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Francisco Matias

PORTO VELHO, UM SÉCULO DE HISTÓRIA - 1


 FRANCISCO MATIAS ESCREVE

Nenhum portovelhense, nascido ou não nestas plagas, tem o direito de permanecer como espectador passivo diante dos formidáveis acontecimentos que agitam o cenário da atualidade de Porto Velho. (O autor)

                                             

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Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa, governador do estado do Amazonas,
sancionou a lei 757, de 02 de outubro de 1914 que criou o município de Porto Velho

1.Esta coluna, sempre com a visão de contribuir para a restauração da memória histórica do estado de Rondônia, e motivada pelo evento do primeiro centenário do municípiode Porto Velho, sua principal circunscrição administrativa, apresenta alguns dos principais fatos políticos que ensejaram a criação do município. Tudo começa com a eleição para governador e deputados estaduais no Amazonas, em 1912, com a vitória do senador Jônathas de Freitas Pedrosa, eleito governador, e do médico Pedro de Alcântara Barcellar, a deputado estadual. Na época, a povoação de Porto Velho era dividida em duas por um alambrado construído pela Madeira-Mamoré, para impor seus limites urbanos sobre um aglomerado que teimava em surgir nas cercanias. A lei e a ordem eram ditadas por uma empresa privada, a Madeira-Mamoré.  Foi assim que, por iniciativa do deputado Pedro de Alcântara Barcellar, o governador Jonathas de Freitas Pedrosa sancionou a lei nº 741, de 30 de outubro de 1913, criando o Termo Judiciário de Porto Velho, anexo à comarca de Humaitá. A justiça do estado do Amazonas, e, portanto, brasileira, começava a chegar à pequena povoação de Porto Velho.

2.No ano seguinte, o governador expediu o decreto nº 1.063, de 17 de março de 1914,que definiu os limites do “termo judiciário de Porto Velho, no rio Madeira”.  Estava dado o segundo passo para retirar o poder da empresa anglo-canadense The Madeira-Mamoré Railway Company sobre a região. No mesmo ano, por iniciativa do deputado Pedro de Alcântara Barcellar, o governador Jonathas de Freitas Pedrosa sancionava a lei nº 757, de 02 de outubro, com a seguinte ementa: “Crea o município de Porto Velho, com sede na povoação do mesmo nome, à margem direita do rio Madeira, e dá outras providências”. Os limites do novo municípiojá estavam“determinados pelo Decreto nº 1.063, de 17 de março do corrente anno para aquelle Termo Judiciário”, conforme estabeleciao artigo primeiro da lei que criou o município.

No entanto, a lei 757 não foi completa. Faltou um artigo, ou mesmo um parágrafo dispondo sobre a elevação da povoação de Porto Velho à categoria de cidade. Esta falha somente seria reparada cinco anos mais tarde, por iniciativa do agora governador Pedro de Alcântara Barcellar, com se pode observar em outro artigo produzido por este escriba.

3.O entendimento deste colunista é que a História é feita por pessoase não por mitos fundantes, materiais ou imateriais. Nesta linha de raciocínio, por ocasião dos festejos dos cem anos de criação do município de Porto Velho, esta coluna presta  homenagem aos homens e mulheres que viviam na povoação operando a economia do final do primeiro ciclo da borracha e do início dos ciclos ferroviário e telegráfico, que geraram todo o processo de povoamento e formação da sociedade à época. Destarte, eis nomes de alguns atores da história que vivam em Porto Velho e lutaram pela criação do município: José Pontes, que seria nomeado superintendente-adjunto, ou suplente, do primeiro prefeito, major Guapindaia. Manoel Pires de Castro, José Jorge Braga Vieira, Luzitano Corrêa Barreto, José Z. Camargo, Antonio Sampaio, Manoel Félix de Campos e Achiles da Silva Reis, Alfredo Carvalho e Horácio Bilhar. Estes seriam nomeados intendentes (vereadores) e suplentes.

4.Outros pioneiros que participaram daquele momento secular: Francisco Fernandes da Rocha, Joviniano Reis, os advogados Vulpiano Machado, José Joaquim Guerra e José Cazimiro Bayma. Os comerciantes Jacob Essabá, que presidia a Associação Comercial do município de Santo Antonio do Rio Madeira, Miguel Danas de Araújo, João F. Ramos, o médico Joaquim Augusto Tanajura, delegado honorário de Índios na área do rio Madeira – e que seria o segundo (superintendente (prefeito do município e o primeiro eleito pelo voto direto). O 2º tenente Delduk Pinto, Abel Macedo, Waldemar Tavares Wernek, chefe da estação radiotelegráfica, João Soares Braga, José Vieira de Souza, Manoel Inácio de Carvalho Junior, João de Góes, Roger P. Couto, Davida Amar, Oscar Penha, Francisco de Pontes, Antonio S. Matos Pereira, Emílio Dupont, Ricardo C. Pereira, Antonio Tavares, Edmundo Maciel, Arthur S. de Azambuja, João Moreira Lima, José Costa, J. Salvador da Costa, José Batista Trindade, João da Silva Garganta, José Maria dos Santos, Manoel da Cunha Freitas, Benjamim Rosas, Bernardo Simeão, Julio Cícero Mariuba, Chucre Jacob, Manoel Pires de Castro e outros. Estranhamente, nenhum desses pioneiros é homenageado com seus nomes em ruas, avenidas, praças, escolas, postos de saúde.           

5. E por falar em homenagens com nomes de pioneiros dessa época, nem o governador Jonathas de Freitas Pedrosa, nem o deputado Pedro de Alcântara Barcellar, o são. Pois é. A praça “Jônathas Pedrosa”, a mais antiga de Porto Velho e, portanto, do Estado de Rondônia, tinha, inclusive o busto do governador, considerado o criador do município. No entanto, o busto foi retirado por volta de 1984. Naquele ano, por iniciativa do vereador Waldemar Marinho, a praça mudou de nome e passou a ser “Praça da Bíblia”, tendo sido edificado, inclusive, um marco tendo da Bíblia Sagrada como símbolo. Nada obsta. Mas precisava expurgar da história o governador Jônathas Pedrosa e, ainda por cima, jogar no lixo da história seu busto? Nesses cem anos que passaram personagens como Jonathas Pedrosa e Pedro Barcellar foram tratados de forma, no mínimo, inadequada. Quem sabe, a partir desse primeiro dia dos futuros cem anos, as coisas mudem e a Praça Jônathas Pedrosa volte a ser regulamentada por lei municipal e o seu busto recuperado, ou, na melhor das hipóteses, reconstruído, para que as gerações dos duzentos anos possam se reconhecer no seu passado histórico e haja referências a pessoas que construíram os cem anos passados e, aos que construirão os próximos.  

Historiador e analista político*

Porto Velho, 03.10.2014

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