Sábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Dom Moacyr

Respeitar e preservar os direitos do povo!


 
A Liturgia convida-nos a “correr com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa fé, Cristo Jesus” (Hb 12,1-4).

“Como sentinela avançada, o destemido pioneiro”, filho de Rondônia, Padre Rui Moreira Feitosa, despediu-se de nós no dia 11 de agosto, para entrar na casa do Pai e, do coração de Deus, interceder por nós.

As palavras do hino de Rondônia fazem jus a sua memoria, ele que foi o primeiro padre diocesano rondoniense ordenado na Arquidiocese de Porto Velho.

Respeitar e preservar os direitos do povo! - Gente de OpiniãoPadre Rui, fazendo parte do clero autóctone, desde a data de sua ordenação, 25 de abril de 1993, esteve presente e atuante nas paróquias, como pároco ou vigário paroquial; assim, sua presença na Paróquia Sagrada Família, Paróquia Nossa Senhora do Rosário, e tantas outras onde sua solidariedade se fez sentir. Da Comunidade São Cristóvão, a lembrança de sua dedicação; amigo de todos, foi ali que cultivou a sua vocação e iniciou seu ministério laical e pastoral.

Nomeado Vigário Geral e Vigário Episcopal (01/01/2007), foi um hábil colaborador no período de minhas atividades episcopais frente à Arquidiocese e também dos arcebispos: Dom Esmeraldo e Dom Roque. Exercendo suas atividades pastorais no governo da arquidiocese, com competência e em comunhão com os arcebispos, foi responsável pelos atos administrativos da Arquidiocese, substituindo-nos em nossa ausência (Cân 475-481). Graças a sua atuação, quando hospitalizado, consegui recuperar a saúde e acompanhar, através dele, a administração da Arquidiocese.

No tocante à extensão de sua jurisdição e atividade, foi-lhe confiado ainda a Coordenação da Cúria Arquidiocesana. Foi também Juiz no Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Porto Velho. De servidor público escolheu viver sua vocação eclesial dentro da sociedade, deixando-se conquistar por Cristo para se tornar um mensageiro de esperança, de reconciliação, de paz.

O sacerdócio foi sua escolha e ideal de sua existência para poder servir o Povo de Deus a ele confiado pelo próprio Senhor, com inteligência e fé, coragem e amor. Como presbítero tornou-se “ministro de Cristo e administrador dos mistérios de Deus” (1Cor 4,1), ministro da Reconciliação com Deus e com a Igreja.

Em sua trajetória e missão, destacamos ainda sua grande contribuição no Seminário Arquidiocesano Maior João XXIII, como diretor de estudos e na direção espiritual dos futuros presbíteros. Tendo em vista uma formação acadêmica de qualidade para os seminaristas (Filosofia e Teologia), participou dos convênios realizados com a PUC de Campinas e com a Universidade Federal de Rondônia.

Consciente de sua missão viveu a espiritualidade do padre diocesano, numa convivência fraterna com os demais presbíteros da arquidiocese, sempre presente, participando das lutas, dificuldades e alegrias dos padres mais jovens. Da convivência com esse irmão no presbitério, fica a admiração por seu zelo e caridade, dedicação e humildade, discrição no silencio, sua compaixão e luta pela verdade e justiça. Próximo de todos, Padre Rui soube transformar o coração e a vida de muitas pessoas, porque conseguiu fazer-lhes sentir o amor misericordioso do Senhor.

Neste mês vocacional, queremos celebrar a esperança na intercessão deste Amigo que se vai, permanecendo unidos à família de Padre Rui, confiantes na Palavra de Deus que nos conforta, na certeza de que “aqueles que esperam no Senhor renovarão suas forças, criarão asas e como águias correrão, e não se cansarão”(Is 40,31). Possam seu testemunho “de comunhão missionária” (EG 23) e seu legado de virtudes se tornarem fonte de novas vocações sacerdotais: sacerdotes para esta nossa Igreja da Amazônia, a serviço do povo de Deus.

Agosto lembra-nos também a vocação da Família e dos Pais. Família, Igreja doméstica, fonte de amor e perdão. A Semana Nacional da Família que começa neste domingo, 14, segue até dia 21 e tem como tema “Misericórdia na Família: Dom e Missão”. Nas paróquias, você encontra o subsídio “Hora da Família”, com orações, encontros e celebrações em família. Participe!

Hoje, DIA DOS PAIS, quero, de modo especial, saudar todos aqueles que vivem a vocação de ser Pai! Vocês, queridos pais, são sinais da presença e dos desígnios de Deus! Sua família é o lugar, o espaço para o crescimento de seus filhos, onde se aprende os valores que irão levar para o resto de suas vidas. Portanto, “coloquem nas mãos de Deus qualquer preocupação, pois é Ele quem cuida de vocês” (1Pd 5,7).

