Segunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Montezuma Cruz

Gaúcho e goiano viram 'donos' do Topless


 

RONDÔNIA DE ONTEM

 Gaúcho e goiano viram 'donos' do Topless - Gente de Opinião


MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
 


Zé Goiano não foi o único a entrar para o temporário rol da fama ditado pelas reportagens feitas à época no Garimpo Topless, em Colorado do Oeste. Havia outros. Talvez Rondônia tenha sido o único estado capaz de atrair garimpeiros do Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Paraenses, amazonenses, amapaenses, roraimenses e maranhenses, considerados a nata da garimpagem, os recebiam numa boa. A diferença é que os garimpeiros sulistas chegavam sem um grama de ouro, sem experiência alguma, todos ansiosos para vencer desafios. No entanto, vinham endinheirados.

Pedrinho Corrêa, chefe do escritório da Companhia de Mineração de Rondônia (CMR) notava que Zé Goiano deixara a mina da Serra Sem Calças, em Jaru, mas servia de exemplo para os novatos. Antes de tomar o rumo de Colorado, conseguira comprar ou arrendar muitos lotes daqueles que abandonavam o milho e a mandioca para facilitar-lhe a exploração dos veios de ouro.

Quando começou no Topless, Zé Goiano foi logo investindo milhões de cruzeiros em motores, enxadões, picaretas e mangueiras, necessários à canalização da água de igarapés para lavar cascalho.Gaúcho e goiano viram 'donos' do Topless - Gente de Opinião

Ex-vereador em Tapejara (PR), o catarinense João Francisco Ramos, pai de cinco filhos, deixava a mulher cuidando da padaria em sociedade com o filho Osmar, em Vilhena. E entrava com muita garra nas matas que circundavam o garimpo. Erguia um barraco e comentava:

– Eu estou meio escondido, só pesquisando. Se render bem, aí vou investir o que tenho.

José Varella (pág. 30 do JB de 15/12/85) fotografou João Francisco debaixo do barraco, enquanto cozinhava abobrinha com lingüiça, ao lado do madeireiro Olmiro Luiz Rechi. Vindo de Vilhena, onde abandonava a compra de toras, ele se transformava em mais um aspirante a garimpeiro.

O gaúcho Anibaldo Augustin foi uma referência para aquela turba de homens vindos das serras Pelada e Sem Calças, e de estados do sul. Morador há cinco anos em Vilhena, ele nunca quis saber de lavoura. Ali no Topless já movimentava muito dinheiro, chegando a investir trezentos a quatrocentos mil cruzeiros por semana, para garantir o “rancho” constituído por arroz, feijão, sardinha, lingüiça, ovos, queijo, fubá, farinha de mandioca, óleo e carne bovina. Eu e Varella almoçamos com a dupla.

– Tem que ter máquina! E até com ela o desgaste é grande – apelava. Puxando o repórter pelo braço, ele mostrava vários tipos de motores, um deles, de caminhão. Seu xodó possuía 18HP, consumindo 70 a 80 litros de óleo por dia, para fazer funcionar o garimpo dez horas sem parar.

Motores acionavam moinhos de cascalho, única maneira de se adequar a exploração do ouro a uma rudimentar lavra mecanizada. Depois dos moinhos, o cascalho passava pelas centrífugas, que separavam as partes que continham ouro e as que não o possuíam. Mas quase tudo ali era na base das mãos e dos pés.

Pedrinho da CMR anotava o dia-a-dia do lugar, colocando no relatório o custo da atividade. Era alto. Uma hora de trator-esteira alugado para remover o barro custava 300 mil cruzeiros, o que correspondia ao dinheiro da semana gasto com o “rancho” de Anibaldo. Só o quilo da carne bovina custava 25 mil cruzeiros nos açougues de Colorado.

 

Gaúcho e goiano viram 'donos' do Topless - Gente de Opinião


 



Siga montezuma Cruz no

 Gente de Opinião

 
www.twitter.com/MontezumaCruz

 
 


ANTERIORES


Colorado fervilha com o garimpo Topless

O próprio DNPM avisou: tem ouro no Rio Madeira

Em 1984, cheia, naufrágio, apagão e protesto

No começo da viagem, charque e farinha; em Rondônia, malária

Angelim tenta frear migrantes expulsos pela seca no sul

Propostas renovadas e peões em fuga

Antes do Estado, a escravidão

'Índio bom é índio morto'

Chacinas indígenas marcaram para sempre a Amazônia Ocidental

 

'O coração do migrante é verde'

►O futuro no Guaporé, depois Cone Sul


Coronel é flagrado de madrugada, levando peões para o Aripuanã

 

 

O gaúcho Minski, rumo a Cerejeiras

► Valdemar cachorro, o 'compadre' dos índios

► Policiais paulistas 'invadem' Rondônia 
    na caça aos ladrões de cassiterita


► TJ manda libertar religiosos e posseiros
     após o conflito  da  Fazenda Cabixi


► A sofrida busca do ouro no Tamborete,
    Vai quem quer  e  Sovaco da Velha


► Aquela que um dia foi Prosperidade


► Energia elétrica a carvão passou raspando

 

► Cacau chega à Alemanha, sob conspiração baiana

► Ministro elogia os 'heróis da saúde'

 

► Naqueles tempos, um vale de lágrimas

 
Publicado semanalmente neste site,
no
RondôniaSim e no Correio Popular.


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSegunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Ditadura deu cadeia a militar que governou Rondônia duas vezes, operando milagres

Ditadura deu cadeia a militar que governou Rondônia duas vezes, operando milagres

A história do tenente-coronel paraquedista Abelardo e Alvarenga Mafra, ex-governador do extinto Território Federal do Guaporé não aparece em livros, t

Bacellar agrada no 1º ano de governo

Bacellar agrada no 1º ano de governo

Em 1º de janeiro de 1918, passados 107 anos, a edição nº 65 do jornal Alto Madeira via "tudo azul", ou seja, o Estado do Amazonas estava bem em sua gi

Gênese rondoniense (4 - final) - Aos olhos de observadores, William Curi foi “vítima de conspiração do partido do governo”

Gênese rondoniense (4 - final) - Aos olhos de observadores, William Curi foi “vítima de conspiração do partido do governo”

O agrônomo William Curi teve efêmera passagem pela Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, onde ensaiou seus passos políticos, sem obter o mes

Gênese rondoniense (3) – No xadrez sucessório, a continuidade de Cury espremeu Teixeirão

Gênese rondoniense (3) – No xadrez sucessório, a continuidade de Cury espremeu Teixeirão

Depois da exoneração de William Cury e do êxito do Polonoroeste, o INCRA daria conta de titular 3,4 milhões de hectares de terras em Rondônia, somando

Gente de Opinião Segunda-feira, 20 de outubro de 2025 | Porto Velho (RO)