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Francisco Matias

PORTO VELHO, 93 ANOS DE INSTALAÇÃO POLÍTICA


1. O município de Porto Velho,RO, completa neste 24 de janeiro, 93 anos de instalação, fato político ocorrido no ano de 1915, época em que o mundo vivenciava a 1ª guerra mundial, o ciclo da borracha estava em seus estertores de morte e a empresa norte-americana Madeira-Mamoré ditava as normas de vida e de morte na região. Naquele dia, “no lugar denominado Porto Velho, Estado Amazonas”, como afirma a “Acta da Sessão Solene da Instalação do município”, tomaram posse o primeiro prefeito, major Fernando Guapindaia de Souza Brejense, e os primeiros vereadores, José Jorge Braga Vieira, Luzitano Barretto, Antonio Sampaio, Manuel Félix de Campos, e José Z. Camargo, como intendentes ou vereadores, e seus respectivos suplentes: José de Pontes,  Achilles Reis, Alderico Castilho, Horácio Bilhar, e Alfredo Clímaco de Carvalho. Estava constituído, portanto, o poder político de um município que nasceu sem ter uma cidade como sede, e sem domínio de suas próprias terras. Prefeito e vereadores, ou seja, superintendente e intendentes, tinham nas mãos uma batata muito, mas muito quente pra descascar.

2. Eram nove horas da manhã de domingo, por isso a nata da sociedade se fez presente à grande novidade representada por um militar, prestigiado, como era o major Guapindaia, e disposto a cumprir e fazer cumprir a lei 757, de 02.10.1914, que criou o município. Presente à solenidade de instalação e posse, estava o senhor Abel Macedo, um dos chefões da Madeira-Mamoré, que representava o poder de fato na região, do Amazonas ao Mato Grosso, na zona de influência da ferrovia. Este era o grande problema para a municipalidade que se instalava. A Lei que criou o município contém apenas três artigos. No artigo 2º a lei  autorizava ao prefeito “entrar em acordo com o governo federal, com a Madeira-Mamoré, e com os proprietários de terras”. E para quê esse acordo? “...Para a fundação imediata da povoação”, diz a Lei. Quer dizer: seria preciso muita negociação para fazer funcionar o novo município amazonense. Tarefa que não ia ser nada fácil para Guapindaia e os vereadores.

3. Então não havia uma povoação fundada? Segundo a lei que criou o município, não. Havia o quê? Uma verdadeira divisão geopolítica. De uma lado, a parte norte-americanizada organizada pela Madeira-Mamoré,  e toda uma estrutura de dominação territorial e cultural montada. De outro, um povoado que crescia desordenadamente, sempre em conflito com o pensamento madeiro-mamoreano do qual estava se tornando dependente. Por isso um major. Um oficial do Exército como prefeito, para poder “entrar em acordo...”, sem ceder muitos anéis para manter os dedos. Guapindaia foi polido em seu discurso de posse. Disse ele, no início de sua fala: “...Era com grande desvanecimento que tinha a honra de, nestas longínquas paragens inaugurar o município de Porto Velho...” “o município será senhor das terras que ocupa..”. Epa! Guapindaia, por certo não sabia das dificuldades existentes e que até hoje fazem de Porto Velho um município sem terras. É. Por certo não sabia da força e do poder da Madeira-Mamoré e dos seringalistas. E disse, lá pelo meio do discurso “que agradecia a gentil solicitude da Madeira-Mamoré”. Ele não sabia que de gentil e solícita a Madeira-Mamoré não tinha nada.

4. E ali, naquela manhã de domingo, 24 de janeiro de 1915, começava a funcionar o município de Porto Velho, do estado do Amazonas, cujo principal motivo para sua criação foi a necessidade de o governo nacionalizar a região, bastante influenciada pelos estrangeirismos da Madeira-Mamoré. Dentre os porto-velhenses que foram convidados para a posse do prefeito Guapindaia, estavam Abdon Jacob Atallah, Alfredo Baptista Leal, Chucre Jacob e Amadeu Pereira da Silva, e o Dr. Joaquim Augusto Tanajura, funcionário do SPI e delegado honorário dos índios do alto Madeira, que, dois anos depois, viria a se tornar o primeiro prefeito eleito de Porto Velho. Portanto, nesse 24 de janeiro, vamos relembrar a posse do primeiro prefeito do município de Porto Velho, criado e instalado sem ter uma cidade como sede. Na época, Porto Velho era apenas um lugar, um núcleo urbano, nem sequer era vila. Era uma “longínqua paragem”, como disse o prefeito Guapindaia.
 
 Francisco Matias - Historiador e analista político

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