Quinta-feira, 4 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

O futuro no Guaporé, depois Cone Sul



RONDÔNIA DE ONTEM

 

Gente de Opinião
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias

 

 
Um total de 375 ônibus lotados, 317 caminhões com mudanças e 177 automóveis que também traziam famílias resultava na média de oito veículos por dia. Em 1979 Rondônia sentiu na carne o peso da migração: precisou não apenas dos minguados recursos da Secretaria da Promoção Social, mas principalmente do Ministério da Saúde, para enfrentar o alastramento de endemias “importadas”.

Em 1980 “o bicho pegou”: nenhum migrante ficava em Vilhena, então, com 30 mil habitantes. Todos pernoitavam ou, no máximo, ficavam até dois dias na cidade. Pagavam as contas nos hotéis e pensões, juntavam os pertences e adquiriam passagens de 170 a 250 cruzeiros para Cerejeiras, Cabixi e Colorado do Oeste.

O catarinense Avelino Daros, com 52 anos na época, contava ter deixado a litorânea Araranguá para plantar soja em Verê, no sudoeste paranaense. Dali ele ouviu falar de Rondônia, viajou 2,5 mil quilômetros, e veio comprar dois lotes somando 80 alqueires, em Colorado. Sofreu um tanto. O acesso à cidade era impossível no período chuvoso.

O futuro no Guaporé, depois Cone Sul - Gente de OpiniãoTrês anos antes de o deputado Sérgio Carminato (PMDB) defender o “povo do Cororado” (sotaque dele) na tribuna da Assembléia, lá se iam as levas de migrantes para ocupar, além de cidades próximas ao eixo da BR-364, aquelas mais distantes, no Guaporé, mais tarde denominado Cone Sul.

Naqueles futuros municípios os colonos sulistas penavam ao deparar com surtos de malária, verminose, leishmaniose e picadas de cobra venenosa. Não bastasse tudo isso, alguns deles vergavam sob árvores ou toras tombadas na mata ou caídas de caminhões. Aqueles que um dia tiveram fartura lutariam bastante para tê-la de novo por aqui.

Caminhavam léguas levando nas costas o cacaio (saco com mercadorias), a exemplo de Jeremias Oliveira, 57, vindo de Mandaguari (PR). Em menos de dois anos no Colorado ele teve a terceira malária. Não resistiu e morreu antes de ser levado para um hospital em Vilhena.

Tudo era semelhante nos projetos Abaitará e Corumbiara, do Incra, que concentravam até então as frentes da reforma agrária no sul rondoniense. Em matéria de dor, sofrimento e perseverança, eles repetiam a façanha dos que acreditaram serem felizes um dia, optando por assentamentos dos projetos Riachuelo, Gy-Paraná (na época com G), Marechal Dutra e noutros onde o mosquito anofelino não escolhia os menos ou mais resistentes às picadas.

Entrando nesses redutos, a pessoa tinha quase 90% de certeza de que não se livraria facilmente da malária, doença da qual Rondônia foi “campeã” mundial. Com certeza, um campeonato às avessas, no qual o ser humano não passava de um número a mais nas estatísticas do Ministério da Saúde.


 

NOTA

Continuarei mostrando a saga desses migrantes em outros artigos desta série.

 

Siga Montezuma Cruz noGente de Opinião

 
www.twitter.com/MontezumaCruz
 

 


ANTERIORES



Coronel é flagrado de madrugada, levando peões para o Aripuanã

 

O gaúcho Minski, rumo a Cerejeiras

► Valdemar cachorro, o 'compadre' dos índios

► Policiais paulistas 'invadem' Rondônia 
    na caça aos ladrões de cassiterita


► TJ manda libertar religiosos e posseiros
     após o conflito  da  Fazenda Cabixi


► A sofrida busca do ouro no Tamborete,
    Vai quem quer  e  Sovaco da Velha


► Aquela que um dia foi Prosperidade


► Energia elétrica a carvão passou raspando

 

► Cacau chega à Alemanha, sob conspiração baiana

► Ministro elogia os 'heróis da saúde'

 
► Naqueles tempos, um vale de lágrimas



Publicado semanalmente neste site, no RondôniaSim e no Correio Popular.



 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 4 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

A terra treme em Porto Velho

A terra treme em Porto Velho

Já sob a direção do médico baiano Joaquim Augusto Tanajura, em 19 de janeiro de 1922, ano do centenário da Independência do Brasil, o jornal Alto Ma

Este é o patrimônio verde rondoniense em tempos de COP-30

Este é o patrimônio verde rondoniense em tempos de COP-30

Estão em Rondônia dez das 805 Reservas Naturais do Patrimônio Natural (RPPNs) do País. Elas são áreas protegidas, de acordo com o Sistema Nacional d

Já se passam 82 anos, desde o incentivo do Banco da Borracha à presença da VERT

Já se passam 82 anos, desde o incentivo do Banco da Borracha à presença da VERT

Porto Velho ainda pertencia ao Amazonas no final de fevereiro de 1943, quando o diretor do Banco de Crédito da Amazônia), Ruy Medeiros, visitava a Ass

Porto Velho já recuperava locomotivas na década de 1940

Porto Velho já recuperava locomotivas na década de 1940

Porto Velho salva locomotivas desde o início do Território Federal do Guaporé, em 1943. A mecânica com a utilização de mão de obra local vem de long

Gente de Opinião Quinta-feira, 4 de dezembro de 2025 | Porto Velho (RO)