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Montezuma Cruz

Cor da farda 'tortura' garis na Amazônia


 
Vermelho e alaranjado predominam entre os uniformes dos profissionais de limpeza. Eles sofrem com temperaturas acima de 30 graus 


MONTEZUMA CRUZ
www.twitter.com/MontezumaCruz   


RIO BRANCO, AC – Humilhada pelo marido embriagado, que lhe exigira sexo à noite, Débora Martins Lucena, 43 anos, três filhos, trocou a vida de gari por costureira na capital acreana. Já sabia um pouco, aprendeu mais e experimentou confeccionar camisas para pequenas lojas. Deu certo. Faz as pazes consigo mesmo e com o marido, que diminuiu a bebida, empregou-se numa transportadora e apreciou muito vê-la na máquina de costura, no bairro Preventório.

— Tava difícil, eu não aguentava mais o sofrimento — ela comenta. Ela e o marido Ambrósio Luís, 47, compraram uma máquina a prestação — R$ 36 mensais — numa loja do ramo.

Vestida com uniforme vermelho, Débora limpava as ruas de Rio Branco sob temperatura de 30 a 38 graus nos dias mais quentes. Não se importava com inevitáveis gracejos, muito menos com a indiferença da maioria das pessoas com as quais cruzava todo santo dia. 

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À tarde, com quase 30 graus, outra gari veste vermelho, cor que absorve os raios solares.



Nunca disseram a Débora que o vermelho geralmente sugere motivação, atividade, vontade e até excita. Nem que a cor vermelha “atenua a inércia, a melancolia, a tristeza, a depressão”, conforme a visão de quem não experimentou vestir uniforme desta cor. 


Vermelho, abóbora 
e laranja

Débora nunca percebeu isso. Apenas se sentiu uma vítima a mais do cansaço e até de insolação, ao trajar roupa que absorve totalmente os raios solares.

As garis da limpeza pública nos estados da Amazônia vestem uniformes vermelhos, abóbora e alaranjados. São cores fortes aplicadas em conhecidas “malhas frescas” — que de frescas, nada têm, quando usadas numa região conhecidamente quente. 

No período da manhã, próximo ao Terminal Urbano de Ônibus de Rio Branco, as mulheres varrem as calçadas e recolhem o lixo numa rapidez impressionante. À tarde, porém, denotam esgotamento depois das primeiras três horas de serviço sob sol forte. Encostam-se nos carrinhos, param e procuram sombra. 


Porto Velho, Belém e Manaus
 

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Porto Velho adota três cores. O azul é para calças, mas a predominância é de tonalidades alaranjada e abóbora

Agentes de de combate a epidemias, os conhecidos “mata-mosquitos” da Fundação Nacional de Saúde usam uniforme caqui nos estados amazônicos. Suas roupas poderiam ser adotadas por repartições municipais.

Garis de Belém são conhecidos por "laranjinhas" na atual administração municipal. Antes, eram “vermelhinhos”, a exemplo dos guardas de guardas de trânsito, na época do prefeito Edmilson Rodrigues, eleito pelo PT e que migrou para o PSOL.

Em Manaus, o uniforme é alaranjado. Explica-se por lá que a cor é “mais segura”, porque o motorista a identifica de longe, evitando acidentes. Defensores dessa cor afirmam que ela entusiasma os garis, concedendo-lhes vivacidade impulsiva e natural.

Porto Velho adota fardas em cores abóbora, alaranjada, vermelha e calças azuis. Departamentos de limpeza das prefeituras amenizariam a situação e dariam mais conforto aos garis se ouvissem especialistas no uso de fardas claras, em cores que refletem os raios solares.  
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Nova Friburgo (RJ) adota o bege e ameniza a absorvição de calor no uniforme de seus garis




Bege no Rio de Janeiro
 

No começo deste mês, em Nova Friburgo (RJ), por exemplo, a prefeitura entregou 164 novos uniformes para os garis, dois para cada uma das 82 pessoas que trabalham na limpeza urbana da cidade. As peças em cor bege foram confeccionadas por um grupo de 20 alunas do curso de costura plana promovido pelo Centro de Formação Profissional, sob a coordenação da professora Sílvia Magalhães.

— Cores claras absorvem melhor o calor — garante a subsecretária de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Profissionalizante Superior, Vânia Monerat. Segundo disse, brevemente será licitada a compra de material para confeccionar outros uniformes para os trabalhadores das Secretarias de Obras e Serviços Públicos. 

O único senão, na cidade fluminense é a dúvida dos chefes de limpeza pública em relação à conformidade com as leis de segurança do trabalho. Uniformes da Comlurb, por exemplo, têm cor chamativa para o trabalho diurno e faixas refletivas que asseguram o trabalho noturno. Isso teria motivado a redução dos atropelamentos dos profissionais da limpeza.

(*) Colaboraram Jane Dantas (Manaus), Franssinete Florenzano (Belém) e Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Nova Friburgo (RJ). 

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