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Francisco Matias

RONDÔNIA E AS 'MANIFESTAÇÕES'- PARTE I


Por Francisco Matias(*)

 1.O mês de junho/2013 marcou o Brasil em dois lados opostos. No primeiro, a realização da Copa das Confederações da FIFA na qual a seleção brasileira sagrou-se campeã, ao vencer a seleção da Espanha, campeã mundial de futebol, com direito a olé e tudo. No segundo, as grandes mobilizações em todo o país, que a grande mídia chama apenas de “MANIFESTAÇÕES”. Qual nada! Não foram e nem são simples manifestações. O que ocorreu e ainda ocorre “nesse país”, são MOBILIZAÇÕES POLÍTICAS APARTIDÁRIAS. São os jovens de “cara pintada” dizendo “BASTA” a todo o sistema de governo, entenda-se, Executivo, Legislativo e Judiciário. Não se trata de simples manifestações desta ou daquela classe social. É todo mundo envolvido, exceto o povão  do “bolsa família”. O que fica demonstrado é que a maioria dos brasileiros e brasileiras está saturada, indignada e insatisfeita “com tudo isso aí”. Quem não “foi pra rua” apoiou e viu-se representado pelos que foram, nas faixas e cartazes com os mais significativos dizeres e avisos.

2.Todavia, a revolta dos jovens não começou por causa de vinte, dez ou trinta centavos de aumento nas passagens dos ônibus. Se a grande mídia e os analistas políticos de plantão voltarem um pouquinho no tempo, irão encontrar o dia 21 de abril desse ano. Foi o “DIA DO BASTA À CORRUPÇÃO”. Em Porto Velho, esse movimento teve início na praça da Madeira-Mamoré, antigo Boulevard Farqhuar, às 16 horas, com um lema nacional: “contra o pessimismo da razão, o otimismo da prática”. E dizia mais: este é um movimento pacífico e apartidário. APARTIDÁRIO!Este foi o segredo e a revelação. Segredo porque jamais, na história recente “desse país” ocorreram grandes mobilizações “apartidárias”, senão vejamos: Em 1984 o país foi mobilizado com os grandes movimentos nacionais por eleições diretas para presidente e vice-presidente da República. Milhões de jovens foram às ruas com o grito “Diretas Já”. Mas eram movimentos partidários, liderados pelo PMDB, PT, PTB, PSB e PDT, todos querendo a primazia de eleger o primeiro presidente da República pós-ditadura militar. Não deu certo. O general João Figueiredo, último presidente do “Ciclo dos Generais”, mobilizou a bancada governista no Congresso e as eleições foram indiretas, através de um Colégio Eleitoral reunido no dia 15 de janeiro de 1985.

3.Em 1992 novamente os jovens foram às ruas, imitando os argentinos, e pintaram a cara. Eram os “caras-pintadas” gritando o “fora Collor”. Contudo,  eram mais uma vez, movimentos liderados por partidos políticos, principalmente o PT. Resultado: o Congresso cassou o presidente Fernando Collor, a despeito de ter renunciado ao mandato. Em 2013 foi diferente e veio a revelação. Os movimentos declararam-se apartidários e reagiram quando militantes do PT, PCdoB e entidades sindicais tentaram meter suas bandeiras no meio. Foram rechaçados, inclusive em confrontos internos. A mensagem era clara. Não queremos vocês!. São todos farinha do mesmo saco!. Pois é. Os partidos políticos, a exemplo do PT e PCdoB, que se orgulhavam de serem os únicos capazes de mobilizar “esse país”, descobriram que não é mais assim. A geração “facebook”, “twitter”, “skyper” e “shopping center” está por demais informada, consciente dos seus direitos e disposta a reivindicá-los nas ruas, se preciso for, como ficou demonstrado.

4.Os jovens, principalmente os da classe média, acadêmicos, graduados e pós-graduados, empresários, comerciários, estudantes de nível médio, enfim, a juventude que pensa e fala, mobilizaram-se sem bandeiras partidárias porque os partidos brasileiros, principalmente os de alcance nacional, PT, PMDB, PSDB, PDT, PSB e DEM, não enxergaram um fenômeno que está ocorrendo “nesse país” da maior importância: a grave desconexão entre a sociedade e os partidos políticos. De repente, os jovens não se sentem mais representados por “essa classe política que aí está”, para surpresa do governo e decepção não reconhecida do PT e do PMDB, as duas maiores agremiações partidárias brasileiras, e que estão de fato no poder. A presidente Dilma Rousseff é do PT e o vice-presidente Michel Temer é do PMDB.

5.Em tempos de Internet democratizada nas redes sociais, chegam aos jovens, e aos mais velhos, informações das boas ações do governo (executivo, legislativo e judiciário) e as ruins, e estas não são poucas. Lembram do julgamento do Mensalão? A maioria dos eleitores ficou feliz com o resultado, a condenação pelo STF dos acusados, notadamente os petistas de alto coturno. À frente dessa novidade estava o ministro-relator Joaquim Barbosa. Mas, agora esses mesmos eleitores temem que o mesmo STF, sob a presidência do mesmo Joaquim Barbosa, volte atrás e reduza as penas aplicadas no julgamento. E isto está para acontecer “nesse país”. Quem sabe, a maioria dos ministros ouça a voz das ruas e não recue em suas decisões. Mas, com a posse dos dois novos ministros, tudo pode acontecer. Inclusive nada. Por esta e outras inseguranças, o povo foi às ruas e os que não foram, aplaudiram. Exceto os que mandam, ou pensam que mandam nesta nação, antes silenciosa, mas agora quer se fazer ouvir.

Historiador e analista político(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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