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Paulo Saldanha

CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES: Construtor Emídio da Hora


 
 
Guajará-Mirim, ao longo de sua trajetória, revelou ser detentora de alguns vultos que lhe engrandeceram, num passado nem tão distante assim. Eram pessoas obstinadas, que lutavam tenazmente para verem o progresso chegar. Alguns ainda puderam vê-lo triunfar a partir de uma obra inaugurada, ou um serviço com tecnologia mais avançada responder presente no nosso pequeno universo. Outros tiveram ação concreta no rumo dessas conquistas, seja concebendo os meios para que fossem viabilizados aqueles sonhos, que viravam uma visão (o lado mais material daquela quimera), outros, enfim, atuavam, colocavam a mão na massa, como se diz no popular. Agiam! Tinham ação direta nessas transformações. Ele, o Emidio da Hora foi um exemplo dessa afirmação acima. 

O Emídio da Hora, aquele empreiteiro, que logo depois do fim da segunda guerra (1939-1945), chegou de mansinho aqui em Guajará, trazia uma experimentada carreira como Mestre de Obras, adquirida lá na Bahia. Era um homem do bem e um profissional da melhor escola. 

A sua marca como empreiteiro de obras salta aos nossos olhos a partir do Guajará Hotel, hoje Escola Durvalina Estilben de Oliveira; a partir do grupo Escolar Simon Bolívar, do hoje Hospital Regional, da Maternidade, e, salvo engano, do Lactário, também e, até, do anexo da prefeitura Municipal, isto sem falar nas dezenas de casas residenciais e comerciais que edificou. 

Por exemplo, aquela casa onde viveu o Elias Salomão Helou com a Estela, sua esposa, fora construída pelos sócios Emidio da Hora e Marcionilio, quando, depois, foi negociada e adquirida para ser o lar daquela família. 

Seus filhos Ednice, Valda e o Da hora (grande músico e, como o Pai, um construtor) aqui nascidos, deram-lhe a dimensão do sentido de família bem formada, que cultuava, ao lado de dona Dirce, como rumo de vida. Além da seriedade que imprimia aos seus negócios, o outro ponto forte daquele homem era a maneira gentil, fraterna, generosa como se comunicava com os demais. Humilde e bondoso, firme e justo, Alegre e risonho, parecia que sempre estava de bem com a vida. 

E estava mesmo! 

As dificuldades que iam surgindo, ele as enfrentava com denodo, com valentia e com criatividade. 

Lembro-me do quão fanático era pelo Guajará Esporte Clube, agremiação do seu fervor esportivo e um dos seus mantenedores. Não perdia uma só partida e, quando as vitórias eram possíveis, sempre as festejava ao lado dos atletas num dos bares da cidade, pagando as despesas, ou parte delas, numa parceria com outros torcedores, assim como ele, apaixonados pelo esquadrão alvirrubro. 

Antes da aquisição da sua “C 14”, aquele utilitário da GM, precursora da D 20, desfilava pelas ruas da cidade numa bicicleta e atendia as obras iniciadas, coordenando os serviços e determinando providências. 

Dono de uma lista de amigos notáveis, cujo exemplo vai do Waldemar da Loja “A Preferida”, passa pelo Augusto Lopes, irmãos João e Paulo Saldanha, Antônio Luiz de Macedo, Luciano Cavalcante, Simão Salim, Flávio Lins Dutra, Tito Hugo Lobo, Emílio Santiago, Capitão Alípio e tantos outros. Com ele não havia desafeto, mas somente amigos de fé, que os transformava em seus irmãos camaradas.

Em 03 de janeiro de 2002 o Emidio fez uma viagem. Foi encontrar-se com parte dos amigos que já tinham viajado antes dele. Devem estar jogando bozó num dos bares do céu. O Emidio não jogava bozó em qualquer lugar. Aqui, quase sempre no bar do Gonçalo! No céu, em qualquer parte, sim! Suas virtudes eram tantas que (alguém me disse), quando lá chegou os sinos do lugar, tocaram muito, simbolizando a alegria celestial e ele, sempre humilde, perguntou: - Senhor, por quem os sinos dobram nesta hora? 

- Eles dobram por ti, Emídio da Hora! Respondeu o Senhor, com aquele sorriso largo, repetindo o trecho de que se valeu Hemingway, copiando John Donne (1573-1631), quando deu título ao seu romance “Por quem os sinos dobram”. 

Lá no céu, o Emídio teve uma calorosa recepção, reservada apenas aos bem-aventurados, aos justos e aos homens de bom coração.

Fonte: Paulo Saldanha

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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