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Dom Moacyr

Pentecostes: Comunidades de rosto humano!


Pentecostes: Comunidades de rosto humano! - Gente de Opinião
 Palavra de Dom Moacyr Grechi
Arcebispo Emérito de Porto Velho
Pentecostes: Comunidades de rosto humano!

Na conclusão da Semana de Oração pela Unidade Cristã (13-20/05) o convite renovado para “testemunharmos nossa esperança” e “cooperação no campo social” (UR 12). A unidade dos cristãos, seguidores de Jesus e discípulos missionários é unidade na “comunhão no Espírito Santo” (2Cor 13,13; DAp 155).

“A mão de Deus nos une e liberta” é o tema da Semana e da Celebração Festa de Pentecostes; inspirado no hino de Moisés e Miriam, que canta a vitória sobre as forças que ameaçam o seu povo e proclama a grandeza de Javé que redime seu povo para a liberdade (Ex 15,1-21).  

A unidade é a grande missão da Igreja e exigência essencial da nossa fé. O Pentecostes aconteceu no Cenáculo e acontece na Arquidiocese de Porto Velho que recebe neste domingo, todas as paroquias e rede de comunidades, os membros das Igrejas que formam o CONIC, as pastorais, organismos e movimentos, as famílias, jovens e crianças, às 17h, no Campo da 17ª Brigada, para celebrar o Espírito Santo, que “renova a face da terra” e também da Igreja.

 A unidade só pode ser acolhida por quem decide pôr-se a caminho rumo à meta que hoje poderia parecer bastante distante (Papa Francisco). O Espírito Santo está presente na Igreja como sempre, mostrando os caminhos de seguimento de Jesus. Jesus não deixou nenhum programa de evangelização, mas prometeu que o Espírito estaria presente para mostrar de que maneira podemos atualizar a vida dele nas mais diversas circunstâncias da história (Conblin; Jo 14,26;16,13-15).

A Festa de Pentecostes acontece no Ano do Laicato, no qual lembramos que os leigos são “o sal da terra e a luz do mundo” (Mt 5,13-14); o sal da paróquia e a luz da Igreja (F.Orofino). Colocamo-nos no rumo dado à caminhada da Igreja a partir do Vaticano II, que situa os leigos como sujeitos da evangelização, numa Igreja em saída, vivificadores do mundo, testemunhas da ressurreição e da vida do Senhor Jesus, um sinal do Deus vivo (LG 38).

Aos cristãos leigos que vivem sua fé na dimensão pessoal, eclesial e política nas Comunidades Eclesiais de Base, a celebração do Espírito Santo é sempre um novo começo a partir da presença viva de Jesus no meio de nós, pois, somente “Ele ocupa o centro da Igreja” (Pagola), impulsiona a comunhão e renova nossos corações.
    
Nossos leigos já expressavam na Síntese das contribuições da Igreja à Conferencia de Aparecida (Doc.Participação, cap V) a necessidade de insistir mais na vida comunitária, em comunidades de rosto humano.

Uma Igreja viva e profética, que tem nas CEBs um novo modo de ser Igreja e um meio privilegiado de articulação entre fé e vida, cristianismo e cidadania. Comunidade eclesial como o lugar do encontro e da vivência da fé cristã; ministerial, cada qual contribuindo com seu dom. Paróquias: rede de comunidades que partilham o poder em inúmeras instâncias, do conselho comunitário até a assembleia diocesana. CEBs que tem como marca a Comunhão; celebram a vida do povo; valorizam e evangelizam a partir da religiosidade popular; com a base na Palavra de Deus e comprometidas com o povo.

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Fé encarnada no itinerário da pessoa que crê:

O testemunho de um leigo e sua comunidade, unidos na fé, no coração da Amazônia, chamou minha atenção neste inicio de ano e gostaria de relatá-lo, pois, nossas Comunidades Eclesiais de Base são Igreja de Jesus de Nazaré que nasce do Povo pelo Espírito de Deus. Com Papa Francisco reafirmamos: o Povo é sujeito e a Igreja é o Povo de Deus a caminho na história, com alegrias e dores; sentir com a Igreja é para mim, pois, estar neste Povo.

Antônio B. dos Santos, coordenador de CEBs ribeirinhas, na Prelazia de Lábrea, motivado pela celebração do 14º Intereclesial de Londrina, participou da 1ª Reunião Ampliada das CEBs de 2018, do Regional Noroeste, em Porto Velho, de 20 a 22 de abril.    

