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Francisco Matias

EM DIA COM A HISTÓRIA: PORTO VELHO, A ORIGEM DO NOME – PARTE I


1. Em razão das contendas sobre a origem da cidade de Porto Velho, esta coluna inicia hoje uma série de artigos que visam contribuir para a elucidação do tema, mas o autor entende ser impossível o encerramento das discussões, até por considerá-las importantes, desde que não caiam na vala comum da desdita e das agressões pessoais, como está ocorrendo entre os historiadores Matias Mendes e Antonio Cândido. Ambos são poetas, escritores e autores rondonienses, e defendem pontos de vista diferentes, o que é natural. Ocorre que o escritor-poeta-historiador Antonio Cândido lançou um livro, com o título Enganos da Nossa História, que pretende ser um livro-revisor e, como tal, não deveria conter “enganos da nossa história”. Matias Mendes, os detectou nas páginas que tratam da trajetória do Marechal Rondon, o que gerou sérios desentendimentos entre os dois. E põe sério nisso. O professor Abnael Machado de Lima e a professora Yedda Borzacov, também encontraram profundos enganos no livro de Antonio Cândido. Não deveria haver, decerto.

 

2. Mas voltemos à origem do nome de Porto Velho. Não sem antes procurarmos entender de qual Porto Velho se fala. Do velho porto amazônico? Do porto do Velho Pimentel? Do barreiro das antas, o ponto velho? Do Porto Velho dos Militares? Do povoado surgido em 1907 com a denominação Porto Velho de Santo Antonio? Da cidade de Porto Velho? Do município de Porto Velho? Da capital do Estado de Rondônia? Afinal, que Porto Velho é esse, ou essa, de que tanto se discute, mas que não se sabe nada? Se misturarmos todas as Porto Velho vamos encontrar mais motivos para novas contendas. Se separarmos, no entanto, se poderá saber direitinho que Porto Velho é essa, ou esse.

 

3. DO PORTO AMAZÔNICO. O nome Porto Velho surgiu, ainda como toponímia ou indicação geográfica, no linguajar popular, por volta de 1872, quando o governo imperial brasileiro visando cumprir parte do Tratado de Ayacucho, firmado em 1867 com a Bolívia, autorizou a construção de um porto de atracação no rio Madeira, próximo ao povoado de Santo Antonio, pertencente à província de Mato Grosso, onde deveria ficar instalada a estação inicial da ferrovia Madeira-Mamoré. Esse porto receberia embarcações de alto e médio calado que transportariam peças, maquinários e operários para a construção da ferrovia, além de servir para o escoamento de produtos destinados ou procedentes da Bolívia, principalmente. Era o compromisso brasileiro diante do acordo de paz celebrado entre os dois países em plena guerra do Paraguai (1865-1870). Esse porto, moderno, recebeu a denominação oficial de “Porto dos Vapores”, e funcionaria como um terminal intermodal ligando o transporte ferroviário ao hidroviário.

 

4. Mas havia na região um porto de abanracamento localizado sete quilômetros à jusante do povoado de Santo Antonio, em terras do município de Humaitá,AM, na fronteira das províncias do Mato Grosso e do Amazonas, no rio Madeira. Esse porto era utilizado por navegadores, possivelmente para abastecimento de lenha ou até mesmo para caçadas. Quem sabe, era utilizado pelos próprios habitantes do povoado de Santo Antonio do Rio Madeira, incluindo-se brasileiros, portugueses e, principalmente bolivianos. Era terra de seringais. O lugar podia ser uma colocação, onde poderia viver  um seringueiro, um mateiro,  ou, em uma projeção mais abrangente, um comerciante qualquer. Claro que poderia não fosse pelo relatório da Comissão Morsing e, posteriormente, pelo da Comissão Pinkas, que se constituiriam em peças importantes para orientar a transferência da estação inicial Madeira, do Mato Grosso para a Amazonas, no começo do século XX. Ambos os relatórios informaram ao imperador D. Pedro II, que “no local onde se localiza o porto de abanracamento, na província do Amazonas, não existe viv’alma”. Logo, apesar de todas as possibilidades regionais, levantadas por pesquisadores locais, não havia um habitante sequer residindo no local. São confirmações de época, verificadas in loco por duas comissões de estudo e relatadas ao governo imperial brasileiro. Nesse caso, se existisse alguém morando no local, deveria ter se mudado ou morrido, se tivesse caído no rio, talvez tenha sido comido pelos candirus, piraíbas ou pirararas, quem sabe. O certo é que, as duas Comissões, uma chefiado pelo engenheiro sueco, naturalizado brasileiro, Carlos Morsing,  de 1883, e a outra, pelo engenheiro brasileiro Julio Pinkas, de 1884, afirmaram, em outras palavras, que o Velho Pimentel não existia, pelo menos naquela época. Talvez em um outro momento como veremos no artigo seguinte.

 

Fonte: Francisco Matias - Historiador e Analista Político  Porto Velho - autor livro"PIONEIROS" - 1998. 

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