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Paulo Saldanha

A minha socialização passou pelos colégios e pelos aviões


A minha primeira viagem aérea me levou até Porto Velho. Aos 10 anos, vivia eu a emoção de conhecer a capital, tomar sorvete no Café Santos, comprar um calçado na Sapataria Moderna e mais: calças e camisas na Casa Saudade.A minha socialização passou pelos colégios e pelos aviões - Gente de Opinião

Depois, no “Estádio Paulo Saldanha”, aquele do Ypiranga, assistir a partida futebolística entre as seleções de Porto Velho e de Guajará, com direito a ver o Ney Simões, Bacu, Chafon, Mário Teixeira como protagonistas contra os “traquinas”, meninos travessos, Simão Salim, Dênis Carrate, Carraspana e Flavinho Dutra, que, por pouco, muito pouco, quase ganhavam o jogo.

Nesse jogo vi o Ney Simões (craque dos bons) fazer um passe de letras, o Simão Salim surpreender o Chafon enquanto quicava a bola na área, depois de tê-la agarrado. Ardilosamente, o Simão retira do domínio do goleiro, aproveitando-se de sua distração, toca o “esférico” com o bico da chuteira e sem fazer falta, desvia a bola para as redes portovelhenses. Se perdemos por 3 a 2, lembro-me que o empate seria o resultado mais justo, não fosse a A minha socialização passou pelos colégios e pelos aviões - Gente de Opiniãoraça do trepidante Bacu, que venceu a defesa guajaramirense, com a garra e talento de que era possuidor. Paciência!

Já em 1959 fui estudar no Colégio Dom Bosco de Porto Velho quando convivi com o Lucio Guzman, Pedro Struthos, Rubens Borges, João de Deus, João Matny, Otomar Mariúba, Francisco Lacerda, Marineo, Aldenir Lima, Carlos Otino de Freitas, Dudu, Pelezinho, Ivo, Dirceu orelhinha, Zacarias, Paulo Nunes, Formiga, os irmãos Mazinho, Homero e Euro Tourinho, e tantos outros.

Ali, certamente continuei a construir a minha vida social, firmando algumas amizades que acabam por desafiar o tempo.

Mas, valendo-me do avião, por conta de um necessário tratamento ortodôntico rumei para a cidade do Rio de Janeiro. Primeiramente estudei num colégio que praticava a educação num estilo militar, pois pertencia ao Capitão Zenóbio da Costa, na cidade de Paty do Alferes (hoje Arcozelo Palace Hotel). Excelente Clima, situado entre Arcozelo e Miguel Pereira. Tempos depois, meus tios Ivo e Norma me transferiram para o excelente Colégio Santo Agostinho, no Leblon.

Educação bem dirigida, disciplina firme, ali tive como colegas, entre outros garotos, meninos com o sobrenome de Rosa Pinto, Segadas Viana, Pedroso Horta, Fischer, Bretas, cujos nomes perdi na esteira do tempo.

Pelo Colégio Santo Agostinho joguei futebol de salão no Flamengo, na Gávea, cuja quadra ficava embaixo das arquibancadas. Fiz gol e fui festejado pelos companheiros. Assistiam ao jogo estudantil os jogadores flamenguistas Ari, Joubert, Bolero, Jadir, Carlinhos, Jordan, Luís Carlos, Gérson, Henrique, Dida (ídolo do Zico), Henrique e Babá. Note-se eu já era Botafoguense nessa época.

Lá no Campo de futebol de um quartel do Exército no Leme, no campeonato estudantil da cidade, contra o Colégio Brasileiro de Almeida, fiz um gol olímpico, mas perdemos e fomos desclassificados.

O meu convívio social no Rio de Janeiro me permitiu ganhos de consciência, evolução e afirmação cidadã. Tive excelentes mestres, mesmo porque quando saí de Rondônia já herdara de meus pais lições de vida, instruções e recomendações para conviver melhor em sociedade.

Só que para chegar às terras cariocas me valia primeiramente do avião dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, aqueles DC 3, até Cuiabá; depois era promovido e utilizava o CONVAIR, passando por Campo Grande e Araçatuba, até Congonhas, depois o Scandia A-90 ou o Viscount me conduziam até o Aeroporto Santo Dumont, nas terras cariocas.A minha socialização passou pelos colégios e pelos aviões - Gente de Opinião

Foi assim que o Rio de Janeiro, (com o seu Pão de Açúcar, Corcovado, Maracanã, praias de Copacabana, Ipanema e Leblon) me chegou aos olhos, devagar, devagarinho, como quem chega do tudo. O tudo para mim era a imensidão da Amazônia, em cujo seio eu havia chorado pela primeira vez.

Ah! O DC 3, o considerado jipe do ar, apenas um acidente em mais de 25 anos de sobrevôo na Amazônia de Deus. Um só, no Acre. Aeronave segura, intrépida, voluntariosa, enfrentava tempestade com altivez.

O chiclete era distribuído pelo comissário para eliminar e/ou reduzir a pressão nos ouvidos. Depois, um copinho de café equilibraria a sensação de vazio do estômago até que o bar do aeroporto de Cáceres permitisse um sanduíche e um guaraná, para saciar uma fome que já surgia no horizonte de minhas ansiedades, a partir do pouso em Conceição e Vila Bela da Santíssima Trindade, no rio Guaporé.

Uma vez, bastante saudoso, fiquei quase um ano sem voltar à terrinha querida que, ao desembarcar em Conceição, abaixo do Real Forte Príncipe da Beira, corri em direção a margem do rio e, emocionado, com as mãos bebi da sua água e...chorei, chorei comovido porque já me sentia em casa.

É evidente que a minha socialização começou –como a de todos os viventes– no regaço familiar, mas devo aos colégios e a empresa Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, que me transportou, no sentido literal e espiritual do termo, para outra situação geográfica permitindo-me crescer como ser humano e cidadão.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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