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Francisco Matias

AMAZONAS-PORTO VELHO/ RONDON - PARTE 7


Por Francisco Matias(*)

1.A PRISÃO DO GENERAL RONDON – A propósito da passagem do aniversário de nascimento do militar e sertanista mato-grossense Cândido Mariano da Silva Rondon, 05 de maio de 1865, e do dia das Comunicações, 05 de Maio, esta coluna, visando o centenário do município de Porto Velho, irá relatar um fato histórico-biográfico envolvendo a Era Vargas e o marechal Rondon, patrono das comunicações do Brasil e do Estado de Rondônia. Se estivesse vivo, Rondon teria completado no dia 05 de maio corrente 148 anos de idade. Pode-se afirmar que o marechal Rondon é o mais prestigiado personagem da história recente do Brasil. E o mais enigmático. O mais biografado no país e no exterior, e o mais polêmico. Seu nome foi dado a ruas, escolas, praças, municípios e ao estado de Rondônia, o único estado brasileiro que presta homenagem a um personagem da História. Rondon morreu em 1958, aos 92 anos de idade. No entanto, biógrafos e demais pesquisadores ainda debruçam-se sobre livros, fotografias, filmes e documentação primária para tentar compor uma biografia mais completa do marechal Rondon.

2.Em Porto Velho-Rondônia a Assembleia Legislativa realizou, a uns cinco anos, um seminário sobre Rondon, do qual este colunista teve a honra de participar. Um dos assuntos por mim apresentados dizia respeito ao fato de Rondon jamais ter sido marechal em sua carreira militar. Preso por ordens do presidente Getúlio Vargas, logo no início da revolução de 1930, ele teve a carreira abortada e foi para a reserva remunerada na patente de general de divisão, frustrando suas pretensões de galgar o último da hierarquia do Exército, à época, a de marechal. Naquele seminário, dentre as várias autoridades, estudiosos, deputados e demais pessoas interessadas estava um cidadão especialmente convidado por ser nada mais nada menos que neto do marechal Rondon. No final, ele procurou este colunista, parabenizou pela palestra e fez uma pergunta: “você sabe quem deu a voz de prisão ao meu avô?” “Não”, respondi. “O empresário e jornalista Assis Chateaubriand, vestido de oficial do Exército, em Porto Alegre”, disse-me ele. Era o neto de Rondon me fazendo uma revelação histórica! Agradeci pela importante informação, mas, fiquei a meditar. Afinal, qual o interesse de um homem como Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, poderoso e influente na vida política e no jornalismo de norte a sul do país, disfarçar-se de oficial do Exército, viajar do Rio de Janeiro a Porto Alegre somente para prender o general Rondon?

3.Para entender essa parte da biografia do marechal Rondon, e da história do Brasil, vamos retornar ao biênio 1929/1930. Nesse período, o general Cândido Mariano da Silva Rondon estava novamente internado na floresta, melhor dizendo, nos sertões do Brasil. Era o chefe do Serviço de Inspeção de Fronteira do governo federal e, se não estava alheio aos movimentos políticos do país, preferia permanecer longe dos quarteis e distante da conturbada política nacional, estando à frente de seus legionários, inspecionando fronteiras, tentando implantar uma política indigenista e de localização de trabalhadores nacionais, perdidos, ou fugitivos, no meio dos sertões. Foi em uma dessas missões que ele esteve na cidade de Porto Velho-Amazonas, no início de 1930, para visitar o túmulo do major Amarante, seu genro e colaborador leal, que havia morrido de malária no Hospital da Candelária no final de 1929. De Porto Velho-Amazonas Rondon retornou a Guajará Mirim-Mato Grosso e de lá viajou ao sul do país para inspecionar a fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai.

4.Na verdade, ele havia sido “convidado” pelo capitão Juarez Távora para tomar parte na revolução que levaria os “tenentes” de 1922/24 e Getúlio Vargas ao poder, no golpe de estado que derrubou o presidente Washington Luís, em final de mandato, impediu a posse do presidente eleito Julio Prestes e empossou uma junta militar e civil para, ao final, entregar ao poder ao candidato derrotado nas eleições de 1930, Getúlio Dornelles Vargas. Mas, por suas convicções positivistas, Rondon recusou-se a tomar parte nesse golpe e internou-se nas fronteiras, longe daquele movimento. Ledo engano. A estratégia do homem que tinha na sola dos pés o mais longo caminho já percorrido, deu errado e seria desastrosa para sua carreira militar. Ao negar sua adesão à Causa Revolucionária, ele ficou na massa de mira da Central Revolucionária do Rio de Janeiro, notadamente, na mira do poderoso capitão Juarez Távora.

5. Quando eclodiu a revolução de 1930, Rondon ainda estava em viagem do alto Guaporé ao Rio Grande do Sul, para inspecionar a fronteira sul do país. Enquanto isso, seu amigo e leal seguidor na Amazônia, o 1º. Tenente Aluízio Pinheiro Ferreira, um dos “tenentes” da revolta de 1924, não só aderia ao golpe de Estado, como era um dos oficiais mais prestigiados da região Norte. A diferença entre o general Rondon e o 1º tenente Aluízio Pinheiro Ferreira era ideológica. Um, era um oficial superior do Exército avesso a conquistas territoriais e a golpes de estado para derrubar governos legalmente constituídos. O único golpe de Estado que Rondon tomou parte ocorreu em 1889, com a derrubada do império e a instalação da República. O outro, Aluizio Ferreira, ao contrário, sempre foi um militar em busca de aventuras e ligado ao movimento tenentista, antes desse movimento assumir a ideologia comunista. Aluízio Ferreira não era comunista, nem os jovens oficiais Luís Carlos Prestes, Miguel Costa e Juarez Távora, por ocasião das revoltas de acossaram o governo Rodrigues Alves, por exemplo. Nesta nova conjuntura política nacional, o general Rondon iria pagar o preço da carreira com sua prisão, reforma como general e acusação de corrupção e dilapidação do dinheiro público na construção das Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, CLTEMTA, como se verá no próximo artigo AMAZONAS-PORTO VELHO, RONDON.

Historiador e analista político (*)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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