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Diante das dificuldades, teve vontade de desistir, pois na estação das chuvas até de avião fica difícil se locomover e o custo é muito alto. Em linha reta são 214,9 km de Lábrea a Humaitá e 204,18 km de Humaita/AM a Porto Velho/RO. De moto, Antônio e seu filho, Bruno, percorreram 230 km de estrada sinuosa e difícil, sendo 183 km de chão e muita lama. Correram risco como ele mesmo descreve: - Gastei quase 12 horas de viagem, fora as travessias nas balsas. Foi difícil chegar a Humaitá, cada atoleiro era uma incerteza e insegurança. A BR é isolada, tem animais, até onça eu vi, foi uma experiência única. Dormi em Humaitá na noite de 19 e no dia 20 seguimos de ônibus para Porto Velho, após 04h de viagem chegamos a Porto Velho, sabendo que na volta repetiríamos tudo, por amor as CEBs e a Missão que nos conduziram para essa aventura missionária.

Mas para este corajoso amazônida, - pertencer e viver numa Comunidade Eclesial de Base é viver o chamado de Jesus Cristo na Igreja, é olhar para o Cristo e tê-lo como exemplo; fazer parte das CEBs é viver a prática da fé, não é só razão, é viver como os apóstolos nas primeiras comunidades. E o fato das comunidades ter os pés no chão e assumir a realidade política social me faz crer no mundo melhor para mim e para os outros irmãos. Em Lábrea, somos uma Igreja que luta e a luta é estar do lado dos pobres e excluídos. É fazer diferente, com consciência e ter sempre o Cristo na frente nos guiando.

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À pergunta se valeu a pena ter participado do encontro das CEBs, Antônio respondeu: - Enfrentei esse desafio de ir de motocicleta de Lábrea a Humaitá, numa BR perigosa e complicada, mas valeu a pena ter participado da Ampliada, o envolvimento com o regional e com os articuladores de outras dioceses me ajuda no amadurecimento da fé e vivência cristã, é sempre um aprendizado novo, me motiva a ser mais ainda uma Igreja em saída. Cada encontro é uma experiência. Nenhum encontro é igual ao outro, cada encontro é um crescimento, a gente chega em casa ou na comunidade com o coração mais ativo. E percebo que ao passar dos anos, nós articuladores estamos melhores: discutimos, planejamos e estamos interligados e unidos.

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Para Antônio, viver o cotidiano das CEBs demonstra como essas pequeninas comunidades ribeirinhas tão distantes das grandes cidades celebram sua fé nos momentos alegres e difíceis. – São muitas as dificuldades nas comunidades, muitas coisas ruins acontecem, muitas desavenças, mas nós nas comunidades, com sabedoria e fé vamos enfrentando e superando as barreiras. As Santas Missões Populares nas CEBS estão nos ajudando a unir as comunidades, a formação nos ensina a sair do comodismo, a nos darmos as mãos para crescer juntos como Igreja missionária, assumindo o desafio de ser Igreja que arrisca mesmo. Não queremos viver isolados e egoístas, mas queremos ser uma Igreja corajosa, como pede o papa e, juntos com os irmãos leigos e leigas, padres e religiosos e o nosso bispo estamos nessa de mãos dadas e cada um e uma dando força para o outro.

Mas esse leigo de fé, que em sua sofrida viagem pela floresta, rumo ao Encontro das CEBs, acreditou em sua missão: - Rezei muito e pedi a Deus para me ajudar durante o trajeto. Pensei em desistir. Pedi oração da minha paróquia, prelazia e da minha família. Cai algumas vezes na lama, mas a força da Oração e da Fé me ajudou. Como sempre, tive o apoio da minha comunidade e da diocese.  Dom Santiago e meu Pároco me animaram a participar da Ampliada. Tive ajuda também do meu Regional. Também gastei do meu bolso, mas isso não importa, o que importa mesmo é o Reino de Deus agora e aqui no meio do meu povo. Estamos na batalha independente do recurso, somos motivados pelos nossos pastores a arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa. Não é fácil um leigo missionário, principalmente quando você trabalha e precisa viajar para visitar as comunidades ou participar de encontros longe da sua cidade; você enfrenta resistências e incompreensões, mas acredito que sempre conseguirei, tendo Deus na minha frente e me dando sabedoria. A formação e partilha da vida em grupo e principalmente num espaço como a Ampliada Regional das CEBs, me ajuda na comunidade e no meu trabalho.

Que a Solenidade de Pentecostes nos permita discernir os sinais do Espírito que continua guiando os passos da Igreja, com seu rosto missionário, “para que anunciemos com alegria e entusiasmo a Boa-nova do amor de Deus em Cristo, como o que enche de sentido o coração do ser humano, também nesta vida” (Clodovis Boff).

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