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Francisco Matias

RONDÔNIA E O GOLPE MILITAR DE 1964 – PARTE 4


Por Francisco Matias(*)
 

1.A renúncia do presidente Jânio Quadros, com apenas seis meses de mandato, deixou as forças políticas, militares e religiosas perplexas. Mas, seu plano não deu certo. Se as forças armadas detestavam o vice Jango, gostavam ainda menos do presidente Jânio. Ele apostava que o Exército e setores anticomunistas ligados à Igreja católica o conclamassem a voltar atrás e a reassumir o cargo, com plenos poderes, sem a incômoda companhia do vice-presidente João Goulart, o Jango. Ledo engano. A Câmara dos Deputados declarou vaga a presidência e, na ausência do vice, assumiu o deputado Ranieri Mazzilli, interinamente. Por sua vez, as forças armadas declararam impedida a posse do vice-presidente e proibiram seu retorno ao Brasil. No Rio Grande do Sul, o governador Leonel Brizola reagiu a garantiu o retorno de João Goulart, “nem que fosse à bala”. Entra em cena o marechal Henrique Teixeira Lott, ex-ministro da guerra e candidato derrotado por Janio Quadros, nas eleições de 1960. Conhecido como o Homem da Espada, o marechal Lott conclamou as forças armadas a não permitirem o retorno de Jango ao país. O Exército ordenou ao comandante militar do Rio Grande do Sul que prendesse o governador Leonel Brizola. Mas, o general Machado Lopes não cumpriu a ordem a deu apoio para o retorno do vice-presidente ao Brasil. Pelo Rio Grande do Sul. Uma vez em solo brasileiro, não havia como impedi-lo de assumir o cargo de presidente da República. Estava lançado mais um marco para o golpe militar de 1964.

2. Não havia como impedí-lo, mas havia meios de reduzir seu poder de governo. É implantado o regime parlamentarista. João Goulart vai ser presidente, mas não vai governar. Será apenas chefe de Estado. O chefe de Governo será o deputado Tancredo Neves, que se torna primeiro Ministro. Ao explicar porque aceitou assumir com seus poderes reduzidos, o presidente Jango afirma: “Transigi porque nunca desejei manchar com o sangue de irmãos brasileiros a estrada que do Rio Grande me conduzia a Brasília”. O Brasil explode em greves. A esquerda não aceita esta condição de governo. Realiza-se em Belo Horizonte, o Congresso Camponês, pela reforma agrária, com a participação de milhares de delegados. As Ligas Camponesas fazem movimentos grevistas nos canaviais do Nordeste. Uma patrulha do Exército encontra armas e uniformes com integrantes das Ligas Camponesas.É fundada a República Socialista do Trombo, em Goiás. O Brasil restabelece relações diplomáticas com a União Soviética. Nada será como antes. O primeiro Ministro Tancredo Neves renuncia e cai o gabinete de governo. Em seu lugar assume o deputado Brochado da Rocha, que fica pouco tempo no governo e assume o deputado Hermes de Lima. É o caos. Os gabinetes ministeriais não resistem. O presidente João Goulart ganha força para propor um plebiscito pela manutenção do parlamentarismo, ou a volta do presidencialismo. Ganha o presidencialismo com 90% dos votos. O presidente João Goulart assume de fato o governo e vai propor ao Congresso medidas ligadas à reforma agrária. Forças de esquerda criam o Comando Geral dos Trabalhadores, CGT, que convoca uma greve geral no país.

3. Em 1962, trinta mil camponeses, organizados pela Ligas Camponesas, fazem manifestações pela Reforma Agrária. O Congresso rejeita o projeto de reforma agrária do governo. Em Natal, o deputado Leonel Brizola faz discurso considerado ofensivo às forças armadas.O Comando Geral dos Trabalhadores, CGT, declara apoio a Leonel Brizola e os comandantes militares exigem um desagravo. O país está em convulsão política. O presidente declara estado de sítio, mas o Congresso derruba a decisão presidencial. A hierarquia militar está em cheque. Praças da Marinha, exército e Aeronáutica realizam várias rebeliões. Setores mais conservadores temem a instalação do comunismo. É criada a Limde, Liga da Mulher Democrática, entidade de direita. Convém salientar que todo esse tumulto político está relacionado ao Muro de Berlim e seus efeitos na geopolítica mundial. A URSS e os EUA se armam, criam forças militares e vão influenciar em várias regiões do mundo. Na América Latina, o golpe de Estado deflagrado pela Revolução Cubana, em 1959, vai mudar por completo o posicionamento de ambos os lados. EUA e URSS vão se envolver em confrontos diretos na região, enquanto Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, vitoriosos, optam por levar o novo governo cubano para o bloco soviético. O presidente João Goulart integra esse bloco, soma-se às forças sindicais da esquerda e, em comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro defende as reformas de base, incluindo uma ampla reforma agrária. O CGT anuncia que vai tomar medidas concretas para a execução dessas reformas. Os capitães de indústrias paulistas, banqueiros, demais empresários e setores de igreja católica se mobilizam contra as agitações no país. “Armai-vos uns aos outros, porque nós já estamos armados”, discursa um diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

4.O general Humberto de Alencar Castelo Branco convoca o Estado Maior das Forças Armadas a tomar atitudes contra a subversão no país. A embaixada dos EUA manifesta apoio ao movimento dos militares. Em São Paulo, uma grande mobilização antigoverno Jango está se realizando, com o apoio da Igreja Católica. É a Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade, movimento de direita, contra a tendência comunista do governo, e o apelo a Deus, tendo em vista o ateísmo dos comunistas. No dia 31 de março de 1964, uma terça-feira, eclode em Minas Gerais, sob o comando do general Olympio Mourão Filho, o golpe de Estado que vai derrubar o governo eleito de João Belchior Marques Goulart, o Jango. Dois generais vão ao palácio avisar ao presidente o que está ocorrendo. Ele não aceita reagir e entrega o governo, sendo enviado para o exílio no Uruguai. Termina a trajetória política de João Goulart. Tem início o ciclo dos generais, com todos os seus desdobramentos sociopolítios e socioeconômicos em vinte e um anos de existência da ditadura militar.

No próximo artigo o golpe militar em Rondônia. 

Historiador e analista político(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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