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Francisco Matias

RONDÔNIA: Crise de governo,crise de poder


Tem sido rotina. O estado de Rondônia, o 23º do país em população, é um dos primeiros na mídia nacional por crises de vários tamanhos e procedências. A maior parte provocada por sua vivência política e pelos vivenciadores dessa política.

A atual e mais grave é a que envolve o governador Ivo Cassol e a Assembléia Legislativa. Pode parecer uma crise comum, mas não é. Pode parecer apenas mais uma crise de governo, mas não é. Na verdade, estamos diante de uma crise de poder. Não uma crise pelo poder de cada um dos Poderes. Mas de poder político paroquial, de certa forma individualizada ao extremo. Suprapartidário de um lado, mas partidário de outro.

Em princípio não é o PSDB, partido do governador, que está em rota de colisão com o PMDB, ou o PT, por exemplo. Tudo sinaliza para uma disputa de interesses pelo poder que, de um lado está concentrado nas mãos do governador, na qualidade de chefe do Poder Executivo e, portanto, o dono do cofre e das nomeações. De outro, no grupo liderado pelo deputado Carlão de Oliveira, chefe do Poder Legislativo, que, se não tem a chave do cofre ou das nomeações no Executivo, tem como segurar a porta desse cofre e, até, se for o caso, mudar as mãos que seguram as chaves. Esta é a questão. Grave e delicada. Em estado semiterminal.

Pois é. Se não houver uma forma de superar, essa crise vai entrar em estado bruto no ano eleitoral colocando alguns projetos políticos na UTI e o Estado na mídia, em contínuo sentido contrário aos seus próprios desígnios. O problema maior é que nenhum dos dois lados querem ceder, parecendo uma queda de braço, onde um dos contendores vai ter de perder. No meio de tudo isso, como árvore no leito do rio Madeira ou uma balsa à deriva no rio Machado, a população fica sem entender direito o que se passa. A massa votante está à mercê das crises e de suas conseqüências.

O governador Ivo Cassol, único político que representa a maioria dos eleitores, sofreu duas significativas derrotas na ALE. A primeira quando vetou a Lei Orçamentária, alegando que a mesma inviabilizaria o Estado em razão das emendas modificativas que os deputados colocaram. O veto do Executivo foi derrubado por 18 votos a seis. A segunda derrota foi ainda mais marcante tendo em vista que a ALE aprovou por 20 votos a três o pedido do STJ para dar continuidade ao processo que tramita naquela Corte contra o governador Ivo Cassol, por conta de supostas irregularidades quando era prefeito de Rolim de Moura.

Faltou ao governador aquilo que vem lhe faltando sempre, uma sólida base parlamentar e um grupo político influente e antenado com as nuances do Legislativo e com alguns posicionamentos de Ivo Cassol.

Faltou também, negociação de resultados, apesar da presença constante, no desenrolar da crise, do irmão do governador, ex-deputado estadual César Cassol, na presidência da Casa Legislativa. Pelo que se pode supor, por seu passado parlamentar, ele desfruta de com um certo prestigio junto aos deputados, por isso, tentava uma saída negociada para a crise.

Mas a crise estava mais forte do que qualquer negociação, como ficou provado com o resultado massacrante. Mais de dois terços do plenário, 86,96% dos deputados presentes votaram em favor do STJ, e, apenas 13,04% votaram em favor do governador Ivo Cassol, o representante da maioria da população, considerando-se o resultado do 2º turno.

Se o governador vai ser afastado ou não, é coisa que se verá no futuro. Seja como for, o mais desgastado será ele mesmo e parece que só ele não percebe isto. Portanto, o governador Ivo Cassol, cuja administração, segundo algumas pesquisas, está sendo considerada boa pela população, não está conseguindo juntar sua figura política e seu prestígio pessoal à essa mesma administração. Ou seja. O governador e seu governo parecem caminhar em sentidos opostos. Essa é uma praxe que a maioria dos executivos rondonienses tem cometido, e, no que diz respeito aos governadores do Estado, todos agiram da maneira como está agindo Ivo Cassol, caminhando na contra-mão de suas próprias gestões. E isto não é bom nem pra ele, nem para a vida política rondoniense, nem para o povo de um modo geral.

Na qualidade de único representante da maioria, o governador Ivo Cassol está conseguindo derrubar por terra essa condição política e arrisca-se a sair dessa empreitada completamente desgastado. O problema é que as eleições serão daqui a pouco mais de um ano e o processo sucessório já começou faz tempo.

Fonte: Francisco Matias -  Historiador e analista político
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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