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Paulo Saldanha

CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES: O Bancrévea Clube


 
Paulo Cordeiro Saldanha

Algumas cidades da Amazônia, como Manaus, Belém e Porto Velho já dispunham de sua sede social e/ou campestre, por iniciativa dos funcionários do Banco de Crédito da Borracha S. A, depois Banco de Crédito da Amazônia S. A. – hoje BASA – visando à confraternização de seus integrantes, entre si e com as sociedades locais. 

O endereço telegráfico do Banco da Borracha inspirava-se na terminologia latina que envolve o nome científico da seringueira, a nossa “hevea brasiliensis”. 

Essa palavra hévea, serviu como referência aos clubes criados pelos servidores do hoje BASA, porém nos idos 50 e 60. 

Em 1965 Guajará-Mirim, cuja instalação da filial do BASA data de 1942, ainda não tinha o seu Clube de campo. Até que assumiu a gerência local, o profissional Edmar Lima Vieira, um dos melhores executivos que vi nos cargos de direção. Educado, culto, sensibilidade à flor da pele, humano, humilde e plugado no futuro. Riso fácil era o líder que subordinados como eu reverenciavam e reverenciam até hoje. 

Já tínhamos o local escolhido, adiante do Igarapé Palheta. O nosso Presidente, democraticamente eleito era o Amyr Azzi, guajaramirense simpático e culto. Pai do Bebeto e da Cilene. Falava fluentemente o árabe, o inglês, o espanhol, o francês e o Italiano. Naquele tempo os bancários que logravam êxito em Concursos Públicos precisavam deter conhecimentos mais apurados, porém ganhavam salários superiores aos dos Magistrados. Não essas migalhas que os bancos, inclusive Oficiais, estão oferecendo... 

Sugeri, a partir de um papo, enquanto jogávamos bozó, ao Edmar Vieira e ao Amyr que nos envolvêssemos na ação de construir o nosso Clube. O Estácio Lopes Gusmão, o Vicente de Paula Gomes, o Joaquim Bártholo e eu assumiríamos os trabalhos onde nos fosse determinado. 

Eis que o Edmar marca uma reunião e, abrindo-a, disse solenemente que o Amyr faria uma preleção sobre o interesse de alguns colegas na construção do Bancrévea, iniciativa que ele, o nosso gerente e líder, apoiaria integralmente. E passou a palavra ao Amyr Azzi. 

- Vocês querem ou não querem? Foi o mais longo discurso que todos ouviram proferido pelo competente Amyr. E acabamos rindo da sua maneira direta de se comunicar. 

E o Clube foi concebido... 

Faltavam os recursos e o projeto. A liderança exercida pelo Edmar nos permitiu ter o projeto, a equipe de pedreiros e auxiliares. O Edmar trouxe um grupo de profissionais, lá de Cuiabá, sob o comando do Corretor Rui Moura, um excelente cantor de boleros e sambas, que articulou a venda dos títulos de propriedade, gerando o faturamento necessário à construção da piscina, do barracão, do campo de Volley-ball e de Futebol. Meses depois estava implantado o Bancrévea Clube. 

E a cidade ganhava o seu clube de campo. 

O Edmar, tendo ido a busca de novas missões, transferiu ao João Teixeira de Souza a gerência da Filial e o comando do Clube já em vias de conclusão dos serviços ali levados a efeito. 

Depois foi homenageado com o nome do Clube de Campo, num justo reconhecimento. 

Lembro-me que, na fase de implantação, o Joaquim Bártholo, o nosso Carola, manejava um trator objetivando nivelar o terreno onde memoráveis partidas de futebol foram jogadas para raiva de poucos assistentes, que se deliciavam com a falta de talento para o esporte, do Carlos Alberto Martins, o Pinguim, Vicente, Luiz Rodrigues da Cruz, Felipe Azzi, o Mário Monte, o João Teixeira, depois, Heitor Macedo, Diniz, Candoca, Kleber, Ajuricaba, Paulo Cruz, e tantos outros. 

Quase sempre figuras da sociedade iam por lá, para a prática do esporte bretão: exemplo, o Sizenando, que trabalhou na loja “As Pernambucanas”, que, na época, vendia tecidos. 

As análises das partidas eram feitas sob a inspiração de cervejas geladas e resolutamente recheadas de enormes gozações, oriundas das mentes sempre irreverentes, plenas de gozações e de bom humor extraídas dos privilegiados cérebros do Mário Monte, Sebastião Salazar e do Carolinha, para deleite de toda a troupe de “fazedores” de raiva. 

Tempo bom! Que não volta mais, é claro! 

A tristeza é ver que o Clube, que custou o tempo do Edmar Vieira, do João Teixeira, do Amyr Azzi, bem como a assunção de riscos pelos recursos envolvidos, a dedicação e o desvelo de tantos, que fizeram parte daquela geração, se acha hoje fora das mãos dos seus legítimos donos, que, por certo, nem os freqüentam mais, talvez até barrados sejam se, por acaso, pedirem permissão para, em retornando ao passado, desejarem visitar o patrimônio que ajudaram a edificar, com suor, sem sangue e sem lágrimas, mas com denodo, raça e entusiasmo...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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