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Francisco Matias

O TERRITÓRIO FEDERAL DE RONDÔNIA, 56 ANOS DEPOIS - III



Por Francisco Matias(*)
 

1. O presidente Getúlio Vargas havia instalado o Estado Novo, em 1937, e, com isto, implantou a Ditadura Vargas, que funcionou de 1937 a 1945. Era, portanto, o grande ditador, mas tinha algumas lacunas que não estavam preenchidas neste novo concerto político brasileiro. Uma delas era a situação do general R/l Cândido Mariano da Silva Rondon. Militar que construiu sua carreira longe da caserna, era um desbravador por natureza, um cientista por vocação e um militar por determinação. Mas, em 1943, Rondon era um animal ferido em seus próprios sentimentos. E o culpado era o poderoso coronel Juarez Távora, ministro da Viação e dos Negócios Interiores, que, no início da Revolução de 1930, o classificou como insubordinado, corrupto e esbanjador do dinheiro público. Dizia que Rondon “havia desperdiçado grandes somas de recursos financeiros, materiais e humanos na construção das Linhas e Estações Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas”. Dizia Távora que “aquilo era uma obra para as onças e para os índios”. No desenrolar dos acontecimentos, o general Rondon seria preso no Rio Grande do Sul e, em seguida,  exonerado das Forças Armadas, na patente de general de Divisão. Estava  a um passo para ser promovido a Marechal. O mundo desabou sobre “o homem que tinha na sola dos pés o mais longo caminho já percorrido”. Tudo estava desmoronando. E desmoronou por sobre seu nome, seu prestígio internacional, sua indicação ao prêmio Nobel, seus desbravamentos, sua vida, sua carreira militar.

2.Por isso, onze anos depois, o magoado e aposentado general Rondon não aceitou que o seu nome fosse dado ao Território, por se tratar de uma homenagem vinda exatamente do governo que o humilhou, prendeu e abortou sua carreira militar quando estava para ser promovido a mais alta patente do Exército. Rondon manifestou sua negativa através de telegrama enviado ao militar Aluízio Pinheiro Ferreira, em Porto Velho, que o havia substituído na direção do 3º. Distrito Telegráfico do Mato Grosso e era o presidente da nacionalizada empresa Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. E foi justamente o tenente-coronel Aluízio Pinheiro Ferreira quem levou pessoalmente a negativa do quase homenageado Cândido Mariano da Silva Rondon ao ministro Juarez Távora, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro,DF.

3.Negativas aceitas. Se não podia ser Rondônia, qual nome poderia ter um Território Federal localizado em sete Bacias Hidrográficas? -Guaporé. -Território Federal do Guaporé, indicou Aluízio Pinheiro Ferreira. Nascia o Território com sua designação vinculada à toponímia do rio e do vale do Guaporé, mas com a sede na cidade amazonense de Porto Velho. Prego batido, ponta virada. O Território iria estender-se ao norte, e iria envolver Porto Velho, Lábrea e Canutama, do Amazonas; Alto Madeira, Guajará Mirim e uma porção territorial de Vila Bela, no Mato Grosso. Mas, o mundo iria mudar três anos depois. A ditadura do Estado Novo caiu com o final de 2ª. Guerra Mundial, em 1945. O Território Federal do Guaporé, agora contava apenas com o municípios de Porto Velho e Guajará Mirim e buscava novos rumos políticos e econômicos. No ano de 1946, o Brasil era governado pelo marechal Eurico Gaspar Dutra, o ex-presidente Getúlio Vargas era senador por três Estados e deputado federal por oito. Aluízio Ferreira era o primeiro governador do Território e estava prestes a fazer mais uma jogada de mestre: deixar o governo e eleger-se a deputado federal distrital. Para isso, havia indicado o coronel Joaquim Vicente Rondon como seu substituto no governo. Mais uma vez, prego batido, ponta virada. Joaquim Vicente Rondon era o novo governador e, logo mais seria deputado federal e adversário político do caudilho Aluízio Pinheiro Ferreira.

4.Enquanto isso, o general Rondon estava esquecido em um canto do Brasil, vivendo em um modesto apartamento no Rio de Janeiro, sobrevivendo de sua pensão como general R/1, cercado por cimento, portas e concreto, longe de seus largos espaços nas florestas. Aqui, acolá dava uma entrevista, fazia uma palestra, era lembrado. E, quando isso acontecia, contava sua vida, sua História, mas não falava de sua principal frustração: a patente de General e não a de Marechal, último posto da carreira militar, do qual se julgava merecedor mas, por questões ideológicas, por ser positivista e não comungar com golpes de Estado, havia facilitado a passagem da Coluna Prestes no Mato Grosso, com destino ao sul e à Argentina. Rondon não era nenhum santo neste tipo de questão. Ele havia participado do golpe de Estado liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca que derrubou o Império e instaurou a República. Mas foi só. O positivismo o impedia de participar deste tipo de ação e não seria para atender ao marechal Juarez Távora e ao empresário Assis Chatoubriand que ele iria mudar suas convicções. Por isso, a perseguição do governo Vargas. Por isso sua prisão e afastamento da vida ativa militar. Por isso vivia frustrado com a patente de General. Por merecimento, deveria ser marechal.

 Historiador e analista político(*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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