe a escuridão, mas prefiro a luz viva, cristalina, fúlgida, irradiante, com a qual faço reverência à Vida e ao Sol.

Todavia, não lanço pedras à sombra intensa porque a ela me curvo, principalmente se surgir enquanto o luar não aparece.

É como se fosse um trovador aspirante, que entra no tablado, numa forma de aquecimento da plateia, antecedendo a exibição da Estrela principal, a apresentar-se, depois, no palco, desejando brindar seus fãs ensandecidos, ansiosos, ali em frente ou nas laterais, instalados nas frisas.

Sombra, ausência de luz solar, prenúncio da noite, namorada do dia. Sombra, prima do crepúsculo, sócia soberana do amanhecer, momento que antecede o raiar do Astro Rei, que, espreguiçando-se, alonga seus braços fazendo um convite a seus súditos, pois é chegado o momento sagrado do despertar.

Luz, claridade irradiante do caminhar da Terra em derredor o sol, cuja metade aparece, após as sombras intensas da noite. Luz que traduz a divindade da reciclagem da vida, mediante o calor que exalta a renovação da natureza, metamorfoseando seres vivos e modificando cenários.

Sombra tão cúmplice, que esconde o ingresso sorrateiro num determinado local, na calada da noite, quando dos encontros clandestinos de amantes, que se dão o direito às descobertas mútuas, cada um a seu modo, dedilhando no corpo do outro, uma muda e voluptuosa canção de amor físico, mediante a sôfrega entrega, em que não há perdedores, só ganhadores.

Luz que significa a claridade que abençoa o amanhecer, cujos raios solares vão sugando as gotas do sereno recolhidas pelas folhas verdes das árvores, alimentando o processo de fotossíntese, cuja importância é essencial para o Planeta, vez que exerce relevante papel no crescimento e na reprodução dos seres, haja vista a doação de oxigênio para a respiração dos indivíduos.
Sombra que filtra o luar e o céu pontilhado de astros, como nos disse o Poeta, “salpicando estrelas no nosso chão”, anunciando o plenilúnio que será descoberto quando a Nuvem passageira, querendo irreverenciosamente aparecer, descobrir que é totalmente dispensável, naquele horário.

Luz clara, dourada, veemente, bendita e cheia de graça que, se expande no momento em que o Cantador deixa fluir os primeiros acordes na serenata, dedicada à mulher amada, que aguardava ansiosa e sensual a homenagem oferecida, parecendo insinuar que a lua também deseja ouvir as canções que nem serão para ela...

Sombra dadivosa da mangueira que dá tantos frutos entre novembro e janeiro, a cada ano; sombra abençoada onde armo a minha rede, para embalar na cadência do vento os meus projetos, devaneios e os meus anseios.

Sombra há, Todavia, que favorece a ação de meliantes na execução de um projeto idealizado sob a claridade da luz, no intento de fraudar, enganar, vilipendiar, agredir, furtar e roubar.

Luz que àqueles se contrapõe e foca do alto numa agilidade tal que descobre bandidos fugindo, correndo, como se ratos fossem, ante a descoberta de suas presenças pela atenta autoridade, cumpridora da ordem e da necessária proteção ao cidadão.

Luz intensa, lampejo de clarão que movimenta os nossos cérebros, fazendo-nos criar a música e o poema, a ópera e a cantiga de ninar, a crônica e o romance, a pintura e a escultura, com os quais desejamos imortalizar a nossa geração, perenizando um instante e um processo de evolução cultural.

Sombra viva que existe para se valorizar a luz; luz que simboliza a explosão, o Big Ben, na aurora dos mundos; luz, síntese da energia cósmica, que movimenta a espiritualidade e a matéria, a ação e o movimento, a mudança, a hidráulica, a mecânica e a eletricidade, mas que se envergonha, fica rubra, diante da inércia e da estática dos homens públicos de má vontade.

Luz que a distribuo em profusão, quando posso, desejando ninar o irmão próximo ou distante, sob a forma de mensagens positivas de vida, ainda que passando por cima das sombras que tento transformar em claridade, sendo otimista, porque a fé que vou nutrindo se alimenta da esperança que tenho na existência e na energia que advém de Deus.

*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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