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Francisco Matias

RONDÔNIA E O MÊS DE JULHO - 2



Por Francisco Matias(*)

1. Pode ser apenas coincidência, mas o mês de julho exerceuma grande influência na formação do processo histórico de Rondônia. Pode ser uma sina, mas os destinos de Rondônia passam pelo sétimo mês do ano como uma locomotiva perdida nos trilhos e em busca de uma estação. No artigo anterior, esta coluna enveredou pelo mês de julho percorrendo os dormentes da Madeira-Mamoré. E não poderia ser diferente. Nenhum monumento histórico tem tanta referência neste mês. Observe-se que desde sua inauguração, na primeira fase de sua construção, tem ocorrido estas simultaneidades de acontecimentos históricos. O dia 4 de julho de 1907, data em que foi lançada a pedra fundamental da Ferrovia do Diabo ou, Ferrovia de Julho, e marcou o início do povoamento ao longo do “Porto Velho dos Militares”, muitas datas importantes estão no mês de julho.Em 1909, no dia 9 de julho, a Madeira-Mamoré recebe o ingresso do médico Oswaldo Cruz, que prestava serviço ao Sindicato Farqhuar no porto do Pará, ou Port of Pará, que estava sendo construído na cidade de Belém, em uma área com graves incidências de doenças regionais. Acompanhado de seu médico particular, o Dr. Belizário Pena, o grande sanitarista Oswaldo Cruz aportou no local conhecido como Porto Velho of the Madeira River nesta data.

2. No ano de 1912 dois episódios ligados à Madeira-Mamoré foram registrados. O primeiro, ocorrido no dia 1º. de julho, diz respeito ao contrato de concessão firmado entre o governo brasileiro e o Sindicato Farqhuar, com validade por sessenta anos. No dia seguinte era instalado o município de Santo Antonio do Alto Madeira, em cuja cidade deveria ser construída a estação inicial da ferrovia. Situada à altura da cachoeira de Santo Antonio, estado do Mato Grosso, a cidade perdeu sua condição de sede da Madeira-Mamoré devido às doenças e ao difícil acesso, mas ficou com a segunda estação.Em 1922, a 26 de julho, o governador do Mato Grosso, Dr. Pedro Celestino da Costa altera o mapa político daquele estado ao criar o distrito de Esperidião Marques, às margens do rio Mamoré. Quatro anos depois, no dia 12 de julho, a povoação era elevada à condição de Vila e, a 12 de julho de 1918, o governo do estado do Mato Grosso criava o município de Guajará Mirim, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico ocorrido por conta do funcionamento da estação terminal Mamoré.

3. Em 1931, após a paralisação dos serviços de transporte do sistema Madeira-Mamoré, pela empresa concessionária, a anglo-canadense The Madeira-Mamoré Railway Company, cujo maior acionista era o magnata inglês Willian Cameron Forbes, o governo nacionalista do presidente Getúlio Vargas resolveu encampar a ferrovia, suas estações e o sistema intermodal de transporte integrado. Este fato ocorreu no dia 10 de julho desse ano. Esta data é considerada como a da Nacionalização da Madeira-Mamoré. Passaram-se trinta e quatro anos para o mês de julho e a Madeira-Mamoré se encontrarem novamente. Corria o ano de 1965 e os governos brasileiro e boliviano firmaram um aditamento ao Tratado de Petrópolis, de 1903. Por este novo acordo diplomático, a ferrovia seria erradicada e em seu lugar seria construída uma rodovia de primeira classe. Por este motivo, no dia 31 de julho desse ano, o governo do presidente Castelo Branco criou o 5º. Batalhão de Engenharia de Construção, BEC, exclusivamente para o Território Federal de Rondônia, com a missão de construir a referida rodovia de ligação, do distrito do Abunã à fronteira com a Bolívia, na cidade de Guajará Mirim, em substituição à ferrovia Madeira-Mamoré. Não por acaso ou sina, a BR 425 foi inaugurada no dia 10 de julho de 1972. Nesta data ocorreu a erradicação da ferrovia Madeira-Mamoré, cujo contrato de concessão, válido por sessenta anos, havia expirado no dia 1º. Julho do mesmo ano.

4. Outras datas do mês de julho: 1932, dia 9, eclode da Revolução Constitucionalistade São Paulo contra o presidente Getúlio Vargas. Por estranho que pareça, Porto Velho entrou no contexto tendo em vista a convocação do militar Aluízio Pinheiro Ferreira, diretor da Madeira-Mamoré, para atuar com censor dos Correios e Telégrafos, na cidade do Rio de Janeiro,DF. Em 1960, dia 10 de julho, o presidente JK visita o Território Federal de Rondônia para inaugurar o trecho da BR 029(atual 364), na localidade de Vilhena. 1988,dia seis de julho, o estado de Rondônia acrescentou em seu mapa político os municípios de Nova Mamoré, Cabixi de São Miguel do Guaporé. Dia 9 de julho de 2007, morre em Porto Velho o cidadão húngaro naturalizado brasileiro, Ackos Chongor Czigani, conhecido como seu Alphonso. Militar na segunda guerra mundial, capitão do exército da Hungria que lutou ao lado dos alemães no cerco a Stalingrado, foi prisioneiro de guerra nos campos de concentração de União Soviética. Libertado por engano, retornou à Budapeste, mas fugiu do comunismo e das perseguições aos veteranos de guerra e inscreveu-se na Legião Estrangeira francesa. Em Paris, trabalhou na embaixada peruana e chegou ao Brasil, em meados da década de 1950, via Peru, país no qual recebeu documentos com o nome Alphonso Chongor Czigani, abandonando de vez seu prenome Ackos. Engenheiro químico, seu Alphonso viveu mais que discretamente no seringal Assunção, no baixo Madeira, desde meados da década de 1960 e morreu aos 87 anos de idade em Porto Velho. Um nome para ser registrado na história contemporânea mundial, europeia, su l-americana e rondoniense. Para finalizar, no dia 5 de julho de 2011, Porto Velho recebe a visita oficial da presidente Dilma Roussef que assina o decreto da transposição de servidores do Estado aos quadros da União e aciona o botão que desvia o curso do rio Madeira, na usina hidrelétrica de Santo Antonio.
 

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Fonte: Francisco Matias - Historiador e analista político

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