Abençoando-os, pedimos ao Senhor Deus, pelos pais presentes, pelos que choram a partida de seus filhos, pelos pais que sofrem a exclusão, que foram abandonados pelos filhos, pais desempregados, que perderam suas terras, pais presidiários, enfermos migrantes. Abençoai, Senhor, nossos Pais e aos filhos, cujos Pais estão em Vós, dai-lhes a compreensão de que os pais quando voltam para Deus, nunca vão embora, apenas mudam de lugar!

Diante dos acontecimentos que afetam a vida de nosso povo, o Evangelho de hoje apresenta Jesus como um sinal de contradição. Cristãos, “profundamente arraigados numa situação de bem-estar, tendem a considerar o cristianismo como uma religião que deve preocupar-se em manter a lei e a ordem estabelecida” (Pagola).

Eu vim para lançar fogo sobre a terra: e como gostaria que já estivesse aceso! Devo ser batizado com um batismo, e como estou ansioso até que isso se cumpra! Vocês pensam que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu lhes digo, vim trazer divisão (Lc 12,49-53).

Este texto demonstra que “a missão de Jesus, desde o batismo até a cruz, é anunciar e tornar presente o Reino, entrando em choque com as concepções dominantes na sociedade”. Perante Cristo, é preciso tomar uma decisão e isso provoca divisões até mesmo no relacionamento familiar (BP).

Frente à grave situação político-econômica brasileira, a Comissão Brasileira Justiça e Paz, Organismo vinculado à CNBB e à Comissão Pontifícia Justiça e Paz do Vaticano, publicou uma Nota (09/08) conclamando todos ao diálogo e à busca de soluções democráticas que preservem as conquistas e os direitos do nosso povo:

Democracia é respeito à vontade do povo; as recentes pesquisas expressam com clareza a vontade dos brasileiros diante das perplexidades que afligem a nossa grande Nação. O processo de impeachment contra a presidente democraticamente eleita foi instaurado com argumentos jurídicos que veem sendo refutados por técnicos do Senado Federal, por parecer do Ministério Público Federal e especialistas internacionais, em recente evento realizado no Rio.

Para onde vamos? Estamos diante do conflito de dois projetos de sociedade: os que defendem a continuidade da Presidente eleita, superando o impeachment e os que defendem que o vice-presidente assuma de modo definitivo a direção do Brasil. O que incluem os dois projetos, para além das pessoas que se dispõem a assumi-los? Quais as prioridades na perspectiva da atenção à maioria da população, sobretudo os mais pobres?

O governo interino, assumido pelo vice e sua equipe, anuncia medidas, em várias esferas da vida da população, que apontam para o retrocesso nos direitos arduamente conquistados: educação, saúde, cultura, previdência social, direitos humanos, comunidade negra, populações indígenas, mulheres, a liberdade de expressão e de organização. Mais uma vez na história brasileira a conta da crise é depositada nos ombros dos mais necessitados, das maiorias desprotegidas.

Estamos vivendo momento de angústia e tristeza. Sentimo-nos em sintonia com o Papa Francisco que já tem manifestado preocupação com o processo político brasileiro. No entanto, a Esperança continua nos iluminando e nos levando à ação.

A Comissão Brasileira de Justiça e Paz tem se empenhado em dialogar com os movimentos sociais e os agentes públicos, principalmente os Senadores da República. Sua conclusão é que o processo de impeachment em andamento não responde aos anseios mais profundos do povo brasileiro. No entanto, se empenha na construção de uma saída para a crise, negociada com todos os setores sociais, exigindo que sejam garantidos os direitos humanos e sociais da população, consciente do que nos diz a Palavra de Deus: “Deus ouviu os clamores do seu povo” (Carlos A. Moura, Secretário Executivo da CBJP).

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Palavra de Dom Moacyr Grechi – Arcebispo Emérito de Porto Velho

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Páscoa do povo brasileiro - Por Dom Moacyr Grechi

Hoje reafirmamos a nossa fé na ressurreição de Cristo; somos uma Igreja Pascal. Na oração do Credo, proclamamos a ressurreição dos mortos e a vida ete

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

Verdade libertadora! Por Dom Moacyr Grechi

  A Igreja, convocada a fortalecer o povo de Deus na atual conjuntura, é chamada a estar ao lado daqueles “que perderam a esperança e a confiança no B

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

Lugar seguro para viver! - Por Dom Moacyr Grechi

  Diante do aumento da violência agrária que atinge trabalhadores rurais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, defensores de di

Gente de Opinião Sábado, 20 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)