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Francisco Matias

Porto Velho e seus prefeitos - Parte 2



 Por Francisco Matias (*)


1. A instalação do município de Porto Velho, em 1915, alterou a geopolítica do estado do Amazonas, em sua porção sul, e a da empresa The Madeira-Mamoré Railway Company, em seu projeto de expansão sobre a região do alto e médio Madeira. No entanto, a povoação-sede do município recém-instalado ainda não era uma cidade, apesar de ter ruas e avenidas traçadas, a exemplo do Boulevard Farqhuar, das avenidas 7 de setembro, Mato Grosso (atual Rogério Weber), Pires da Veiga, 28 de setembro, Índio do Brasil, 4 de Julho, Church, Englesing e Collins, todas abertas pela Madeira-Mamoré entre 1910 e 1912. Na verdade, o povoamento urbano da povoação de Porto Velho se fazia em dois lados socialmente antagônicos e, paradoxalmente, convergentes. A despeito deste ordenamento algo confuso, onde o poder público estava sempre em rota de colisão com o poder privado da concessionária da ferrovia, a lei nº 757, que criou o município, foi fielmente cumprida. O superintendente Guapindaia fechou alguns acordos com seringalistas e a Madeira-Mamoré, conforme estava previsto, estabeleceu um modus vivendi e cedeu, ao final do seu mandato, o lugar ao superintendente Joaquim Tanajura, eleito pelo voto direto em dezembro de 1916, pela legenda do Partido Republicano Conservador,PRC. A Intendência foi exercida por Luzitano Correa Barreto, José Z. Camargo, Álvaro Dantas Paraguassú, Antonio Sampaio e Otávio Reis, eleitos pelo mesmo partido do Dr. Tanajura. Ficaram como suplentes Álvaro de Oliveira Rosas, Bernardino Almeida Lima, Julio Coelho de Carvalho e Faustino Lopes de Sousa.

2.O major Guapindaia, após deixar o cargo em 1917, voltou a Manaus e de lá foi viver no Maranhão, sua terra natal, onde foi eleito e reeleito prefeito do município de São Felipe. Ele faleceu no dia 18.11.1922, na cidade de São Luís, onde foi sepultado. Seu sucessor, o Dr. Joaquim Tanajura, era médico e havia sido prefeito de Santo Antonio, além de ter integrado a Comissão Rondon, por isso desfrutava de prestígio junto aos governos dos estados do Mato Grosso e do Amazonas. Desse modo, tentou ordenar as terras da municipalidade e, como não poderia deixar de ser, entrou em conflito com a direção da Madeira-Mamoré. Diante do impasse, buscou ajuda do governo federal e requereu a interveniência do Ministro de Viação e Obras Públicas, Dr. Pires do Rio. Mas nem esta intervenção federal solucionou a questão. A empresa continuou a ditar normas, delimitar território, impor sua jurisdição e cobrar taxas de água e luz.

3.O terceiro superintendente de Porto Velho foi um sacerdote. Eleito em dezembro de 1919, o padre Raimundo Oliveira também enfrentou a empresa Madeira-Mamoré, que havia aumentado o valor da taxa para o fornecimento de luz à povoação que crescia e aumentava o número de pontos de comércio, notadamente casas aviadoras e os ramos de padaria, mercearia, tecido e secos e molhados. Estes novos empreendimentos comerciais contribuíam para elevar o consumo de energia elétrica o que forçava o aumento do preço o incremento da cobrança por parte da fornecedora Madeira-Mamoré. Tudo isto desgastava o prestígio do superintendente Raimundo Oliveira.

4.As eleições de 1922 trouxeram de volta ao poder municipal o Dr. Joaquim Tanajura. Neste pleito ele também se elegeu a deputado estadual e tornou-se o primeiro representante de Porto Velho na Assembleia Legislativa do Amazonas. Tanajura teve de se desdobrar para dar conta da municipalidade e atuar como deputado em Manaus. Por isto, o presidente do Conselho Municipal, intendente Arthur Napoleão Lebre, assumiu várias vezes a superintendência. Todavia, a República foi sacudida pela Revolução Tenentista de 1922-24, levando o país a vários estados de sítio. Em consequência, o Dr. Tanajura foi afastado do cargo e assumiu o presidente do Conselho Municipal, intendente Arthur Napoleão Lebre. Aliás, a instabilidade política do país e seus reflexos na região, fizeram com que vários presidentes do Conselho assumissem a chefia do poder executivo nos governos do padre Raimundo Oliveira e Joaquim Tanajura, dentre os quais Álvaro Dantas Paraguassú, Esron de Menezes e, como já foi citado, Arthur Napoleão Lebre.

5.Com a vitória do governo federal sobre os “tenentes” a normalidade política foi retomada e o Dr. Joaquim Tanajura reassumiu o cargo de superintendente. No entanto, os desdobramentos da revolta tenentista iriam provocar alterações na vida política do município de Porto Velho. Uma delas foi provocada pela mudança na constituição do estado do Amazonas que retirou o cargo de superintendente e inseriu o de prefeito, em 1926. Outra, estava no bojo da própria revolução dos “tenentes” e tinha posto militar, nome e sobrenome: Aluízio Pinheiro Ferreira, 1º tenente, servindo na guarnição de Óbidos, revolucionário derrotado que havia fugido das tropas legalistas e buscou refúgio no vale do Mamoré, no seringal do italiano Américo Casara. A virada do governo e a redemocratização do país ensejaram seu retorno à caserna. Mas, este militar iria modificar por completo a vida política e a administração na região do Alto Madeira, como se verá no próximo artigo.

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Fonte:  Francisco Matias - Historiador e analista político

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