Sábado, 2 de abril de 2022 - 09h48
Meu amigo de longa data, o José Maria dos
Santos, líder e ativista dos interesses dos povos da floresta, um dos poucos
leitores que possuo, admirador do capitão Alípio, sem que eu esperasse
questionou-me se eu conhecia a história do Machiquerou.
–Zé,
devolvi, que personagem será esse?
–É
um bicho estranho, vive nos confins dos rios, principalmente aonde tem muita
pedra em seus leitos, temido pelos índios e beradeiros, com ambiência no rio
Pacaas Novos...
O
Zé Maria tem vivências e muitas histórias para contar e escrever. Homem íntegro
tem uma legião de amigos, muitos deles ajudou a crescer e a elevar como seres
humanos, à imagem e semelhança de Deus, Pai e Criador.
Nesta
Amazônia única e deslumbrante há mistérios tais, que não conhece a nossa vã
filosofia...
Por
conta então das lendas, há uma infinidade de entidades que permeiam o
imaginário dos povos das matas, com reflexo naqueles urbanos das pequenas
localidades. E eis que pontifica nesse meio o mapinguary, a mula-sem-cabeça, o
vira-porco, o caipora, etc, etc.
E
eu, amazônida da gema, assim como o José Maria dos Santos reconhecemos que, no
seu ventre, esta região tem segredos e singularidades que despertam
questionamentos e a atenção de cientistas e curiosos.
Falta
decifrar, por exemplo, o porquê de os indígenas (e outros nativos) terem olhos
amendoados, a exemplo dos esquimós, chineses e japoneses! E me sobrevém a
teoria do estreito de Bering, que permitiu a vinda de asiáticos, fugindo do
frio mais que intenso, quando lagos e mares ficaram congelados, facilitando a
passagem humana por aquele espaço marítimo.
Como interpretar que aqui no rio Pacaás Novos
tenha o idioma Xapacura, cujas palavras possuem raízes esquimós (?).
Todavia,
convém retornar a esse meu companheiro de fisioterapia, que me induziu a desvendar
um enigma vivenciado lá no alto rio Pacaás Novos, no seringal São Luiz, na
época pertencente ao Manoel Lucindo da Silva.
Revelação
que me faltou competência para decodificar...
Poder-se-ia, ante a
brutalidade com que agia, dizer que se trata de uma fera, com habitat às
margens dos rios, notadamente próximo de poços fundos, tendo como
característica o fato de soltar labaredas de fogo, chamas essas que queimam
pessoas, coisas e árvores, daí o pavor que se instala (instalava) nas
comunidades dos povos da floresta, quando os circunstantes sentiam a sua
presença.
Há, inclusive, uma
narrativa de que, durante um trágico encontro este matou um índio e deixou
outro com parte do corpo bem queimado.
O índio sobrevivente
chama-se Iri, que vive na aldeia São Luiz, quase na nascente do rio Pacaás
Novos, na Serra do Tracoá.
Há um relato dando
conta de que esse animal tem a aparência de uma ariranha enorme, grande e
agressiva.
Numa enchente fora de
época teria sido a última vez que o machiquerou fora visto. Acredita-se que com
essa cheia, uma verdadeira inundação, uma alagação quase tão grande quanto a de
2014, ele evaporou, sumiu, desapareceu...
Como o personagem
animalesco ficou famoso, um seringalista do entorno homenageou-o com o nome da
sua embarcação.
Essa história mereceu a
chancela do proprietário do seringal, até onde sei, senhor Manoel Lucindo da
Silva, confirmado pelo índio Irí.
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